HOJE NO
"OBSERVADOR"
Frederico Lourenço
vence Prémio Pessoa 2016
O escritor, tradutor e professor universitário Frederico Lourenço
é o vencedor do Prémio Pessoa 2016. O anúncio foi feito esta
sexta-feira por Francisco Pinto Balsemão, presidente do júri do
galardão, no palácio Seteais, em Sintra.
Frederico Lourenço nasceu
em Lisboa, em 1963. É doutorado em Línguas e Literaturas Clássicas pela
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, instituição onde
lecionou entre 1988 e 2009 antes de assumir o lugar de professor
associado na Universidade de Letras da Universidade de Coimbra.
.
Autor de uma obra extensa, que inclui poesia, romance, teatro e
ensaio, publicada ao longo de quase duas décadas de trabalho,
encontra-se neste momento a trabalhar numa tradução integral da Bíblia a partir de fontes gregas. O primeiro volume de seis, que inclui parte do Novo Testamento, foi editado este ano.
Além
deste galardão, o classicista recebeu os prémios PEN Clube (2002), D.
Diniz da Casa de Mateus (2003), o Grande Prémio de Tradução (2003) e o
Prémio Europa David Mourão-Ferreira (2006).
No discurso de
anúncio, Pinto Balsemão chamou a atenção para o facto de Lourenço ter
vindo a oferecer “à língua portuguesa as grandes obras de literatura
clássica, através de um trabalho metódico, revelador de uma ambição
servida por uma rara erudição”. “Traduziu com rigor as obras
fundamentais de Homero, bem como duas tragédias de Eurípedes”, afirmou,
salientando “o desejo de disseminar a Cultura Clássica pelo público“.
“Frederico
Lourenço constitui um exemplo de disciplina, capacidade de trabalho e
lucidez intelectual no elevado plano dos Estudos Clássicos e
humanísticos, parte fundamental da vida cultural e cientifica dos países
desenvolvidos”, disse ainda o presidente do júri do Prémio Pessoa.
No final do discurso, Francisco Pinto Balsemão prestou homenagem a Miguel Veiga e João Lobo Antunes,
membros do júri recentemente falecidos. “Além do sulco duradouro que
ambos deixaram na sociedade portuguesa contemporânea, não queremos nós,
júri do Prémio Pessoa, deixar de assinalar o sentimento de perda e a
saudade que a ausência da sua inteligência humor e brilho pessoa em
todos nós profundamente provocaram”, afirmou.
Além de Balsemão, o
júri do Prémio Pessoa deste ano foi constituído por António Domingues
(vice-presidente), António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena,
Eduardo Souto de Moura, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Maria de
Sousa, Mário Soares, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e
Viriato Soromenho-Marques.
A distinção, com um valor de 60 mil
euros, é entregue todos os anos a uma personalidade que se tenha
distinguido na vida artística, literária ou científica. O Prémio Pessoa
foi atribuído pela primeira vez em 1987 ao historiador José Mattoso.
Desde então foram reconhecidos, entre outros, o poeta António Ramos
Rosa, a pianista Maria João Pires, os investigadores António e Hanna
Damásio, o neurocirurgião João Lobo Antunes e o arquiteto Eduardo Souto
Moura.
No ano passado o vencedor foi o escultor Rui Chafes, a quem o
júri elogiou a procura pela transcendência, ao utilizar o ferro como
matéria-prima criativa. Chafes foi o primeiro escultor a receber o
galardão.
Um prémio para uma “personalidade ímpar”
Marcelo Rebelo de Sousa disse estar “muito feliz, como cidadão, como
académico e como Presidente da República” por o prémio ter sido
atribuído este ano a Frederico Lourenço. Questionado pelos jornalistas
durante uma visita ao grupo ETE, ligado à economia do mar, Marcelo
descreveu Lourenço como uma “personalidade ímpar na nossa cultura” autor
de “uma obra também ímpar”.
“As pessoas das mais diversas
sensibilidades, religiões, culturas, consideram que é uma obra marcante,
e Frederico Lourenço é de facto uma personalidade marcante na universidade portuguesa, na cultura portuguesa”, acrescentou o Presidente da República.
Francisco
José Viegas, editor de Frederico Lourenço, disse à Agência Lusa que o
Prémio Pessoa valoriza um trabalho que Lourenço tem desenvolvido com
“grande dedicação, empenho e sensibilidade”. “É um prémio que nos enche
de alegria, que é para uma pessoa, que, ao longo de anos e anos,
desenvolveu um trabalho absolutamente notável com grande dedicação,
empenho e sensibilidade para a divulgação das letras clássicas, raiz da
nossa da cultura”, afirmou.
Defendendo que o estudo da Cultura
Clássica tem sido “desprezado”, Francisco José Viegas disse esperar que a
distinção desta sexta-feira faça com que a área de estudo receba uma
maior atenção. “O trabalho, a dedicação e a paixão que o
Frederico coloca nessa divulgação, são fundamentais e podem inspirar
outras pessoas para esse conhecimento e para o regresso da cultura
clássica à nossa escola“, acrescentou.
Referindo-se à
tradução da Bíblia, o editor da Quetzal afirmou que “pode fazer
interessar muitas outras pessoas pelo texto bíblico na íntegra, sem
prisões, sem preconceitos, sem peias”. “É muito importante.”
Em
comunicado, o Ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, considerou
ser “este um justíssimo reconhecimento da obra notável do autor, nas
dimensões da criação, tradução e investigação”. “Frederico Lourenço é um
dos mais extraordinários homens de cultura dos nossos dias e, como
leitor entusiasmado da sua obra”, refere a nota enviada às redações.
* Mais uma vez o prémio Fernando Pessoa é criteriosamente atribuído, parabéns ao professor Frederico Lourenço.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário