HOJE NO
"OBSERVADOR"
Cientistas portugueses denunciam
. exportação de esqueletos para o Canadá
Um grupo de 24 cientistas portugueses denunciaram um protocolo assinado entre a Câmara Municipal de Lisboa que permite a exportação de ossadas não reclamadas para uma universidade no Canadá.
Um grupo de 24 antropólogos de várias universidades portuguesas
escreveu uma carta à Câmara Municipal de Lisboa (CML), denunciando a
doação a título definitivo de esqueletos que ninguém reclama a uma
Universidade de Simon Fraser, no Canadá. A doação das ossadas ficou
estabelecida por um protocolo assinado entre a CML e Hugo Cardoso, cientista de nacionalidade portuguesa radicado no Canadá.
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TCHAU |
“Não
podíamos ficar de braços cruzados perante uma situação inédita”, disse
ao Público a antropóloga Eugénia da Cunha, da Universidade de Coimbra.
Na carta escrita à autarquia, os 24 signatários sublinham que a oposição
que demonstram não é ao estudo das ossadas que ninguém reclama — um
procedimento comum — mas antes a sua exportação.
“Não queremos ser o primeiro país dos mundo [nos tempos atuais]
a fazer exportação de esqueletos humanos, ainda para mais
identificados”, disse Eugénia Cunha, referindo que essa é uma prática
que devia ter ficado para trás. “No século XIX! Na altura do
colonialismo. Temos restos humanos que vieram de Timor, de Angola. Cada
investigação tem a sua altura.”
No Canadá, apesar de já ter sido
uma prática naquele país, já não é permitida a criação de novas coleções
com esqueletos de canadianos identificados.
Cientista teve luz verde da CML e de dois organismos especializados
No pedido de cedência de esqueletos assinado pelo antropólogo Hugo
Cardoso, datado de dezembro de 2014, pode ler-se que é solicitada “a
doação de ossadas abandonadas dos cemitérios de Lisboa” e que estas
serão de “um número aproximado de 100-200”. Conforme explicou o
cientista ao Público, tal número de ossadas “é muito importante uma
grande variabilidade morfológica e anatómica”, permitindo que os alunos
possam “reconhecer todos os ossos do esqueleto humano a partir de
fragmentos”.
Hugo Cardoso diz ainda àquele jornal que “nunca foi
intenção do projeto manter as ossadas no Canadá de forma definitiva”.
Porém, na deliberação da CML que se seguiu ao pedido do antropólogo
radicado no Canadá fala-se na cedência “a título definitivo” dos
esqueletos.
Para tomar esta decisão, a autarquia lisboeta pediu um
parecer ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV),
que então disse que “se afigura legítimo a cedência de ossadas (tecidos
ósseos) consideradas abandonadas”.
De igual forma, o Instituo
Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses deu luz verde, referindo
que “os cemitérios que tiverem a guarda de ossadas consideradas
abandonadas podem cedê-las a título definitivo (doá-las) à Universidade
de Simon Fraser”.
* Resumindo, Canadá adopta comportamento colonialista em relação a esqueletos lusitanos.
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