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"SOL"
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Em cinco anos,
aves puseram em risco 1322 voos
No conceito de ‘bird strike’ cabem as colisões e os riscos de colisão com aves. Em Portugal, desde 2012, foram 1322 os casos de perigo de choque entre pássaros e aviões, com Lisboa no topo dos aeroportos com mais ocorrências. Ambientalistas temem que situação se agrave no Montijo, dada a proximidade com o Estuário do Tejo, onde convivem mais de 200 espécies diferentes.
Não há caso mais mediático do que o do rio Hudson. Em 2009, um avião
descolou de Nova Iorque e perdeu os dois motores na sequência de uma
colisão com gansos. Uma manobra de emergência fez do piloto um herói por
ter conseguido fazer pousar o avião na água, com um balanço bastante
positivo: apenas um ferido ligeiro.
ESTE É O HUDSON, MONTJO TEM O TEJO AO LADO |
Em Portugal, não há registo de manobras ousadas o suficiente para dar
direito a filme de Hollywood, mas contamos já com uma lista
considerável de casos de bird strike - nome dado à colisão ou perigo de
colisão entre aviões e aves. O mais relevante aconteceu em junho de
2011, quando um avião que tinha saído do Funchal foi obrigado a
regressar ao aeroporto depois de um bando de gaivotas terem entrado num
dos reatores. Já no ano passado, em julho, um avião da SATA, que fazia a
ligação Terceira-Lisboa, teve de regressar ao aeroporto das Lajes
depois de uma ave embater num reator.
Até aqui falamos de colisões, mas no conceito de bird strike cabem
também as situações de avistamento de aves com perigo de colisão. Em
Portugal, de 2012 até 2016, foram 1322 as situações do género reportadas
à Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC), o que representa 22,4%
do total de incidentes com aeronaves, que podem ser tão variados como o
avistamento de drones ou serem encontrados objetos nas pistas dos
aeroportos.
Os dados a que o SOL teve acesso não discriminam os casos em que
houve mesmo uma colisão com aves e aqueles em que o perigo resultou de
um avistamento, mas evidenciam que os meses de Verão - junho e julho
principalmente -, são os registam mais acidentes, por serem também os
que registam maior tráfego aéreo no país. Já quanto aos locais de perigo
de acidente, é Lisboa que surge no topo, com 34,4% das ocorrências.
Seguem-se os aeroportos do Porto (24,8% dos casos),Faro (19,4%) e os das
ilhas que, no seu conjunto, registaram 148 acidentes nos últimos cinco
anos.
De um modo geral, poucas são as ocorrências reportadas que
identificam a espécie da ave envolvida. Em 2016, por exemplo, só foram
identificadas as espécies da aves em 30% dos casos. Mas quando
identificadas, a ANAC revela que as espécies de aves predominantes neste
tipo de ocorrências são as gaivotas, os pombos e as andorinhas.
Montijo é melhor opção?
Numa altura em que parece estar fechada a localização do novo
aeroporto de Lisboa, o fenómeno do bird striking promete merecer atenção
redobrada. O primeiro-ministro defende que a utilização do Montijo como
aeroporto complementar de Lisboa é a solução de «maior viabilidade»,
mas é exatamente a localização que preocupa os ambientalistas, tendo em
conta a proximidade com o estuário do Tejo, uma zona onde coabitam mais
de 200 espécies diferentes. O Governo já pediu um estudo de impacte
ambiental que inclua esta vertente. Para Carla Graça, da associação
ambientalista Zero, o fundamental é conseguir conciliar as duas rotas:
as dos aviões e a dos pássaros, de maneira a que não colidam. «É por
isso», explica, «que este estudo tem que ser completo e abranger um ano
de migrações».
Apesar de grande parte das aves que lá se encontram serem inverneiras
- ou seja, passam o Inverno em Portugal e, na Primaver,a migram para os
países do Norte da Europa, onde se reproduzem - existem aves que
permanecem durante todo o ano neste local. «E mesmo as que viajam para
outros países estão em constante movimento dentro do estuário e também
entre estuários, como o do Sado», explica Joaquim Teodósio, coordenador
do programa de conservação terrestre da SPEA (Sociedade Portuguesa para o
Estudo das Aves).
Das 200 espécies de aves, 46 gozam de estatuto de proteção natural,
entre elas duas das mais comuns no estuário: o alfaiate e o pato
trombeteiro. «São espécies em risco e cujo habitat tem que ser
preservado», acrescenta Carla Graça.
A ambientalista e o biólogo concordam que, perante o panorama geral, o
Montijo será, tal como defende Costa, a melhor das opções. «O facto de o
aeroporto já existir é positivo, implica menos obras e um menor impacto
sobre as aves», lembra Joaquim Teodósio. Também Carla Graça considera
que «preferível ter o aeroporto da Portela mais um [o do Montijo] do que
assistirmos à construção de um novo de raiz». Mesmo assim, a
especialista salienta que o problema pode surgir com construções
adjacentes, como infraestruturas de apoio e acessos. «Podem invadir o
sapal [nome que se dá à zona costeira, rica em biodiversidade] - onde os
peixes e a aves se alimentam», refere.
Joaquim Teodósio salienta a «forte capacidade de adaptação» das aves,
mas lembra que essa capacidade tem limites. «Se, a longo prazo
perceberem que este habitat deixa de ser o melhor, é possível que mudem
as rotas». Se as rotas dos aviões e dos pássaros forem bem coordenadas, é
possível que o estuário do Tejo mantenha a biodiversidade atual.
«Também conseguiram adaptar-se a uma obra brutal como a construção da
Ponte Vasco da Gama. Mas atenção, que essa é uma peça imóvel e não
aviões em constante movimento», avisa Carla Graça.
* Rotas dos pássaros bem coordenadas, não é possível, rotas dos aviões há tantas alterações de momento numa abordagem à pista...
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