20/09/2016

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HOJE NO 
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Good After. 
Neste supermercado, a data de validade
 é só o início

Está provado que a data de validade é a primeira coisa para a qual o consumidor olha na hora de escolher um produto. Mas neste supermercado de combate ao desperdício, esses são números secundários. Com garantia de qualidade e segurança, a Good After vende produtos perto da data-limite ou ultrapassados por inovações das marcas.
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Chantal pega numa das gelatinas do caixote. Neste caso é de morango e limão e tem 64 quilocalorias por porção, mas aqui isso é secundário. “Supostamente acabou dia 24 de agosto. E agora? Vai para o lixo?” O ar irónico de quem lança uma pergunta retórica antecipa já uma resposta pronta. “Claro que não, está ótima. Ainda ontem à noite comi”, conta a cofundadora de um projeto no qual a expressão “deitar fora” não existe.




O Good After é o primeiro supermercado português a vender produtos próximos do prazo de validade ou até com essa data já ultrapassada. Voltemos à gelatina: estamos em pleno setembro e, por isso, já passou quase um mês desde a data marcada na parte da frente da caixa. “É por isso que a lei criou duas datas”, explica Chantal de Gispert. Existe o limite de consumo, indicado normalmente pelas palavras “consumir até” e que corresponde à data a partir da qual os produtos não podem ser consumidos ou comercializados. Trocado por miúdos, fala-se aqui de carne, peixe, iogurtes e todos os outros frescos que, por razões óbvias, não fazem parte do menu da Good After. Já a expressão “consumir de preferência até” abre um leque tal que permite que os armazéns desta empresa do Porto estejam com as prateleiras repletas.

A data que surge a seguir ao “consumir de preferência até” marca o limite temporal até ao qual a marca garante a qualidade do produto. “Mas não quer dizer que a partir desse dia não possa ser consumido com segurança”, garante Chantal. “Pode estar menos límpido, ou menos crocante, mas está apto para consumo.”


Prazos, inovações e bobinas
Ao lado das massas biológicas, dos temperos para saladas ou dos cereais de pequeno-almoço, há uma estante que suscita curiosidade. “Mas e champô, gel de banho, pensos higiénicos e cremes para o corpo? Isso não tem prazo de validade”, dizemos nós, já com alguma segurança. Pois não, mas têm outro tipo de prazo, o das modas e dos produtos descontinuados. Com um frasco azul nas mãos, Chantal explica. “Este champô continua a lavar bem o cabelo, tal como aquele creme continua a hidratar, e os pensos a proteger. Só que a embalagem passou a ser cor-de-rosa e este modelo foi descontinuado.”

 


Com isto quer dizer que, assim que um produto tem alguma inovação, como uma mudança de imagem ou um ingrediente novo, o antigo, apesar de estar em condições de uso, deixa de ser vendido para supermercados. “É aí que nós entramos em ação”, conta. “Contactamos esses fornecedores e mostramos a nossa disponibilidade para comprar, a um preço reduzido, esses produtos, de modo a vendê-los também muito mais barato do que é habitual.”

Os preços, aqui, podem atingir descontos até 70%. A famosa gelatina, por exemplo, custava 2,79 euros, e no Good After passou para 1,12 euros. Numa pesquisa aleatória pelo site da empresa encontra--se facilmente sumos a 25 cêntimos, noodles a 35 cêntimos, pera desidratada a 25 cêntimos e barritas energéticas a 1,29 euros. Os preços são tão baixos que até é difícil reunir o suficiente para não pagar os portes de envio. Isto porque, a partir dos 49 euros, os envios da encomenda - que não tem limite mínimo de produtos ou preço - são grátis. E agora, desde que mudaram das instalações de Vila do Conde para a cidade do Porto, criaram também uma “click and collect store”, ou seja, um local onde os clientes podem fazer o levantamento das compras encomendadas online (www.goodafter.com).
“Já temos repetidores, o que para nós é sinónimo de sucesso”, conta a espanhola que há muitos anos trocou Barcelona pelo Porto e está decidida a dar ao país mais uma forma de evitar o desperdício.
“Choca-me a quantidade de coisas que deitamos fora e que podem tão bem ser aproveitadas”, desabafa. “Olhe aqui este exemplo”, diz-nos, com uma caixa de barritas de linhaça na mão. “Aqui não é questão de prazos nem de problemas de stock, aqui são as bobinas que ficam ultrapassadas.” Estas barritas continuam a ser feitas para a Good After, com prazo de validade de dois anos como as que vão para os supermercados convencionais, mas com a imagem dada pela bobina antiga na altura da confeção. “Mudaram recentemente a imagem do produto e, por isso, as máquinas que faziam a antiga ficam paradas - menos para nós que não nos importamos com isso”, conta.

Negócio a crescer
O novo supermercado está dividido em oito áreas: mercearia; bebidas; saúde e bem-estar; beleza e higiene; casa, jardim e auto; animais; bio; e comida do mundo. No futuro, as secções devem manter-se, mas com mais variedade de produtos em cada uma. “Já percebemos que o bio, por exemplo, interessa a muita gente, principalmente porque são produtos naturalmente caros.” Dai que o objetivo de Chantal e dos outros três sócios que compõem a empresa criada em junho seja aumentar rapidamente as 400 referências que têm no site.

Sem metas nem datas estipuladas, até porque a própria está a aprender a lidar com um negócio até agora desconhecido para Portugal, Chantal sabe apenas que tem dois grandes desafios pela frente: convencer as marcas de que é um negócio viável, até porque, “infelizmente, ainda existem muitas que encaram a empresa como um outlet dos seus produtos e não se querem associar”. Por outro lado, há que convencer os clientes mais desconfiados. Mas vá lá, noodles a 35 cêntimos e champô a metade do preço só porque mantém o frasco azul e não o novo cor-de-rosa já nos parecem argumentos mais do que suficientes.


* Good profits.

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