HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Teodora Cardoso responde a críticos:
"tenho a ideologia da
racionalidade económica"
A presidente do Conselho de Finanças Publicas
mantém que o Governo é optimista no cenário macroeconómico, mas vê
melhorias no programa face à estratégia inscrita no Orçamento do Estado.
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"Sobre
a ideologia há uma ideologia que tenho: o respeito pela racionalidade
económica" afirmou Teodora Cardoso, no Parlamento, respondendo aos que
criticam o seu Conselho das Finanças Públicas de promover análises
enviesadas do ponto de vista ideológico. Na Comissão de Orçamento e
Finanças, que visitou terça-feira de manhã, a economista foi confrontada
com a defesa de cortes de despesa pública e de ajustamento orçamentais
fortes. Na semana passada, o PS, através do deputado João Galamba,
acusou mesmo o CFP de basear as análises em "determinada doutrina
económica e orçamental".
A presidente do CFP não gostou, refutou, e foi mais longe: "há um
elemento que favoreço que é o de fazermos políticas de oferta face a
políticas de procura", ou seja, Portugal precisa de reformas estruturais
que aumentem a competitividade, precisa de reduzir a dívida publica
para não arriscar crises de financiamento, e não precisa de alicerçar a
estratégia económica em estímulos ao consumo e à procura interna. "Se é
ideologia eu assumo que é ideologia" continuou, gerando o único momento
de sobressalto numa audição de resto calma, reforçando que,
independentemente de opiniões e análises diferentes, "acima de tudo está
a racionalidade económica que tem de ser aceite".
Para Teodora Cardoso, as políticas do lado da procura falharam no
passado, sendo uma resposta desadequada ao desafio competitivo que o
país enfrenta e que se colocou em larga escala com a abertura da
concorrência aos países do Leste europeu. Antes já tinha recordado os
três princípios que o CFP defende que devem governar os processos de
ajustamento orçamental em países muito endividados: devem ser "fortes"
pois "ajustamentos orçamentais por pequenos passos não resultam"; devem
ser assentes "sobretudo na despesa"; e "esse ajustamento do lado da
despesa deve incidir em ganhos de eficiência, sobretudo em despesas mais
rígidas".
A presidente do CFP atirou assim aos que acusam o CFP
de ser parcial nas análises, uma crítica que chegou em primeiro lugar do
PS que, na semana passada, após o parecer do Conselho ao cenário
macroeconómico do Programa de Estabilidade, onde considerou que o
governo continua a ser optimista, acusou a instituição de favorecer
políticas de austeridade, lembrando – como já havia feito em Janeiro –
que o CFP elogiou os cortes de Vítor Gaspar em 2012.
O deputado
socialista não estava presente na audição, mas esta é uma crítica que se
ouve à esquerda. O Bloco de Esquerda defendeu que as prescrições do
Conselho, nas finanças públicas e nas reformas estruturais, seguindo de
perto as da Comissão Europeia, implicam "cortar na despesa do Estado,
desregular o mercado de trabalho e privatizar a segurança social",
afirmou Paulino Ascenção.
Programa de Estabilidade melhor que Orçamento mantém optimismo
Na
audição na Comissão de Orçamento Finanças e Modernização
Administrativa, a Presidente do CFP defendeu que o Programa de
Estabilidade (PE) deveria ser mais prudente nas previsões de crescimento
e das exportações, e deveria também articular melhor as prioridades
orçamentais com as políticas económicas, avisos que já faziam parte da
análise ao cenário macroeconómico publicada há uma semana. Novidade é
que a presidente da instituição fiscalizadora das contas públicas também
vê uma evolução positiva face ao Orçamento: o Governo espera que o
investimento e as exportações sejam os motores do crescimento, enquanto
no Orçamento era dada prioridade ao consumo e à procura interna.
"Houve
uma melhoria muito importante entre o que foi o cenário subjacente ao
Orçamento e o subjacente ao Programa de Estabilidade e essa melhoria diz
respeito aos motores do crescimento. No cenário orçamental olhava-se
muito mais para a procura interna (…). Isso foi alterado no programa de
estabilidade onde se dá muito mais realce às exportações e
investimento", afirmou no Parlamento, avisando no entanto que a falta de
prudência nas previsões macroeconómicas, em particular na estimativa da
procura externa, é um risco que deveria ter sido acautelado, pois pode
afectar a confiança dos investidores e pode implicar surpresas
desagradáveis no futuro". O CFP defende ainda uma melhor articulação
entre o Plano Nacional de Reformas e o Programa de Estabilidade, que
amanhã estarão em discussão no parlamento.
"Para haver essa
ênfase no investimento e nas exportações [como definido no Programa de
Estabilidade] são necessárias medidas estruturais que em princípio os
dois documentos poderiam referir. Pareceu-nos que havia uma falha na
articulação entre a política e a política económica", afirmou,
acautelando que a análise final do CFP ao Programa de Estabilidade e ao
Plano Nacional de Reformas só será publicada daqui a uns dias, e que até
lá ainda farão muito trabalho de análise.
Os reparos foram
acompanhados pela oposição, com Cecília Meireles do CDS a querer também
saber como é que o governo conseguirá o ajustamento na despesa a que se
propõe até 2020, e a questionar Teodora Cardoso sobre a eventual
necessidade de um plano B de ajustamento este ano. Margarida Balseiro
Lopes, do PSD, além das previsões de crescimento, mostrou-se preocupada
com os riscos na execução orçamental deste ano, apontando desvios nas
receitas fiscais e nas receitas de contribuições sociais.
A
presidente do CFP sublinhou que boa parte das advertências que faz sobre
optimismo nas projecções existiram também com outros governos e
programas de estabilidade, e considerou que "ainda é cedo" para se
perceber o que está a acontecer com a execução orçamental deste ano.
Do
lado do PS, Paulo Trigo Pereira defendeu as contas do Governo,
lembrando que é o CFP, e não o Governo, que neste momento tem a previsão
de maior crescimento de consumo privado, e argumentando que os
principais destinos de exportações nacionais – Espanha, Alemanha, França
e Reino Unido – estão com um cenário económico a "correr relativamente
bem". Na resposta Teodora Cardoso reafirmou que gostaria de ver mais
prudência pois "há incertezas em todos os casos e as incertezas vão na
mesma direcção, a de poderem ser piores do que está previso".
* Temos um grande respeito pela presidente do CFP mas lembramo-nos muito bem da "simpatia" com que este organismo tratou o governo anterior em 2012.
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