‘One day you are in’
A nossa localização privilegiada e zona económica exclusiva, da qual não tiramos pleno proveito, permite-nos funcionar como pólo de circulação de mercadorias entre África, América e Europa.
(Após 18 meses, o meu pai fez findar o muro de silêncio em que se
fechou quanto a tudo o que tinha a ver com o partido onde militou mais
de 40 anos. Nesse lapso de tempo, e atrevo-me a dizer, também após a
entrada no ar do site emnomedaverdade.com, o meu pai foi alvo de ataques
soezes e desqualificados, numa espiral de loucura cujo único objectivo
parece ser a vã tentativa de rescrever a história. Não farei o elogio do
meu familiar mais directo. Basto-me com a verdade, aquela que a
generosidade do seu carácter não lhe permitiu ver antes.)
Sob a égide de um novo ciclo económico e com um ritmo optimista
quase a tender para o eufórico, Portugal congratula-se com os sinais de
inversão da situação de crise em que estivemos mergulhados, ao som da
(lindíssima) canção que nos fez ganhar pela primeira vez a Eurovisão.
Não se nega que o ar está mais respirável mas tal não equivale a
dizer-se que o pior passou. Não passou. Os seus sinais tornaram-se foi
menos evidentes, escondidos que estão, como os imóveis degradados, na
fachada do turismo. Estamos in.
Seria mais fácil limitar-me ao elogio fácil do nosso país, até
porque, a par com a oferta de cultura, somos gente de fácil trato e
melhor comida. Sucede que, fazer assentar toda a economia num fluxo de
turistas, cujos critérios de decisão não obedecem a uma estrita
racionalidade, implica jogar na roleta russa e acreditar que o azar
nunca nos acerta: como se costuma dizer num programa televisivo, “one
day you are in and the next day, you’re out”.
A aposta terá de assentar também noutros sectores, porque
continuamos extremamente dependentes das importações para fazer face ao
quotidiano dos mortais que não se encontram de mera passagem. E é aqui
que me parece que estamos a falhar, isto é, na afectação dos recursos
que nos chegam a uma economia sustentável para o futuro.
O nosso clima é bom, não apenas para o turismo de praia, mas
também pela sua constante térmica, o que pode tornar um lugar
apetecível, por exemplo, para a indústria. Podemos (e devemos) ser
produtores de excelência. A nossa localização privilegiada e zona
económica exclusiva, da qual não tiramos pleno proveito, permite-nos
funcionar como pólo de circulação de mercadorias entre África, América e
Europa.
Reduzir-nos a mero receptáculo de turistas tem como
consequência, não apenas o desincentivo a outros sectores que nos farão
falta no futuro, como à desertificação da nossa própria identidade e que
é hoje o que faz os estrangeiros interessarem-se por nós. Tudo sob pena
de um dia acabarmos a sentir na pele o verso que Palma imortalizou:
“adorava estar in mas estou a sentir-me out”.
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
02/06/17
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