O homem que lutou até ao fim
Os acontecimentos de ontem nas ruas de
Lisboa e no Mosteiro dos Jerónimos espelham tudo daquilo que foi Mário
Soares. O povo quis estar presente na última homenagem ao homem que
marcou o século XX português. Ofereceram-lhe flores e, no silêncio
exigido pela cerimónia fúnebre, irromperam as velhas palavras de ordem
que fazem parte das nossas vidas. "Soares é fixe!" Haverá homenagem mais
bonita?
Sim, Soares é fixe. Só um
homem assim podia juntar, na hora da despedida, um desfile tão
heterogéneo e democrático nos Jerónimos. Os portugueses foram
verdadeiramente iguais no último adeus a Mário Soares. Notáveis e
anónimos lado a lado: por momentos, esquecemos que Pedro Passos Coelho,
na fila da homenagem, foi primeiro-ministro. E tantos outros ilustres
que por ali passaram, e a todos João e Isabel Soares, com uma enorme
dignidade, abraçaram e beijaram.
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Soares
foi estadista, estratega, ideólogo, um grande político. Todos
reconhecem esse legado. O que mais importante fica do último adeus é o
homem. O que lutou até ao fim por ideais democráticos, embora alguns,
usando tática do apoucamento para as vozes incómodas, dissessem que
tinha perdido o filtro. Soares apenas foi coerente consigo próprio, até
ao fim. Sempre abominou o politicamente correto e, também nesse
capítulo, foi fiel até ao fim.
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Fica
também a enorme homenagem a um homem comum, tão forte e, ao mesmo tempo,
com as fragilidades de tantos outros: a sua vontade de viver
ressentiu-se quando Maria Jesus Barroso, a companheira de uma vida,
partiu. Lá estava, aos pés da urna, uma enorme coroas de botões de rosa
amarelos, a flor preferida de Maria Barroso, com "o amor dos filhos e
dos netos".
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Com a morte de Mário
Soares, desaparece um dos últimos senadores da política europeia. Ele
parte sem que o futuro da Europa, este grupo de países nascido para ser
solidário, seja claramente definido.
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Como Francisco, o Papa que o agnóstico Soares admirava, ontem disse, "é muito urgente atualizar a ideia da Europa para dar à luz um novo humanismo, baseado na capacidade de integrar, dialogar e gerar". O nosso antigo presidente da República concordaria. Soares cumpriu o seu papel neste caminho de uma União Europeia fraterna, inclusiva, das pessoas, apesar de nem todos o terem reconhecido, tanto aqui como lá fora. A história, porém, cumprirá o seu papel.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS".
Como Francisco, o Papa que o agnóstico Soares admirava, ontem disse, "é muito urgente atualizar a ideia da Europa para dar à luz um novo humanismo, baseado na capacidade de integrar, dialogar e gerar". O nosso antigo presidente da República concordaria. Soares cumpriu o seu papel neste caminho de uma União Europeia fraterna, inclusiva, das pessoas, apesar de nem todos o terem reconhecido, tanto aqui como lá fora. A história, porém, cumprirá o seu papel.
10/01/17
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