HOJE NO
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Durão Barroso.
“Hollande foi o pior erro de casting
da história de França”
O antigo presidente da Comissão Europeia falava à
margem do Estoril Political Forum. “Merkel não confiava no compromisso
da França de Hollande”, revelou Durão
.
Em extremos opostos: é assim que José Manuel
Durão Barroso vê a transição que as eleições presidenciais francesas
deste ano representaram. Para o ex--primeiro-ministro português e
ex-presidente da Comissão Europeia, François Hollande foi o “pior erro
de casting da história de França” e o “pior governo de sempre”, citando
depois as estatísticas que comprovavam a impopularidade histórica de
Hollande. Durão Barroso revelou mesmo que a chanceler alemã, Angela
Merkel, “não confiava verdadeiramente no compromisso da França de
Hollande para o aprofundamento das instituições europeias”.
Emmanuel Macron, por outro lado, mereceu largo elogio de Durão, que
falava na abertura de uma conferência no Estoril Political Forum, um
encontro anual de estudos políticos organizado pela Universidade
Católica. Para Durão Barroso, Macron é o “presidente mais europeu de
sempre” na França, o que impressiona tendo em conta “a sua breve
experiência”. “Tem um programa forte e europeu”, elogiou o homem que
liderou a Comissão Europeia durante uma década. Durão considera que com o
novo presidente francês, contrariamente ao que sucedeu com Hollande, “a
França pode agora fazer parte da solução”.
“Não há União Europeia sem a França e não se faz nada na Europa sem a
França”, esclareceu o homem que agora dirige o Centro de Estudos
Europeus do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica. “A
geopolítica ainda interessa”, apontou também, lembrando que o território
francês é de larga extensão “de norte a sul”, o que o torna central
para os destinos do Velho Continente. “Mais progresso na União Europeia
não depende da França, mas precisa da França”, descreveu o já veterano
europeísta.
O tema da conferência em que Durão Barroso falava correspondia a uma
pergunta: “Há um espetro que assombra a Europa?” Durão diz que sim.
“Será o populismo, será a desintegração?”, ponderou. “Vamos dizer que é o
populismo”, prefere, naturalmente, o assumido defensor da construção
europeia. “Existe, de facto, essa ameaça. Mas pode vencer e destruir o
projeto europeu? Pode, mas não vai”, responde-se. “Existe uma ameaça que
é séria, mas acredito que será ultrapassada”, prossegue, no mesmo limbo
entre realismo e otimismo sobre a Europa de hoje.
“O ano passado estávamos desapontados com o Brexit”, recordou, sobre o
encontro de 2016, em que também discursou. Mas o resultado é que
integração “aprofundou”. Segundo Durão Barroso, as crises ou os
problemas que vão sucedendo tiveram como consequência o aprofundamento
da construção europeia – ou seja, apesar do crescente euroceticismo na
última década, Durão Barroso defende que o ultrapassar dos problemas vem
servindo de motor para o europeísmo. “Eu sei que isto vai contra o
glamour intelectual do pessimismo”, brincou Durão, também ele professor
universitário, numa sala recheada de académicos. Mas “a Comissão
Europeia e o Banco Central Europeu estão mais fortes do que antes da
crise financeira”, exemplificou aquele que presidiu à Comissão durante
os piores tempos depois dessa crise.
Barroso associou o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia,
às “mais devastadoras consequências”, não deixando de recordar que o
partido que mais defendeu o Brexit, o UKIP, não elegeu qualquer
parlamentar nas últimas eleições nacionais britânicas e o facto de “os
partidos do establishment serem ambos contra o Brexit”, o Partido
Conservador, de Theresa May, e o Partido Trabalhista, de Jeremy Corbyn.
No que diz respeito à emergência do populismo do outro lado do oceano
Atlântico, considerou que “a vitória do presidente Trump foi a vitória
de algo novo contra as tradições democráticas ou republicanas” –
portanto, aí já não tão consensual para os dois partidos do
establishment.
“O Brexit mostra que estamos cá porque queremos estar na União
Europeia, que a Europa é uma união de países livres e que nenhum é
obrigado a ser membro”, torna a exemplificar.
Apesar de reconhecer que a emergência de partidos xenófobos em França
e na Holanda tornou “possível o que antes era impossível”, lembrou que
eles saíram derrotados nos atos eleitorais realizados este ano e que os
antieuropeus que chegaram ao poder “pela primeira vez desde 1945” – o
Syriza, na Grécia – acabaram “por aceitar tudo o que antes rejeitaram
porque a Europa é forte”, ao contrário do que se viu nos Estados Unidos
da América e no Reino Unido, “onde foi o anti-establishment que venceu”.
“Os gregos continuam a apoiar a Europa por causa disso e apesar das
dificuldades”, salientou. Para Durão Barroso, a União Europeia “é um
projeto de unidade transnacional e aberto aos outros, de justiça social e
responsabilidade financeira”.
Acerca da crise migratória que assola a Europa nos tempos mais
recentes, elogia novamente a posição da chanceler germânica, apesar do
“custo político interno” depois verificado. “Angela Merkel tinha mesmo
razão quando disse ‘welcome’ aos refugiados. E agora pensem ao
contrário”, sugere. “O que teria acontecido se ela tivesse dito o
oposto?” De um ponto de vista mais abrangente e global, pede que se
pense “não só na economia, mas na cultura política identitária” da
Europa, onde não se veem apelos “ao nacionalismo e ao protecionismo”
como na “Rússia, na Turquia” ou até na “China ou no Japão”.
“Reparem que é sempre um apelo para ir para trás: ‘Make America great
again’, na América, ‘Let’s get back control’, no Brexit. É sempre no
passado, na extrema-esquerda e na extrema-direita – que até já podem
trocar de nomes.” Essas tendências de fechamento e de “éramos melhores
antes” são, para Barroso, opostas “ao progresso da globalização”. Mas,
em termos militares, deixa um aviso sobre a nova presidência
norte--americana: “O presidente americano (Donald Trump) não está a
fazer bluff na Coreia do Norte. Podemos ter conflito.”
E o que fazer como respostas? Durão Barroso diz que o europeísmo “não
é aqui uma questão de ideologia, mas uma questão de Realpolitik”. “O
maior país europeu não está, sozinho, ao nível da China ou dos Estados
Unidos da América; em termos militares, nem está ao nível da Rússia”, o
que motiva pragmaticamente o projeto europeu a mais integração para mais
força. “Se queremos projetar poder e defender os nossos interesses,
temos de permanecer juntos”, aponta, em jeito de conselho e conclusão.
* De erros de casting estamos conversados se apresentarmos o José Barroso como um inqualificável desastre. Portugal tem vários e não são poucos.
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