HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
"As estações têm a ver com o eixo
da Terra e não com o clima"
O
especialista em alterações climáticas e antigo diretor do Instituto de
Meteorologia de Portugal (1987-1988) alerta para os fenómenos extremos -
ondas de calor e chuvas intensas em curtos períodos de tempo - que têm
afetado o clima, uma consequência das alterações climáticas. Filipe
Duarte Santos é atualmente presidente do Conselho Nacional do Ambiente.
Portugal tem um tempo fácil de prever?
O
tempo é diferente do clima. O tempo é o estado instantâneo da atmosfera
e o clima é a média e variabilidade das variáveis meteorológicas
(temperatura, humidade do ar, precipitação, vento, radiação solar)
durante um intervalo de tempo, que são de 30 anos. Prever o tempo hoje
em dia não é difícil, porque é feita com base em modelos climáticos da
atmosfera, com modelos matemáticos e a memória dos computadores.
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A previsão perde fiabilidade a partir de 7 dias. Portugal não tem capacidade, nem meios técnicos e humanos, para ter esses grandes programas informáticos e utiliza os modelos que correm nos centros especializados, como o centro europeu de previsão do tempo a médio prazo. Somos membros e usamos esses modelos globais. Agora quando há falhas isso tem a ver com o facto de que há sempre uma certa incerteza, quando se fala de tempo.
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A previsão perde fiabilidade a partir de 7 dias. Portugal não tem capacidade, nem meios técnicos e humanos, para ter esses grandes programas informáticos e utiliza os modelos que correm nos centros especializados, como o centro europeu de previsão do tempo a médio prazo. Somos membros e usamos esses modelos globais. Agora quando há falhas isso tem a ver com o facto de que há sempre uma certa incerteza, quando se fala de tempo.
Já há impactos das alterações climáticas no nosso clima?
Sim, quando falamos em clima estamos a
falar de períodos de 30 anos e uma comparação significa um total dos
últimos 60 anos. Aí houve uma mudança climática, não é só em Portugal
mas em todo o mundo. A temperatura média global tem estado a aumentar e
já aumentou 1,1 graus Celsius desde o período pré-industrial. Isso
reflete-se em ondas de calor, que afetam sobretudo a população mais
idosa. A Europa também tem menos precipitação anual (o valor de
precipitação acumulado durante o ano). Há uma maior frequência dos
fenómenos extremos - ondas de calor, quando a precipitação se dá com
grande intensidade num intervalo de tempo curto, secas - que estão mais
intensos. Já a precipitação média tem estado a diminuir no nosso país.
O que se pode esperar nos próximos anos?
É
de esperar que o clima se altere, com tendência a agravar-se nos
próximos anos. Só deixava de haver essa tendência se conseguíssemos
emitir menos quantidades de gases com efeitos estufa. A sua concentração
está aumentar porque se faz a queima dos combustíveis fósseis e isso
aumenta o efeito estufa natural que existe, daí a tendência para o
aumento da temperatura e dos fenómenos extremos. Tudo isso é muito
provável que se intensifique no futuro.
Como vai ser este verão?
Não
é possível saber. Têm sido feitos esforços no sentido de se prever, por
exemplo, se o próximo outono vai ser chuvoso ou não, frio ou quente. Há
um grande esforço científico, mas por enquanto não há sucesso.
E as diferenças entre as estações. Vão se notar menos?
As
pessoas dizem isso com muita frequência, mas a razão porque há estações
do ano tem a ver com o eixo da Terra estar inclinado. Se o eixo
estivesse na vertical, assistia-se aquilo que se observa nas regiões
tropicais, como a cidade Manaus, ou Singapura onde não há praticamente
estações. Essa é apenas uma ideia que as pessoas têm e não tem a ver com
o clima.
* Diz quem sabe, aprendamos!
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