HOJE NO
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Eutanásia.
Petição chegou hoje ao parlamento
com 8300 assinatura
Presidente da Assembleia da República, Ferro
Rodrigues, recebeu hoje depois de almoço a petição pública assinada até
ontem por mais de 8300 pessoas
Hoje, pelas 15h30, o presidente da AR,
Eduardo Ferro Rodrigues recebeu a petição pública assinada por mais de
8300 pessoas pela despenalização da morte assistida.
.
Cumpriu-se assim a
ideia inicial de forçar a discussão no parlamento, objetivo que os
proponentes do manifesto do movimento Direito a Morrer com Dignidade -
que lançou a petição - nunca esconderam.
“Claro que se desencadeámos
este processo foi para tentar que ele desembocasse num final feliz”,
considera ao i Laura Ferreira dos Santos, uma das promotoras da
iniciativa. E o fim feliz é, neste caso, o início da discussão em São
Bento.
Já para João Semedo, outro dos promotores, a entrega das assinaturas
na AR é “um convite aos deputados, aos grupos parlamentares e aos
partidos para tomarem a iniciativa e apresentarem os seus projetos de
lei que conduzam à despenalização da morte assistida”. O médico e antigo
dirigente do Bloco de Esquerda tem sido um dos maiores animadores da
demanda, e espera agora que a “discussão da petição no plenário seja
esclarecedora quanto à necessidade de a Assembleia cumprir a sua função
legislativa e não continuar a adiar um problema que, mais cedo ou mais
tarde, surge na vida de todos nós”. João Semedo considera que “é verdade
que até agora ainda nada mudou”, mas também argumenta que nunca, até
agora, a sociedade tinha “ido tão longe na afirmação tão forte, tão
plural e tão representativa desta vontade de admitir a eutanásia”.
Para Laura Ferreira dos Santos, a chegada das assinaturas à
Assembleia tem um significado ainda mais pessoal. “Durante muitos anos,
lutei sozinha por isto.”
Treze anos depois de se ter debruçado sobre estas questões e mais de
700 páginas escritas sobre o tema distribuídas por dois livros -
“Ajudas-me a Morrer” e “A Morte Assistida e Outras Questões de
Fim-de-Vida” -, Laura Ferreira dos Santos diz ter a sensação “de dever
cumprido”.
Embora afastada dos debates públicos por incapacidade física,
decorrente das metástases ósseas que a assombram desde 2011 [foi, aliás,
a meio de uma sessão de fisioterapia que nos falou], tem seguido de
perto os passos dados pelo movimento que lançou. “Finalmente há um grupo
de cidadãos que mostra decididamente que está interessado em discutir a
questão e que isto lhes interessa muito.”
Processo moroso
Sobre o que se vai passar após 26 de
abril, Laura Ferreira dos Santos não tem dúvidas de que se tratará de
um processo moroso, mas que já não estará nas suas mãos.
“Independentemente do que irá acontecer, é uma primeira vitória. Pelo
menos estamos a dar voz a pessoas que não a tinham, e isso, só por si, é
algo bom”, considera. “Nós fizemos a nossa parte, as pessoas fizeram a
sua parte ao subscrever a petição, agora depende dos deputados darem a
última palavra.”
Desde que o movimento que pede a despenalização da
morte assistida foi lançado, em novembro passado, que a fundadora Laura
Ferreira dos Santos começou a receber na sua caixa de correio eletrónico
pedidos de ajuda, alguns de pessoas verdadeiramente desesperadas.
“Recebo emails de pessoas doentes que estão num sofrimento atroz e não
sabem com quem falar, sentem-se sozinhas”, conta. “Tento sempre dar uma
palavra de conforto, dizer aquilo que posso dizer e que não vai contra a
lei.”
Para a fundadora do Direito a Morrer com Dignidade, podiam
“evitar-se muitos casos até de tentativa de suicídio se os médicos
pudessem falar abertamente sobre estas questões e, claro, se houvesse
uma despenalização”, considera.
Os suicídios de pacientes que não aguentam a pressão de um novo
tratamento também não são uma realidade desconhecida para Laura Ferreira
dos Santos - que, aliás, já falou publicamente sobre a hipótese de
cometer suicídio à revista “Visão”.
* Temos de respeitar quem é doente sem solução.
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