24/03/2016

PAULA COSTA

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Ranking da felicidade 
- que tristeza

No passado dia 16/03 foi divulgado em Roma o Relatório Mundial da Felicidade de 2016, cujos resultados indicam uma posição privilegiada de Portugal numa lista que abarcou 157 países. Senhoras e senhoras, tenho o prazer de vos comunicar de obtivemos um dignificante 94º lugar – anteriormente ocupávamos o 88º, contudo conseguimos a esplêndida heroicidade deprimente de nos sepultarmos ainda mais e descer 6 lugares na listagem.

Foram analisados aspetos como o PIB per capita (a riqueza por pessoa), a esperança média de vida, o apoio social da comunidade, a confiança (calculada através da perceção de corrupção), a liberdade para tomar decisões e a generosidade – os quais devem ser avaliados pelos habitantes numa escala de 0 a 10.

Então porque é que somos tão infelizes? Eu diria – sem rodeios nem palavras bonitas - que é por termos mau feitio. De um modo massificado, somos peritos incomensuráveis em censurar, apontar o dedo, sentenciar, menosprezar qualquer alvo que passe pela esplanada onde gostamos de estar a praticar essa insigne atividade do mal-falar. De facto temos estado cercados de corrupção/roubos sofisticados, o que é indiscutivelmente desanimador; contudo o desejo de preencher os bolsos presunçosamente até abarrotar é transversal a todas as faixas sociais – não sendo restrito daqueles, por exemplo, que nós mesmos sentamos lá em cima atrás de uma secretária dispendiosa. Somos especialistas de gabarito em vaidade, ostentação, hipocrisias, em jogos imaturos do “Quem tem mais”. Temos a cabeça repleta de lojas, de modas, de aparências, de coscuvilhices decursivas de má sensatez. Temos a mente apinhada de realityshows e novelas.

Pode faltar-nos efetivamente a riqueza pessoal, sem que muito possamos fazer quanto a isso, por outro lado os habitantes do Kiribati, um país humilde que se afunda progressivamente devido à elevação das águas, são descritos como “príncipes do riso e da amizade, da poesia e do amor”, provando assim o quanto é possível ser feliz com tão pouco. Quanto a apoio social da comunidade, a confiança ou generosidade, realmente não sei se haverá muito a fazer por nós, pois não vejo grande compromisso comunitário com honestidade, solidariedade, educação, civismo, ciência, ambiente – sendo fatores assim que realmente conduzem um país a bons resultados de que todos podem beneficiar. Não vivemos em guerra, não sofremos com fome, não padecemos de doenças epidémicas graves, até temos um bom clima. A nossa maior infelicidade é sermos os príncipes do maldizer.

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
22/03/16

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