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O que é o síndrome de Asperger?
O psiquiatra Bernardo Barahona responde à pergunta, hoje, data em que se comemora-se o Dia Internacional do Asperger, uma perturbação muitas vezes confundida com o autismo.
A Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger (APSA) estima
que, em 2016, existiam cerca de 40.000 pessoas com Síndrome de Asperger,
número que pode ser maior tendo em conta os casos que ainda não foram
diagnosticados. Bernardo Barahona Corrêa, 42 anos, psiquiatra, diretor
científico do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (CADin),
investigador da Fundação Champalimaud e professor assistente da
Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa explica quais as principais
manifestações deste síndrome e como é um desafio grande entrar na idade
adulta
Muita gente confunde Síndrome de Asperger e Autismo, não é?
O síndrome de Asperger é, na verdade, uma perturbação do espetro de
autismo. O autismo caracteriza-se pela dificuldade na socialização, na
comunicação verbal e não-verbal. Pode haver também algum atraso na
linguagem e uma restrição no leque de interesses. Mas estas são as
características do autismo em geral; no caso do síndrome de Asperger é
diferente. Este síndrome tem algumas características particulares que
passam por serem indivíduos com um bom nível intelectual – enquanto no
autismo clássico existe um défice cognitivo -, muitas vezes são miúdos
que desenvolvem precocemente uma linguagem quase de adultos e às vezes
parecem mesmo «pequenos doutores».
O que os distingue então?
São crianças que se destacam, que sabem muito sobre determinados temas pouco comuns para a sua idade. Têm uma capacidade muito grande de memorização de temas altamente complexos. Aquilo que falha nas crianças e adultos com síndrome de Asperger é depois a parte da socialização, quer na capacidade de se relacionar e manter relações recíprocas durante um período de tempo, ou criar amizades como cada de nós cria, quer até por vezes alguma falha no desenvolvimento das competências sociais, como por exemplo, compreender os sentidos implícitos, as pequenas nuances, perceber as regras sociais que estão estabelecidas, compreender a linguagem corporal do outro. Organizam a sociedade que os rodeia de forma taxativa. Claro que isto tudo depois gera um desajeitamento social.
São crianças que se destacam, que sabem muito sobre determinados temas pouco comuns para a sua idade. Têm uma capacidade muito grande de memorização de temas altamente complexos. Aquilo que falha nas crianças e adultos com síndrome de Asperger é depois a parte da socialização, quer na capacidade de se relacionar e manter relações recíprocas durante um período de tempo, ou criar amizades como cada de nós cria, quer até por vezes alguma falha no desenvolvimento das competências sociais, como por exemplo, compreender os sentidos implícitos, as pequenas nuances, perceber as regras sociais que estão estabelecidas, compreender a linguagem corporal do outro. Organizam a sociedade que os rodeia de forma taxativa. Claro que isto tudo depois gera um desajeitamento social.
Em que idade começa a ser notória alguma perturbação?
Todas as perturbações relacionadas com autismo são perturbações de
desenvolvimento, ou seja, estão presentes desde o nascimento. Enquanto o
autismo nota-se nos primeiros meses de vida – há mães que me dizem «eu
notei logo que o meu filho tinha qualquer coisa de diferente, não
mamava, não se aninhava no colo» -, o síndrome de Asperger não é tão
óbvio, muitas vezes só mais tarde é que se manifesta porque são crianças
precoces ou brilhantes na linguagem ou começam a ter dificuldades de
interação em casa ou na escola.
O Asperger pode então ser confundido com timidez?
Sim, facilmente. Às vezes, é difícil distinguir se um comportamento
socialmente reservado se deve ao síndrome ou se é uma característica da
personalidade da pessoa.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é meramente clínico, não há nenhum marcador biológico, ou
seja, não há nenhum exame ou análise que se possa fazer. Faz-se uma
história clínica detalhada para perceber o relacionamento do paciente
com outras pessoas ou com o próprio médico. O fundamental é uma história
de desenvolvimento bem feita e desde cedo. No caso deste síndrome, é
típico surgir quando os miúdos vão para a escola. Ali pelos três, quatro
anos quando acontecem as primeiras interações com os colegas, quando
começam a ter de partilhar, é aí que se notam os primeiros problemas.
Depois do diagnóstico completo, qual é o próximo passo?
Essa é uma questão espinhosa, não há um tratamento biológico, não há
remédios. É, portanto, um tratamento complexo e idealmente
multidisciplinar e sempre talhado à medida das necessidades de cada
caso. Há pessoas que vivem perfeitamente com o síndrome porque vivem num
ambiente que os aceita bem ou tiveram uma família que lidou bem com a
questão e outros que não tiveram a mesma sorte e sofreram bullying, uns dos problemas mais frequentes nas crianças com Asperger, sobretudo na adolescência.
Que acompanhamento é que deve ser feito?
No acompanhamento de Asperger, o papel do médico acaba por ser o menos
importante. O médico pode ser um pediatra de desenvolvimento, um
neuropediatra ou um pedopsiquiatra ou psiquiatra na idade adulta. Muito
importante é o papel dos outros profissionais de saúde que fazem todo o
trabalho de reabilitação e psicossocial com estas pessoas como, por
exemplo, a psicoterapia virada para o controlo de ansiedade,
intervenções para o treino de competências sociais, etc… Estão sempre a
pensar na conquista da autonomia.
A entrada na idade adulta acaba por ser um desafio muito maior, não é?
Sem dúvida. A entrada na vida adulta é sempre difícil porque passam de
ambientes protegidos como os colégios ou a família para a faculdade ou o
mercado de trabalho, onde há uma necessidade de dominar as competências
sociais e lidar com a imprevisibilidade. Regularmente, surgem casos que
até aí não tinham sido diagnosticados.
É verdade que há uma propensão maior nos rapazes para este tipo de transtorno?
A literatura varia muito, mas sim, o síndrome de Asperger afeta entre 5 a
10 vezes mais rapazes do que raparigas. Terá naturalmente a ver com
alguma questão biológica, podem ser fatores genéticos relacionados com o
sexo masculino. Em geral, este género é mais frágil em termos de
desenvolvimento neurológico.
* Só se aprende com quem sabe!
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