Patrões lançam ofensiva
contra Passos Coelho
(e promovem Rui Rio)
António Saraiva, Presidente da CIP, veio defender a reestruturação da dívida nacional – colando-se politicamente ao PCP e ao Bloco de Esquerda
1.Foi a bomba da semana, por entre os dados sucessivos que confirmam o
descrédito absoluto das nossas instituições políticas (o envolvimento
de Mário Centeno, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa na campanha
infame de linchamento mediático de António Domingues): António Saraiva,
Presidente da CIP (Confederação Industrial de Portugal), vulgarmente
conhecido como “líder dos patrões”, veio defender a reestruturação da
dívida nacional – colando-se politicamente ao PCP e ao Bloco de
Esquerda.
2.A reacção mediática e nos meios políticos foi, a um tempo, de
estranheza e de júbilo – júbilo que até levou Jerónimo de Sousa a
aproveitar as declarações de António Saraiva para afirmar que cada vez
mais pessoas se juntam à sua causa de “não pagar a dívida pública aos
abutres dos credores”.
2.1. Importa, assim, formular a questão magna: o que levou António
Saraiva – na sua qualidade de líder dos patrões – a assumir esta posição
política tida como uma reivindicação da extrema-esquerda?
3.Há três explicações aventáveis. A saber:
1)António Saraiva considera que a economia portuguesa está a crescer,
Portugal goza de uma reputação positiva nos mercados internacionais e a
República Portuguesa, com a sua actual maioria política informal,
confere credibilidade e confiança – logo, passado o período mais
complexo, é altura de se discutir o futuro, iniciando-se a discussão
sobre a sustentabilidade da nossa dívida.
Ora, esta explicação é logicamente inviável: António Saraiva tem sido
um crítico da política económica do Governo e, como empresário de
sucesso, sabe melhor do que ninguém que a geringonça suscita
inquietações e desconfianças várias dos investidores, afasta o
investimento estrangeiro e justifica o controlo permanente, embora
discreto, das instituições europeias e dos nossos parceiros europeus em
relação às medidas económico-financeiras tomadas pelo Governo de António
Costa.
Além disso, esta explicação colidiria com as declarações que António
Saraiva e os empresários portugueses têm feito sobre o estado da
economia nacional.
Então, há uma semana a economia estava exangue – e agora, passada uma
semana, a economia já está em aceleração ao ponto de permitir a
Portugal iniciar uma discussão sobre a reestruturação da sua dívida, com
consequências imprevisíveis? Claro que não.
Logo, esta não é a explicação para as declarações surpreendentes de António Saraiva. Continuemos, então.
2) Segunda explicação aventável prende-se com a percepção sentida por
António Saraiva de que a conjuntura internacional é mais favorável,
porque mais serena e estável, para iniciar uma aventura cujo resultado
ainda é incerto e que, até ao momento, correu mal aos Estados que a
encetaram.
Dir-se-á que António Saraiva já começou a “surfar” a onda europeia
que poderá vir da eleição de Schulz como Chanceler alemão. Esta
explicação, no entanto, deve ser liminarmente rejeitada. António Saraiva
é demasiado inteligente e experiente para “ir em cantigas”. Se há
momento histórico em que falar de reestruturação da dívida pública é uma
atitude kamikaze, é precisamente a que vivemos.
Com a incerteza (embora esperança) quanto à política económica de
Donald Trump, com os riscos reais de implosão da União Europeia, com a
possível ascensão dos partidos de extrema-direita ao poder, com o risco
de ruptura da Zona Euro e a instabilidade crónica dos mercados
financeiros daí decorrente – falar de reestruturação da dívida é o
caminho certo rumo ao precipício.
Seria lançar gasolina para a fogueira. Para a fogueira nacional que nos levaria, certamente, à tragédia colectiva.
Conclusão: esta segunda explicação é logicamente impossível. António Saraiva não cometeria tamanha irresponsabilidade.
Caso contrário, António Saraiva não passaria de uma versão patronal de Jerónimo de Sousa. Avancemos, pois então.
3) Chegados aqui, só há uma explicação possível para as declarações
bizarras de António Saraiva: elas não têm natureza económica – apenas
natureza política. Política-partidária. Em que termos? Fácil.
Ora,
vejamos.
António Saraiva colocou-se ao lado da “geringonça” (mais
concretamente dos seus parceiros mais extremistas) para se vingar de
Pedro Passos Coelho. O que significa que estas declarações do líder da
CIP ainda são um prolongamento do caso do chumbo da redução da TSU pelo
PSD.
No fundo, a lógica de António Saraiva é esta: “se Passos Coelho se
juntou ao PCP e ao Bloco de Esquerda para nos tramar – então nós,
representantes dos patrões, vamo-nos juntar ao PCP e ao Bloco para
tramar Passos Coelho”.
As declarações bizarras sobre a reestruturação da dívida de António
Saraiva mais não são, portanto, que uma tentativa de ir moendo Passos
Coelho como líder do PSD… até morrer politicamente.
4.Por coincidência, quem também esteve presente no Fórum Empresarial
LIDE, no Algarve (onde António Saraiva proferiu aquelas declarações
bizarras), foi Rui Rio - o qual propôs uma política de ruptura, que
incluía igualmente o reequacionamento da reestruturação (não utilizou
este termo, mas a ideia era a mesma…) da dívida pública portuguesa.
No mesmo dia, Rui Rio e António Saraiva têm posições coincidentes! O destino é mesmo espantoso!
5.Politicamente, o cenário é claríssimo: António Saraiva já está a
promover a candidatura de Rui Rio para Presidente do PSD. Por convicção?
Não diríamos tanto. Por vingança a Pedro Passos Coelho? Sem dúvida!
Como chumbou a redução da TSU, o PSD de Passos Coelho é o seu alvo a
abater.
6.Estranho país este: os comunistas e trostskistas ficam em êxtase
com o apoio do líder dos patrões às suas ideias políticas – e os
patrões, que deveriam estimar o valor da liberdade e da economia de
mercado, dão força política a partidos que rejeitam tais ideias,
enquanto querem matar o único partido que tem no seu gene a liberdade…
Perante isto, podemos acreditar que existe sociedade civil em
Portugal? Que há associações que posam “bater o pé” ao poder político?
IN "SOL"
20/02/17
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