HOJE NO
"OBSERVADOR"
Khalid Malik:
“Temos de pôr as pessoas
à frente da economia”
O economista Khalid Malik, que coordena o Relatório do Desenvolvimento Humano da ONU, afirma que as desigualdades se estão a agravar dentro dos países e que cortar no orçamento não é o caminho.
Khalid Malik tem uma visão prática das escolhas a fazer em economia:
“Temos de pôr as pessoas primeiro e só depois pensar nas políticas para
equilibrar os orçamentos”. Esta é a mensagem deste economista, que
dirige o Relatório do Desenvolvimento Humano da ONU, para a Europa e
para países como Portugal, que nos últimos anos têm cortado no
investimento público em detrimento do crescimento, o que acaba por
prejudicar a criação de emprego e agravar as desigualdades dentro do
próprio país.
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Em Portugal a convite das Conferências de Lisboa,
Khalid Malik falou ao Observador e disse que hoje “as desigualdades
entre países têm descido, mas dentro dos próprios países têm aumentado”.
O economista paquistanês afirma que as desigualdades, especialmente a
diferença nos rendimentos das pessoas estão “no centro” dos problemas do
desenvolvimento global, mas que se deve ter atenção a indicadores como a
educação: “A educação influencia o futuro das próximas gerações e está ligada também ao aumento dos rendimentos“.
Sobre as desigualdades que afetam os países mais desenvolvidos,
nomeadamente países como Portugal sob fortes medidas de austeridade, o
economista considera que a visão tem de ser mais equilibrada. “Há quem
acredite que esta obsessão com equilibrar o orçamento é uma ideia
terrível quando falamos sobre uma moeda como o euro. Ao mesmo tempo,
acredito que é possível gerir qualquer nível de dívida. Mas, se
cortarmos [o orçamento], o crescimento vai descer e vai ser preciso
cortar mais. Ao mesmo tempo, o desemprego aumenta e acabamos por
influenciar a economia durante um longo período de tempo”, conclui
Khalid Malik.
Trabalhando de forma muito próxima com as Nações
Unidas, o economista paquistanês diz que esta organização tem de se
adaptar à realidade porque “o mundo está a mudar rapidamente”. E é
preciso “estar à frente das tendências e não segui-las”. “A ONU é
antiquada em termos institucionais e de burocracia. Tem de ser mais
pró-ativa e tentar resolver os problemas, em vez de ser encarada pelos
Estados como uma solução de último recurso“, explica ao Observador. Um fator decisivo neste sistema é, segundo Malik, a liderança. “A liderança importa. Uma instituição com uma boa liderança tem um melhor desempenho“, diz Khalid Malik que já ocupou várias posições nesta organização dentro do Programa para o Desenvolvimento.
Sobre
a corrida à liderança da ONU, Malik considera-se amigo de Guterres e
deseja-lhe “muita sorte” no processo de seleção para o secretário-geral.
Lembra, no entanto, que apesar de haver mais transparência na escolha a
nível da Assembleia-geral — através das audições públicas e das
candidaturas serem mais escrutinadas –, a escolha vai ficar a cargo do
Conselho de Segurança.
* Vivemos na economia da desumanidade!
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