HOJE NO
"OBSERVADOR"
Demorou mas valeu a pena:
Dylan falou como Nobel. O que disse
no discurso de aceitação?
Sete meses após ter sido distinguido com o Nobel da Literatura, Bob Dylan entregou o discurso de aceitação e já pode receber o prémio de 820 mil euros. Fala de "Moby Dick", "Odisseia" e Buddy Holly.
“Quando recebi o Prémio Nobel da Literatura, fiquei a pensar
como é que as minhas músicas podem estar relacionadas com literatura.
Quis refletir sobre isso e ver qual era a ligação. É isso que vou
tentar articular para vocês. Espero que valha a pena e que seja
significativo”.
.
Foi assim que Bob Dylan começou o longo depoimento de
aceitação do Prémio Nobel da Literatura com que foi distinguido há sete
meses. Demorou, mas valeu a pena: o discurso é música para os ouvidos de
qualquer um.
“Se tiver de ir ao início de tudo, terei de começar com Buddy Holly. O
Buddy morreu quando eu tinha 18 anos e ele 22. Desde o primeiro momento
que o ouvi, senti-me familiarizado. Senti-me ligado, como se fosse um
irmão mais velho. Até pensei que era parecido comigo. Buddy tocou a
música que gostava – a música com a qual cresci. Country western, rock
and roll, rythm and blues.
Três géneros, uma marca. E escrevia músicas,
músicas que tinham melodias lindas e versos imaginativos. E era um
grande cantor. Era um protótipo. Era tudo o que não era e gostava de ser. Só o vi uma vez, e poucos dias antes de partir. Viajei milhares de quilómetros para vê-lo e valeu a pena”, recordou.
Falou de Moby Dick, A Oeste Nada de Novo e da Odisseia.
Recordou Dom Quixote e Robinson Crusoe. “Deram-me uma certa perspetiva
de encarar a vida, um conhecimento sobre a natureza humana e uma medida
para todas as coisas. Escrevi sobre todo o tipo de coisas nas
minhas canções. E não me vou preocupar com isso, com o que significam.
As canções não são como literatura. Foram feitas para serem cantadas e
não lidas”, defendeu.
Acrescente-se estes foram também 27 minutos que valeram cerca de 820 mil euros: o músico tinha até dia 10 de junho para entregar o discurso de aceitação e receber o prémio com que foi distinguido “por ter criado novas formas de expressão poéticas no quadro da grande tradição da música americana”.
* Um exemplo de cultura e longevidade, um senhor.
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