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"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Sobrinho Simões alerta
para sobrediagnóstico de cancros
muito pequenos
O
patologista Sobrinho Simões alertou esta quinta-feira que se
diagnosticam demasiados cancros que se deviam "deixar sossegados",
colocando os doentes num ciclo de tratamentos sem benefícios reais,
ressalvando que continua a ser essencial o rastreio precoce.
Falando
à agência Lusa à margem de uma palestra promovida pelo International
Club de Portugal, Manuel Sobrinho Simões afirmou que "a maluqueira quer
de doentes quer de alguns médicos é que está a dar mau resultado",
sobretudo nos cancros da tiroide, mama e próstata, "de longe os que têm
mais sobrediagnóstico".
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"Estamos a fazer diagnósticos de cancros muito pequeninos, que não iam dar chatices" porque não conseguiriam desenvolver-se no tempo de vida restante das pessoas, a maior parte delas idosas, salientou.
"Estamos a fazer diagnósticos de cancros muito pequeninos, que não iam dar chatices" porque não conseguiriam desenvolver-se no tempo de vida restante das pessoas, a maior parte delas idosas, salientou.
Colocando-as
no ciclo de tratamentos como a radiologia, os médicos estão, nesses
casos, a "desgraçar os doentes", considerou, defendendo que cabe aos
médicos serem razoáveis quando as pessoas os procuram para ir numa "caça
ao cancro".
Quando um médico fala de
cancro a um doente, "é difícil, depois de começar o processo", dizer-lhe
depois que o cancro que se detetou é demasiado pequeno para justificar
tratamento, reconheceu.
O investigador
português, considerado um dos patologistas mais influentes no mundo,
defendeu no entanto a necessidade de continuar a fazer-se rastreios à
população, essenciais para o diagnóstico precoce: "isso é
importantíssimo", reforçou.
Só que "há cancros muito agressivos e outros pouco agressivos", destacou.
Num
país como a Coreia do Sul, começou a rastrear-se o cancro da tiroide,
que passou para quarto tipo de cancro mais frequente, acionando
tratamentos e extrações da tiroide que são "caríssimos para o serviço
nacional de saúde", mas a mortalidade mantém-se exatamente igual.
Por
seu lado, no Japão optou-se por não operar e esperar, repetindo exames
anualmente. "Se não crescer, não fazem nada. Têm a mesma mortalidade do
que a Coreia do Sul e gastam cem vezes menos", destacou.
Manuel
Sobrinho Simões afirmou perante a plateia do International Club que as
doenças "ajudaram a apurar a espécie humana porque matavam os menos
aptos, ficando os mais inteligentes e os mais capazes", mas que as
doenças modernas não ajudam a apurar nada, porque "acontecem mais tarde
na vida" e não interferem com a capacidade reprodutiva.
Além
do cancro, a obesidade, a sida, a tuberculose e a depressão são
reflexos de uma civilização de mamíferos que vivem hoje numa sociedade
de abundância mas cujos genes foram moldados por condições extremamente
difíceis, frisou.
"Não mudámos nenhum
gene nos últimos 100 anos", afirmou, notando que os humanos mantêm o
apetite que os selecionou como espécie de sucesso há centenas de
milhares humanos mas que comer "111 quilos de carne" por ano, como
acontece com os portugueses, tem "custos na água, na energia, na saúde,
no planeta".
* A voz da experiência de saber feito.
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