09/02/2017

ANA SÁ LOPES

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Manuel Maria Carrilho é um asco

 A violência doméstica até pode não estar provada – o juiz decidirá – mas a violência psicológica é do conhecimento público.

Manuel Maria Carrilho é acusado do crime de violência doméstica. Ontem, voltou a vomitar em tribunal o que já fez amplamente junto das revistas sociais, exercendo desde o início do processo violência psicológica sobre a mãe dos filhos, os filhos e o resto da família. A violência doméstica até pode não estar provada – o juiz decidirá – mas a violência psicológica é do conhecimento público.

O depoimento de Carrilho ontem em tribunal só surpreende quem não tem acompanhado o processo. A capacidade de divulgação de pormenores sórdidos na imprensa cor-de-rosa do antigo ministro da Cultura é imensa: logo no início do processo, chegou a afirmar que a ex-mulher tinha sido violada pelo padrasto, alheio ao que uma difamação deste cariz poderia ter sobre a saúde psicológica do filho mais velho – o único na altura com possibilidade de ter acesso a este tipo de informação. A difamação não ficou impune – foi condenado em tribunal em 2015 a pagar 25 mil euros ao ex-padrasto de Bárbara Guimarães, mais uma multa de 6400 euros.

Ontem, o seu depoimento em tribunal mostrou o mesmo Carrilho. À pergunta sobre a violência doméstica respondeu: “Desde que conheço a Bárbara que lhe conheço nódoas negras”. A acusação de alcoolismo é torpe – Carrilho acusa Bárbara de “pôr em causa a vida dos filhos” por conduzir embriagada.

Há um problema na crítica à torpeza de um discurso, que é estar a repeti-lo. Há uma comparação que Manuel Maria Carrilho faz no seu depoimento que talvez explique tudo que é quando diz “os meus livros são como os meus filhos”, criticando a decisão de Bárbara ter encaixotado 100 mil livros e tê-los mandado para outra casa de Carrilho, em Viseu. Sendo que quaisquer tentativas de explicação para o asco saem geralmente furadas, este é um bom ponto: Carrilho tem pelos filhos o mesmo amor que pelos livros, objetos não-humanos. De outra forma, não os obrigaria a viver a desumana condição de ver a mãe humilhada no espaço público.

* IN "i"
07/02/17

** Muito obrigado à autora por este texto.
OS PENSIONISTAS

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