HOJE NO
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O que diz a ciência?
Na guerra do leite há estudos
para todos os gostos
Há anos que são destacados os benefícios ligados
ao consumo deste produto. Por ser uma fonte de cálcio e de proteínas e
um aliado poderoso no combate à osteoporose. Mas há quem diga que todos
os estudos a favor são pagos a peso de ouro pelas empresas do setor e
garanta que só as pesquisas favoráveis à sua tese são rigorosas e
honestas. É o mundo em que vivemos.
Como em quase todos os casos de estudos sobre
se devemos comer isto ou aquilo, se faz bem ou não, se os benefícios se
sobrepõem ou não a tudo o resto, multiplicam--se análises contra e a
favor do consumo de leite.
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Durante anos abundaram anúncios que associavam o consumo de leite a
uma vida melhor e cultivavam a ideia de que este produto tinha os mais
variados benefícios. E apenas isto: benefícios.
Durante décadas foram
apresentados múltiplos estudos, por organizações de nutrição, acerca do
bem que fazia ingerir leite regularmente. No entanto, embora o Comité
Nacional de Laticínios norte-americano tenha garantido que se tratava de
estudos feitos de forma autónoma, muitos questionaram desde cedo a
veracidade da garantia dada.
A polémica e as dúvidas ganharam ainda mais
dimensão depois de uma pesquisa mostrar que mais de um terço dos
estudos sobre leite, divulgados entre 1999 e 2003, tinham recebido
financiamento da indústria. Mais: os estudos que haviam sido
inteiramente financiados por empresas de laticínios mostravam sempre
conclusões que favoreciam todos os interesses das empresas que tinham
estado envolvidas nos pagamentos.
A imprensa norte-americana chegou
mesmo a referir que algumas das grandes empresas de laticínios gastam
milhões todos os anos em verbas dadas a associações de nutrição e ainda a
alguns políticos.
Mas, no fim de contas, o leite faz mal?
Continua a
ser uma das perguntas para um milhão de euros, até porque há respostas
para todos os gostos. A única certeza que existe, no entanto, é que, nos
últimos anos, os benefícios frequentemente associados ao leite
começaram a ser cada vez mais questionados.
Mas a história mostra que a
dúvida que afeta cada vez mais a população mundial, e que já levou
muitos a mudarem os seus hábitos, já tinha sido levantada por um
investigador da Universidade de Harvard há muitos anos atrás. Mark
Hegsted começou a colocar várias interrogações sobre este assunto ainda
em 1951.
Com o objetivo de perceber se era necessário consumir tanto leite
como era avançado por muitos, Mark decidiu fazer uma experiência e
analisou quais eram os níveis de cálcio de um grupo de prisioneiros do
Peru. Apesar de ter sido baseado numa amostra reduzida e composta apenas
por elementos do sexo masculino, o nutricionista acabou por concluir
que, afinal, não era necessário o consumo de leite que se tinha
enraizado na cultura do país.
Mas falamos de um estudo que quase não teve impacto, apesar de as
conclusões serem controversas. O governo continuou a recomendar o
consumo de leite e a população continuou a consumir.
Mas o passar dos anos foi trazendo novos estudos, a maioria a alertar
para a possibilidade de o leite não ter tantos efeitos positivos como
as pessoas continuavam a pensar que tinha. Um dos investigadores que
mais trabalhos desenvolveram na área acabou por ser Walter Willett,
também ele de Harvard.
Numa das experiências que fez acabou mesmo por afirmar que quem
consumia mais leite estava mais exposto à possibilidade de vir a ter
problemas de saúde do que quem optava por um consumo muito mais
moderado.
Os anos passaram, sempre com múltiplos estudos a favor e contra. Em
2014, a Universidade de Uppsala, na Suécia, voltava ao tema e dava
destaque a um trabalho que revelava que beber três copos por dia não só
não ajudava a fortalecer os ossos como aumentava o risco de morrer mais
cedo. No caso dos homens, um outro estudo revelou, por exemplo, que os
homens que, durante um teste, tinham bebido dois copos por dia,
apresentaram o dobro do risco de desenvolver cancro da próstata.
Mais recentemente, já em 2015, a polémica voltava a instalar-se
depois de aparecerem alguns cientistas a sublinhar a importância de
parar o consumo de leite. Na publicação “Medical Association
Pediatrics”, o cientista David Ludwig sublinhou várias vezes que os
humanos não têm necessidade nutricional de consumir leite de origem
animal, tentando destronar os argumentos de que o leite é essencial como
fonte de cálcio, essencial na formação dos ossos.
Mas nem só o argumento do cálcio é usado por quem defende o consumo
deste produto, que entrou na alimentação humana há mais de 8 mil anos.
Muitos sublinham a riqueza em carboidratos, vitamina B12 e potássio,
além de ser uma importante fonte de proteínas. A tentar pressionar a
balança para o lado dos argumentos a favor, vários estudos sublinharam
ainda que a prova de que o leite é essencial é o facto de ter de ser
usado para a sobrevivência dos bebés que, por um motivo ou por outro,
não podem beber leite materno. A somar a isto vem ainda a importante
prevenção da osteoporose.
Mas também aqui voltam a surgir diferentes correntes de pensamento,
porque o argumento da alimentação dos bebés serve para que muitos
sublinhem o facto de o leite materno ser o único adequado para os
humanos. Outro argumento é o facto de existir um grande número de
pessoas que mostram ter dificuldade em digerir o produto.
Seja como for, a maioria dos autores dos vários estudos que já foram
publicados acabaram por pedir alguma cautela na interpretação das
conclusões que têm vindo a ser apresentadas, tanto contra como a favor.
Também não falta quem defenda que são necessários mais estudos para
aprofundar o assunto.
* Nós preferimos não beber leite, não conhecemos nenhum lobby que faça insistente campanha contra o consumo de leite, pelo contrário existem muitos a favor que chegam a comprar jornalistas e políticos.
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