"Hello, teacher!"
Ainda não são oito da manhã e há mais de meia
hora que o meu telefone não se cansa de emitir persistentes bips.
"Hello, teacher!", consigo ler, vendo ao lado um emoji, um boneco com o
coração aos saltos e um ramo de flores na mão direita.
O
que será? O telefone está cheio de mensagens, todas a felicitarem-me
pelo "meu" dia: que este feriado viva para sempre no seu espírito;
obrigado pela ajuda nos meus anos mais difíceis; o feriado é apenas um
dia no calendário e você está na sala de aulas todos os dias; um feriado
só? É pouco, deviam dar-vos mais dinheiro e mais férias! Votos que vão
diretamente ao coração e algumas vezes à carteira. Hoje é 10 de
setembro, esclarece-me uma mensagem, o Dia do Professor na China.
Não há país onde o professor se sinta tão emocionalmente compensado
como na China onde é sem dúvida a mais respeitada das profissões. O
professor é considerado um "jardineiro da alma", alguém que se dedica a
transmitir conhecimento de uma forma altruísta, um trabalho árduo que se
estende muito além da sala de aula e que nenhum dinheiro poderá
compensar. Ainda há dias, na luta por um táxi com um grupo de
estudantes, o colega que me acompanhava argumentou "somos professores".
Foi quanto bastou para que o táxi nos fosse cedido e a porta aberta e
fechada para nosso conforto. Jamais me lembraria de invocar esse
estatuto em Portugal e não creio que fosse uma boa ideia.
Há 31 anos que o 10 de setembro é celebrado como o Dia do Professor,
mas a tradição é muito mais antiga. Já no tempo da dinastia Zhou, mais
de mil anos antes de Cristo, os discípulos costumavam comemorar com
cerimónias mais ou menos solenes o dia do aniversário dos seus
professores. Mais tarde, o dia uniformizou-se e passou para 27 de
agosto, a data de nascimento de Confúcio no calendário chinês (28 de
setembro no nosso calendário) e foi em 1985 que se fixou em 10 de
setembro para reabilitar o respeito pela profissão de professor após o
período da revolução cultural. Neste dia, os alunos enviam mensagens,
presentes, escrevem poesias, organizam festas, tudo em honra do seu
professor. As celebrações são amplamente noticiadas e as redes sociais
enchem-se de tributos ao professor, uma manifestação absolutamente
genuína porque não se espera mais em troca do que aquilo que já se tem.
Os alunos trocam entre si mensagens sobre a etiqueta do que pode ser
considerado um bom presente para o professor: nunca dar coisas demasiado
caras ou inúteis; se o presente for demasiado inovador, deve-se
explicar como funciona; nunca perguntar ao professor qual o presente que
quer pois isso pode constrangê-lo; dizer "fiz isto especialmente para
si".
Entre as muitas caixas de chá e ramos de flores virtuais e reais que
recebi, o melhor presente foi um e-mail de um endereço que ainda não
reconheci: "Querida professora, já não se deve lembrar de mim. Fui seu
aluno e a minha primeira impressão quando a vi foi: cheira bem! É que na
altura não estávamos habituados a perfumes na China. Foi você quem me
levou a conhecer o mundo e me deu coragem para olhar as estrelas. Por
sua causa tenho hoje um bom emprego em Pequim e continuo a viajar muito
para o estrangeiro. Ainda me lembro quando me disse que não há atalhos
para o sucesso. Feliz Dia do Professor!" Com o coração apertado,
pergunto-me se haverá um Dia do Professor em Portugal. Se há, ainda não
dei por ele.
*Professora no ISCTE Business School
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
21/09/16
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