HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Queixas de abuso sexual de menores
. quadruplicam em Lisboa
Ministério
Público registou quase 500 casos no final do 1ºsemestre, quando no mesmo
período de 2015 eram 128. Mas de junho a setembro caíram mais 200
processos na PJ
"Entraram 700
processos de abusos de menores até setembro deste ano, quando em todo o
ano de 2015 tinham entrado 900", afirmou ao DN a coordenadora de
investigação criminal da secção de crimes sexuais da PJ de Lisboa, Rita
Vieira. Se a tendência prosseguir, vai chegar ao fim do ano com um
número bem superior dos investigados no ano passado. "Tem havido muito
mais participações. Vêm sobretudo da família das vítimas mas também das
escolas e comissões de menores."
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Os
inquéritos de crimes sexuais contra menores abertos pelo Ministério
Público quadruplicaram (288%) no primeiro semestre, em relação a período
homólogo do ano passado: 496 contra 128, segundo o relatório semestral
da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa. Depois, de junho a setembro,
entraram mais 200 processos na PJ, chegando aos 700.
Esta
é a área onde os estereótipos estão sempre a ser quebrados. Há o caso
da jovem lindíssima de olhos azuis que entrou na PJ para ser interrogada
por ter submetido a própria filha de quatro anos a jogos sexuais com
ela e um homem. Ou o do avô de 90 anos que abusou do neto. Ou ainda a
filha de 16 anos que foi violada pelo padrasto e depois pelo próprio
pai. Estes são alguns dos casos, das dores e traumas que os 21
inspetores da secção de crimes sexuais da Polícia Judiciária de Lisboa
investigam.
Os concelhos com mais
denúncias por abusos sexuais de menores são Amadora, Loures, Sintra e
Vila Franca de Xira. Mas a diretoria de Lisboa da PJ tem uma competência
territorial muito vasta que abrange ainda os distritos alentejanos de
Évora e Portalegre.
"A maior parte dos
abusos sexuais a crianças (até aos 14 anos) que investigamos ainda
ocorrem dentro da família. Os abusadores são sobretudo o pai, o
padrasto, o tio, o avô e as vítimas são mais as meninas, embora também
existam rapazes", adianta Rita Vieira.
A
coordenadora deixou a investigação dos crimes de burlas há quatro anos
para vir chefiar a equipa de homens e mulheres desta área sensível.
"Muitos dos inspetores são licenciados em Psicologia e fazem várias
formações na área para melhor comunicar com vítimas e arguidos nestes
casos. Muitos também são pais e mães. Não é fácil chegarem a casa e
desligarem. Há um grande peso psicológico e emocional nestes casos".
Os
inspetores acompanham os processos até estes chegarem a julgamento. Mas
a ligação com as vítimas e as famílias não se perde. "Sei que há
vitimas que telefonam com regularidade aos investigadores da minha
secção, já muito depois do caso ter sido julgado. Por vezes até
comunicam do estrangeiro e contam como refizeram a vida", conta Rita
Vieira. "Também há mães de vítimas que ligam muitas vezes para
desabafar."
Um "desvario psicológico"
A
experiência já permitiu a Rita Vieira extrair algumas lições. "Uma
criança que começa a ser abusada com oito ou nove anos e esses abusos se
prolongam por uns quantos anos dificilmente recupera". Ou que "a
criminalidade sexual é um desvario psicológico e que foge a ideias
preconcebidas. Temos homens de 90 anos a violar crianças da família mas
também temos miúdos de 15, 16 e 17 anos a violar colegas em grupo".
Mães que abusam
E
também há mães que abusam dos filhos menores ou filhas, embora numa
percentagem mínima. Rita Vieira não quis falar de casos investigados mas
o DN sabe que uma das situações que mais impressionou a sua equipa
aconteceu há dois anos. Uma jovem com 23 anos, de olhos azuis e cabelos
comprido, com ar de modelo, deixou os inspetores perplexos porque nunca
ninguém a imaginaria como criminosa sexual. Envolveu-se com o namorado
da irmã mais nova, um rapaz de 17 anos, e obrigava a filha de apenas
quatro anos a participar nos jogos sexuais do casal. Os abusos sexuais
decorreram durante meses. A criança estava entregue à guarda do pai mas,
sem que este imaginasse, sempre que a filha ficava com a mãe era
submetida a atos sexuais. E tudo isto se passou no quadro de uma família
humilde, trabalhadora mas estruturada, da zona de Lisboa. Quando foi
presente ao juiz, a jovem ficou submetida a proibição de contactos com a
filha e inibida do poder paternal. Foi um caso que espantou todos. Como
foi o da mãe que abusava do filho deficiente cognitivo. "Não se pode
partir do princípio de que o que nos estão a contar é impossível. Por
princípio, nesta secção investigamos todas as denúncias."
* Este crime absurdo precisa de ser muito mais penalizado em Portugal, não é justo que o/a violador/a apanhe meia dúzia de anos de prisão por deixar marcas para toda a vida numa criança indefesa.
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