Passos Coelho,
o cúmplice perfeito
de José António Saraiva
O que José António Saraiva faz em "Eu e os Políticos" não é imoral, é
bem pior do que isso: o seu livro - chamemos-lhe assim - é um triste
tratado de amoralidade assinado por um homem capturado pela raiva e
algemado pelo desejo cego de vingança em relação a duas pessoas que
odeia: Emídio Rangel e Paulo Portas. Para consumar o crime, viola sem
pudor conversas privadas que terá mantido com familiares dos seus alvos,
ambos entretanto mortos.
Para o disfarçar, estende a traição às fontes
que durante mais de três décadas lhe confiaram segredos na convicção de
que se encontravam perante um jornalista decente. Enganaram-se: quem
conhece José António Saraiva sabe que ele é, há muitos anos, um
alienígena solitário que habita num corpo estranho em que cérebro e
umbigo se fundem, numa devassa egocêntrica que, se não fosse perigosa,
era apenas ridícula.
José António Saraiva é um perigo porque há quem ainda o leve a sério.
Pedro Passos Coelho, seu admirador declarado, comprometeu-se sem
reservas a apresentar publicamente a sua vingança particular sem se dar
ao trabalho de ler a "obra" – e isto dá-nos uma ideia do poder de
sedução que o ex-director do Expresso ainda conserva. Ao
associar-se a um livro assinado por um extraterrestre, Passos Coelho
teletransportou-o para o mundo dos mortais. Deu-lhe existência real. E
com isso criou um facto político impossível de ser ignorado pela
imprensa. Quem não o percebe pouco sabe de política e nada entende sobre
jornalismo.
Passos Coelho voltou atrás e todos dizem que isso lhe fica bem. Que o
humaniza, por admitir o engano. E que o reabilita. Pois. Talvez fosse
interessante perguntar a Paulo Portas - a quem Passos deve o facto de
ter um dia sido primeiro-ministro deste país -, aos filhos de Margarida
Marante e aos familiares de Emídio Rangel se pensam assim. É que há
enganos que não são admissíveis. Pedro Passos Coelho é político há cerca
de 30 anos. É um homem calculista, frio e cerebral – características
que partilha com Saraiva – e sabe medir o alcance das suas decisões. Eu,
que sou um crédulo, admito que Passos possa ter cometido esta rara
leviandade de boa-fé. Mas aqui chegados, de uma coisa ninguém o livra:
será ele quem ficará na memória dos agredidos como o cúmplice perfeito
de José António Saraiva na concretização da sua lamentável mesquinhez.
IN "SÁBADO"
21/09/16
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