13/05/2016

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HOJE NO
 "JORNAL DE NOTÍCIAS"
VISTOS GOLD
Rede procurava palácios para 
instalar casas de massagens

A rede envolvida em esquemas para atribuição dos vistos dourados queria comprar um palácio em Lisboa, por três milhões e 800 euros, para uma casa de massagens. A revelação surge no despacho de pronúncia do juiz Carlos Alexandre, no qual o magistrado segue totalmente o que diz o Ministério Público e conclui existirem indícios para levar os 17 arguidos a julgamento por crimes de corrupção, prevaricação e tráfico de influência, incluindo o então ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, e o ex-diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Palos. 
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No despacho, o principal arguido no processo, António Figueiredo, então presidente do Instituto de Registos e Notariado (IRN), andou a procurar palácios em Lisboa, acompanhado pelo empresário chinês Zu Xiaodong. O negócio era, no entanto, dirigido a um outro arguido também de origem chinesa, Xia Baoliang, e Figueiredo deu todos os passos para poder consumar a aquisição, juntamente com Jaime Gomes, também ele elemento central no processo Vistos gold.
O primeiro alvo era o Palácio da Junqueira, chegando o presidente do IRN a estabelecer contactos com a empresa de capitais públicos Estamo, proprietária do imóvel.

Macedo queria “fazer coisas”
A negociação desenvolveu-se entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, tendo sido acompanhada pela Polícia Judiciária, através de escutas e vigilâncias. Assim se percebeu que António Figueiredo não seria um mero intermediário. Segundo o despacho de pronúncia, chegou a dizer a Zhu: “Se for preciso eu arranjo um sócio para ficar com o palácio connosco”. Isto no âmbito dos contactos com uma instituição bancária para financiar o projeto de compra do palácio e a criação da casa de massagens.

Chegou a ser feita uma visita ao Palácio da Junqueira. António Figueiredo e Xia Baoliang foram ambos transportados no carro de serviço do IRN, igualmente com condutor do Estado. O negócio gorou-se porque o preço apresentado pelos possíveis compradores foi considerado baixo pela Estamo, que pretendia 4,5 milhões. Mas o presidente do IRN não desistiu. E uma vez que Xia regressava à China em março, Figueiredo continuou a tentar encontrar soluções.

O responsável pelos registos e notariado “ordenou” à secretária do IRN que desmarcasse as visitas a outros palácios já agendadas para conseguir soluções para Xia. E comentou com Jaime Gomes, relativamente a Xia: “Aquela situação da casa de massagens e a ver se estamos com ele, enfim, arranjamos o nosso jantarinho, até com o nosso amigo [referindo-se a Miguel Macedo], mencionando que ele agora vem mesmo com vontade de começar a fazer coisas... e devemos estar envolvidos, e pronto, ajudar”.

Miguel Macedo – recorde-se - está acusado por prevaricação e tráfico de influências devido a quatro situações: terá dado ordens ao diretor do SEF, Manuel Palos, para indicar para Pequim um oficial de ligação favorável aos interesses de Figueiredo e do seu sócio chinês; terá dado indicações para favorecer, em vistos, a empresa Inteligent Life Solutions, do seu amigo Jaime Gomes; tentou interceder no Governo para uma decisão ilegal em sede de IVA, para favorecer Jaime e ainda deu a este seu amigo e ex-sócio documentos reservados de um concurso público.

* Uns verdadeiros artistas.


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