HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Advogados fazem apelo sobre
crianças retiradas no Reino Unido
O
representante da Plataforma "Advogados Portugueses contra as Adoções
Forçadas" pediu uma intervenção do Governo junto das autoridades
britânicas sobre os 60 casos de crianças retiradas ou sob vigilância.
O
advogado Pedro Proença foi esta terça-feira ouvido pelos deputados da
comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas
sobre o trabalho da Plataforma "Advogados Portugueses contra as Adoções
Forçadas", criada para prestar apoio jurídico às famílias portuguesas a
quem os serviços sociais do Reino Unido retiraram crianças ou que estão
sob vigilância das autoridades.
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De
acordo com o representante da Plataforma, que reúne cerca de quatro mil
pessoas, das quais 300 advogados disponíveis para trabalhar de forma
voluntária, estão identificados, no último ano e meio, cerca de 60
famílias portuguesas, das quais metade a quem já foram retirados os
filhos.
Pedro Proença relatou que
países como a Estónia ou a Letónia já apresentaram protestos formais
junto do Governo inglês sobre a forma como os seus nacionais são
tratados pelos serviços sociais no Reino Unido.
"Justificava-se
que o Governo português, constatando que há excesso de força em
determinados casos que afetam famílias portuguesas, fizesse o mesmo
junto do Governo inglês e tomasse uma postura de pelo menos dizer:
'Atenção, estamos atentos e queremos saber o que se está a passar com os
nossos cidadãos no Reino Unido'", defende o advogado.
Criada
em outubro, a plataforma já conseguiu resolver, com sucesso, dois casos
de famílias portuguesas que perderam os filhos no Reino Unido e
acredita que, nos próximos dias, mais duas crianças portuguesas possam
ser devolvidas aos pais pelas autoridades britânicas. "Isto é a prova
cabal de que, quando há uma intervenção rápida e competente, as coisas
até se podem resolver", destacou Pedro Proença.
Perante
os deputados, o representante da Plataforma denunciou o que disse ser
um "negócio de milhões", cuja "matéria-prima são as crianças".
Segundo
Pedro Proença, há três fatores que contribuem para "uma realidade
preocupante" no Reino Unido, onde todos os anos 125 mil crianças são
retiradas às famílias.
Por um lado, a
lei é "altamente permissiva" e permite fazer "uma análise subjetiva e
quase de futurologia" sobre o que pode vir a acontecer à criança se
permanecer com a família, e, por outro, os serviços sociais canalizam os
menores para casas de acolhimento ou famílias de acolhimento, que "são
subvencionadas" pelo Estado inglês, que paga anualmente dois mil milhões
de libras (2,2 mil milhões de euros).
Por
último, as empresas privadas de adoção são, em muitos casos, geridas
por funcionários dos serviços sociais e são altamente lucrativas - a
principal agência de adoção do Reino Unido lucrou, no ano passado, 125
milhões de libras (140 milhões de euros), descreveu.
Pedro
Proença considera que os serviços consulares portugueses não têm
capacidade para responder, em tempo útil, aos casos destes portugueses, e
propôs a criação de uma linha telefónica de emergência destinada apenas
a estes casos.
O advogado disse ainda
que a Plataforma pediu, há um mês, uma audiência com o ministro dos
Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e com o secretário de
Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, mas até agora
não teve resposta.
Durante a audição, a
deputada socialista Isabel Santos considerou que pode estar em causa
uma intervenção dos serviços sociais que "é muito pouco atenta às
diferenças culturais", enquanto o seu colega de bancada Paulo Pisco
destacou a necessidade de os serviços consulares portugueses poderem dar
resposta a estes casos, sublinhando que este assunto tem "uma natureza
diplomática" que não pode ser esquecida.
Carlos
Gonçalves, do PSD, considerou que muitas destas situações ocorrem por
desconhecimento das leis e realidade no Reino Unido, defendendo a
necessidade de garantir essa informação às comunidades portuguesas.
Pelo
PCP, Carla Cruz, exigiu que o Governo português faça "o acompanhamento
diligente" aos emigrantes e que disponha dos meios necessários para tal,
enquanto a deputada bloquista Domicília Costa disse esperar que o
executivo faça "algo de válido" para apoiar as famílias.
* A actuação da justiça inglesa parece sequestradora.
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