HOJE NO
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Good After.
Neste supermercado, a data de validade
é só o início
Está provado que a data de validade é a primeira
coisa para a qual o consumidor olha na hora de escolher um produto. Mas
neste supermercado de combate ao desperdício, esses são números
secundários. Com garantia de qualidade e segurança, a Good After vende
produtos perto da data-limite ou ultrapassados por inovações das marcas.
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Chantal pega numa das gelatinas do caixote.
Neste caso é de morango e limão e tem 64 quilocalorias por porção, mas
aqui isso é secundário. “Supostamente acabou dia 24 de agosto. E agora?
Vai para o lixo?” O ar irónico de quem lança uma pergunta retórica
antecipa já uma resposta pronta. “Claro que não, está ótima. Ainda ontem
à noite comi”, conta a cofundadora de um projeto no qual a expressão
“deitar fora” não existe.
A data que surge a seguir ao “consumir de preferência até” marca o limite temporal até ao qual a marca garante a qualidade do produto. “Mas não quer dizer que a partir desse dia não possa ser consumido com segurança”, garante Chantal. “Pode estar menos límpido, ou menos crocante, mas está apto para consumo.”
Prazos, inovações e bobinas
Ao lado das massas biológicas, dos temperos para saladas ou dos cereais de pequeno-almoço, há uma estante que suscita curiosidade. “Mas e champô, gel de banho, pensos higiénicos e cremes para o corpo? Isso não tem prazo de validade”, dizemos nós, já com alguma segurança. Pois não, mas têm outro tipo de prazo, o das modas e dos produtos descontinuados. Com um frasco azul nas mãos, Chantal explica. “Este champô continua a lavar bem o cabelo, tal como aquele creme continua a hidratar, e os pensos a proteger. Só que a embalagem passou a ser cor-de-rosa e este modelo foi descontinuado.”
Os preços, aqui, podem atingir descontos até 70%. A famosa gelatina,
por exemplo, custava 2,79 euros, e no Good After passou para 1,12 euros.
Numa pesquisa aleatória pelo site da empresa encontra--se facilmente
sumos a 25 cêntimos, noodles a 35 cêntimos, pera desidratada a 25
cêntimos e barritas energéticas a 1,29 euros. Os preços são tão baixos
que até é difícil reunir o suficiente para não pagar os portes de envio.
Isto porque, a partir dos 49 euros, os envios da encomenda - que não
tem limite mínimo de produtos ou preço - são grátis. E agora, desde que
mudaram das instalações de Vila do Conde para a cidade do Porto, criaram
também uma “click and collect store”, ou seja, um local onde os
clientes podem fazer o levantamento das compras encomendadas online
(www.goodafter.com).
“Já temos repetidores, o que para nós é sinónimo de sucesso”, conta a
espanhola que há muitos anos trocou Barcelona pelo Porto e está
decidida a dar ao país mais uma forma de evitar o desperdício.
“Choca-me
a quantidade de coisas que deitamos fora e que podem tão bem ser
aproveitadas”, desabafa. “Olhe aqui este exemplo”, diz-nos, com uma
caixa de barritas de linhaça na mão. “Aqui não é questão de prazos nem
de problemas de stock, aqui são as bobinas que ficam ultrapassadas.”
Estas barritas continuam a ser feitas para a Good After, com prazo de
validade de dois anos como as que vão para os supermercados
convencionais, mas com a imagem dada pela bobina antiga na altura da
confeção. “Mudaram recentemente a imagem do produto e, por isso, as
máquinas que faziam a antiga ficam paradas - menos para nós que não nos
importamos com isso”, conta.
Negócio a crescer
O novo supermercado está dividido
em oito áreas: mercearia; bebidas; saúde e bem-estar; beleza e higiene;
casa, jardim e auto; animais; bio; e comida do mundo. No futuro, as
secções devem manter-se, mas com mais variedade de produtos em cada uma.
“Já percebemos que o bio, por exemplo, interessa a muita gente,
principalmente porque são produtos naturalmente caros.” Dai que o
objetivo de Chantal e dos outros três sócios que compõem a empresa
criada em junho seja aumentar rapidamente as 400 referências que têm no
site.
Sem metas nem datas estipuladas, até porque a própria está a aprender
a lidar com um negócio até agora desconhecido para Portugal, Chantal
sabe apenas que tem dois grandes desafios pela frente: convencer as
marcas de que é um negócio viável, até porque, “infelizmente, ainda
existem muitas que encaram a empresa como um outlet dos seus produtos e
não se querem associar”. Por outro lado, há que convencer os clientes
mais desconfiados. Mas vá lá, noodles a 35 cêntimos e champô a metade do
preço só porque mantém o frasco azul e não o novo cor-de-rosa já nos
parecem argumentos mais do que suficientes.
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