Dona Branca e o Zé Povinho
A solução anunciada pelo primeiro-ministro para o Novo Banco
procura, em simultâneo, mostrar que este governo soube agir onde o
anterior se atrapalhou, e conseguiu uma saída limpa para os
contribuintes portugueses.
António Costa fez questão de ser ele próprio a dar a boa nova aos
habitantes do retângulo e ilhas conexas: a venda do Novo Banco não terá
“impacto direto ou indireto nas contas públicas nem novos encargos para
os contribuintes”. Será a banca, através do fundo de resolução bancária,
a arcar com eventuais responsabilidades futuras e nunca o Zé Povinho, o
Zé que paga os impostos que os governantes têm vindo a injetar aos
milhões na falida e descredibilizada banca portuguesa.
Aplaudimos e assobiamos? Marcamos a data como futuro feriado
nacional? Ou tomamos o remédio agora anunciado com as devidas cautelas e
suspeitosos de que possa ser um mero placebo financeiro?
A banca portuguesa está fragilizada, a maioria dos bancos teve que
lançar SOS ao Estado para poder sobreviver. Correram-se riscos
demasiados, inventaram-se produtos financeiros tão complexos que só
mesmo quem os desenhou os compreendia; venderam-se esses e outros
produtos com suporte num marketing agressivo a prometer ganhos
fantásticos esquecendo-se de informar os menos conhecedores dos enormes
riscos que corriam. A banca portuguesa parecia, a dada altura, uma
espécie de Dona Branca legalizada e agora é o que se sabe: lesados no
Banif e BES, dúvidas sobre alguns dos principais bancos portugueses, e
uma imagem externa pouco positiva para o sistema bancário português. E o
problema é que sem uma banca forte e ágil não há economia que
sobreviva.
Contudo, essa banca forte e dinâmica não pode ser a mesma banca
suspeita de práticas à Dona Branca que deixam o Zé Povinho com as
algibeiras ainda mais vazias. A banca deve ser tão forte quanto
transparente.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
03/04/17
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