HOJE
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
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Fundações receberam apoios de
142,8 milhões à margem da lei
Governo quer regularizar entidades que ignoraram o Censo de 2012
Dezenas
de organismos públicos da administração central e local fizeram
transferências à margem da lei para fundações no valor de cerca de 142,8
milhões de euros.
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O principal
organismo de inspeção do Estado detetou ainda transferências para seis
fundações que não responderam ao censo obrigatório e com proposta de
extinção no valor de 338 mil euros.
Confrontada
pelo Dinheiro Vivo com esta informação, a ministra da Presidência e da
Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, começou por
responder que essa "é uma questão que tem de ser apurada". "A maior
parte das situações de irregularidades, tanto quanto sei, não se devem a
casos de fundações não recenseadas mas de casos de falta de parecer da
IGF, obrigatório para que os subsídios sejam atribuídos, ou de situações
que têm que ver com a não publicitação dos órgãos sociais."
Já
a assessoria do Ministério das Finanças começou por salientar que "a
informação indicada reporta-se ao ano de 2013". E garantiu, em seguida,
que "no âmbito do trabalho realizado pela IGF foram efetuadas
recomendações no sentido de as entidades públicas envolvidas procederem à
regularização das situações, bem como foram apresentadas propostas
legislativas que visavam introduzir maior rigor e disciplina orçamental.
Essas propostas foram objeto de "visto" e não de homologação pelo SEAP à
época (2014)". E mais não disse sobre esta matéria.
Regularizar as "ilegais"
O
governo quer "regularizar" a situação das fundações que não responderam
ao Censo de 2012. "Não se trata de comprometer a credibilidade que, em
2012, se pretendeu imprimir ao universo fundacional, mas sim de devolver
a palavra àqueles que se posicionam ao serviço do interesse social
(...) e demonstraram merecer o empenho deste governo em conceder-lhes
mais uma oportunidade", disse ontem a ministra da Presidência num evento
organizado pelo Centro Português de Fundações (CPF).
Em
causa estão cerca de 200 fundações que não responderam ao censo
efetuado em 2012 e que continuam em atividade. E, ao contrário do que
era suposto, algumas até receberam apoios financeiros de entidades
públicas.
A Lei n.oº 1/2012 - que
aprovou a realização do recenseamento e consequente processo de
avaliação do universo fundacional - já previa penalizações pela "falta
ou incompletude das respostas ao questionário e da disponibilização da
documentação pelas fundações".
Porque
não foram aplicadas? "As sanções previstas na Lei n.oº 1/2012 foram
aplicadas pela Resolução do Conselho de Ministros (RCM) n.oº º13-A/2013,
de 8 de março, e têm vindo a ser mantidas pelas leis do Orçamento do
Estado de 2014, 2015 e 2016", respondeu Maria Manuel Leitão Marques.
A
RCM mencionada foi a que aprovou as decisões finais a aplicar às
fundações participantes e avaliadas no censo, tendo estabelecido que em
relação às "193 fundações identificadas como não respondentes ao censo,
será observado o disposto na lei do Orçamento do Estado para 2013
devendo ainda ser assegurado, no âmbito da regulamentação a produzir
referente ao número de registo de fundações, a não atribuição de número
de registo para obtenção de quaisquer apoios financeiros públicos".
Com
efeito, as leis que aprovaram os OE de 2013, 2014, 2015 e 2016
determinam a proibição de "quaisquer transferências para as fundações
que não acederam ao censo". Apesar destas normas, o facto é que a IGF
detetou um conjunto de irregularidades e ilegalidades.
Questionada
sobre se os organismos que deram estes apoios e as fundações que os
receberam foram, de alguma forma, penalizados, a ministra remeteu a
questão para as Finanças, que é quem tem a competência sobre "o controlo
das despesas do Estado".
Parecer do Conselho
A
ministra da Presidência solicitou um parecer ao Conselho Consultivo das
Fundações (CCF) "acerca das diligências a adotar em relação às
fundações que, à data da realização do Censo, não apresentaram resposta
ao questionário". No parecer que enviou à Presidência do Conselho de
Ministros, a entidade defende que "só por via legislativa será possível
efetuar a respetiva derrogação, facultando-se a tais fundações um prazo
adequado para procederem ao cumprimento das obrigações de registo e
prestação de informação".
"Dado que a
lei-quadro já consagra a obrigatoriedade do respetivo registo, uma opção
seria a de regulamentar essa disposição no sentido de mobilizar as
fundações e os organismos da administração pública responsáveis a
procederem à atualização e completamento do respetivo registo", lê-se no
parecer, com data de 28 de julho. "A existência e conservação de um
registo devidamente atualizado das fundações facultaria um conhecimento
imediato da estrutura dessa natureza que guarnece o país", conclui o
CFP.
Já há mais do que em 2012
O
número de fundações em Portugal é hoje maior do que o registado em
2012. Na altura, o recenseamento realizado concluiu que numa lista de
800 entidades havia 401 fundações avaliáveis, 174 das quais de
solidariedade social. Das 227 restantes, foram desde logo avaliadas 190 a
que acresceram 37 que, num primeiro momento, foram consideradas não
avaliáveis por insuficiência de informação. Foram ainda identificadas
235 fundações que não responderam ao censo, 42 das quais de
solidariedade social.
Assim, e num
universo de 423 fundações, o governo não "mexeu" em 98 e fez propostas
de extinção, redução de apoios ou cancelamento de utilidade pública em
relação a 132, uma vez que as extinções foram pouco mais de uma dezena.
De
acordo com a contabilização do Dinheiro Vivo às listagens publicadas no
site da Presidência do Conselho de Ministros, entre 2013 e 2016 foram
reconhecidas 33 novas fundações, oito das quais ligadas a Instituições
Particulares de Solidariedade Social (IPSS).
Um
número que já é superior às extinções decididas em 2013. Na altura, o
governo propôs a extinção de mais 27 entidades sob a alçada das
universidades, autarquias e governos regionais, que acabaram por chumbar
a intenção do executivo.
A ministra da
Presidência revelou ontem que desde a entrada em vigor da Lei-Quadro
das Fundações, em 2012, deram entrada na Presidência do Conselho de
Ministros 74 novos pedidos de reconhecimento de fundações privadas e
cerca de 300 pedidos de alteração estatutária.
Dados
da Segurança Social indicam que no final de 2015 já havia 220 fundações
de solidariedade social, mais sete do que no ano anterior e mais 30 do
que no final de 2011. Segundo a IGF, 35 de uma lista de 178 não tinham
qualquer beneficiário, utente ou destinatário.
* Da notícia se conclui que muitos funcionários públicos de topo se estão a "cagar" para a hierarquia e fazem o que lhes apetece ou o que lhes convém, isto é sofisticada negligência.
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