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"PÚBLICO"
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Portugal tem 82 centros de referência
nos hospitais, 60 foram "chumbados"
Coimbra fica com o único centro de referência para transplantes cardíacos em Portugal. Há três hospitais privados na lista de locais considerados de topo para o tratamento de determinadas doenças.
Não há encerramentos nem concentração de serviços, pelo menos para
já. Os hospitais continuam a ter as mesmas valências. Mas, a partir
desta sexta-feira, os portugueses passam a saber, preto no branco, quais
são os 82 centros considerados de topo para o tratamento de
determinadas doenças ou procedimentos muito complexos e caros, os
chamados centros de referência nacionais. Só estes poderão ser
integrados nas redes de referência europeias.
A escolha promete
despertar alguma polémica, porque a maior parte destes centros (que
foram seleccionados por uma comissão de peritos) fica localizada nos
grandes hospitais das grandes cidades, basicamente Lisboa, Porto e
Coimbra. Há também centros em três hospitais privados (duas unidades da
CUF, Hospital da Luz, Hospital da Cruz Vermelha) na lista que é
divulgada esta sexta-feira à tarde pelo ministro da Saúde no Centro
Cultural de Belém, em Lisboa.
Mas o que muda para os doentes? Por
enquanto, não haverá grandes alterações, porque para que um paciente
seja tratado num destes centros precisa primeiro de ser encaminhado pelo
seu clínico assistente. Só quando houver liberdade de escolha – e o
ministro Adalberto Campos Fernandes já se mostrou disposto a abrir um
pouco esta porta - será possível seleccionar o hospital em que se é
tratado, independentemente da área de residência.
Para já, o que
se fica a saber é que, em 19 áreas clínicas, foram apresentadas 134
candidaturas e seleccionadas 74 (que na realidade correspondem a 82
instituições, se considerarmos todos os serviços, uma vez que há centros
que vão funcionar em consórcio, o que é novidade em Portugal). Os que
não foram escolhidos não serão prejudicados, porque continuam a fazer o
que faziam. "Isto não serviu para seleccionar centros especializados,
mas sim centros altamente especializados”, sublinha Alexandre Diniz, da
Direcção-Geral da Saúde (DGS) e membro da comissão de peritos que
escolheu as unidades.
“Havia três caminhos possíveis. Um era
proibir [a actividade dos que não têm casuística suficiente para tratar
determinadas patologias], outro era deixar tudo como está, e o terceiro
era ter uma situação intermédia em que se faz uma selecção e se deixa o
mercado funcionar", explica Jorge Penedo, coordenador do grupo de
trabalho que avaliou a situação e propôs este modelo.
Os
centros de referência são, nas palavras dos peritos, “unidades com
reconhecidos conhecimentos técnicos “para dar resposta a doentes com
situações clínicas que exigem “uma especial concentração de recursos ou
de perícia devido à baixa prevalência da doença, à complexidade no
diagnóstico ou tratamento e aos custos elevados”.
Para
desempenharem adequadamente a tarefa a que se propõem devem ter equipas
multidisciplinares experientes e altamente qualificadas e dispor de
estruturas e equipamentos médicos muito especializados. Têm ainda que
possuir competências nas áreas do ensino e formação e investigação e são
obrigados a publicar os seus resultados, sendo também sujeitos a
auditorias externas.
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Então, a solução agora preconizada implicará o
fecho de alguns serviços no futuro? “O que é natural é que os doentes
comecem a ir mais a estes centros”, admite Jorge Penedo, que assume que o
modelo “precisa de ganhar maturidade”. “Esta solução não vai salvar a
vida de todos os portugueses, mas vai representar um avanço
significativo. Os profissionais passarão a trabalhar mais em equipa.
Alguns [hospitais] deixarão de fazer coisas que fazem hoje”, sintetiza.
São seis dezenas as unidades que ficaram de fora deste processo de
reconhecimento que tem um prazo de validade de cinco anos. No
transplante de coração, por exemplo, apesar de serem quatro as unidades
hospitalares que o asseguram em Portugal (hospitais de Santa Marta e de
Santa Cruz, em Lisboa, e São João, no Porto), só o Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra foi seleccionado como centro de referência
nacional.
Mais uma vez, um doente que precise de um transplante
cardíaco pode optar por este hospital? "Se muitas pessoas escolherem os
centros de referência, podem ter que se sujeitar a maiores tempos de
espera", antecipa o coordenador do Programa Nacional Para as Doenças
Cardiovasculares, Rui Cruz Ferreira, para quem são necessárias as quatro
unidades que fazem transplante cardíaco em Portugal (a comissão que
avaliou a situação considerou, porém, que um destes seria dispensável).
“Não é uma questão de condições, mas de casuística", enfatiza.
“Não
é uma questão de casuística pura e dura. Também conta a diferenciação
dos profissionais, os recursos, a apresentação de resultados”, contrapõe
Jorge Penedo. Seja como for, repete Alexandre Diniz, “o doente não pode
chegar lá sozinho com um papel, tem que ser clinicamente referenciado”.
No futuro, poderá haver “um desnatamento natural e progressivo”,
reconhece, ao mesmo tempo que nota que o objectivo não foi o de encerrar
serviços.
"Não é um carimbo eterno"
O
processo arrancou há já alguns anos e acelerou na sequência da
directiva de cuidados de saúde transfronteiriços, que refere
expressamente a criação deste tipo de centros, os únicos que podem ser
integrados nas redes europeias de referência, cujo concurso abre já para
a semana.
Em Portugal, depois de o primeiro processo de
selecção ter arrancado no ano passado em cinco áreas – epilepsia
refractária, onco-oftalmologia, paramiloidose familiar, transplantes
pulmonares, do pâncreas e hepáticos -, foi aberto novo concurso para
mais uma série de outras especialidades, nomeadamente patologias raras
como as doenças hereditárias do metabolismo, que ficam concentradas em
quatro unidades (duas no Porto, uma em Coimbra e outra em Lisboa).
Nesta
fase, avançam também as áreas das cardiopatias congénitas e da
cardiologia de intervenção estrutural, tal como outros cancros - o do
recto, testículo, esófago, entre outros. “Isto é o início, não é um
carimbo eterno. E não há grandes novidades”, desdramatiza o director do
Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, Nuno Miranda, apesar de
admitir que, no futuro, alguns hospitais possam deixar de fazer o que
fazem actualmente.
Esta solução, volta a frisar, não implica,
porém, proibir os que ficam de fora de continuar com a sua actividade,
“Os centros de referência têm obrigações decorrentes [dessa
classificação] e, eventualmente, benefícios financeiros. Mas isto não
tem a ver com a rede de referenciação de oncologia, que foi aprovada há
meses e que, por enquanto, é um documento de intenções. Ainda há
hospitais que fazem tratamentos que não deveriam fazer", diz o médico.
"Isto não se extingue por decreto", remata.
Esta sexta-feira, os
escolhidos vão receber uma placa distintiva “para que a população saiba”
quais são e, no Portal da Saúde, será possível localizá-los através de
georreferenciação, diz Alexandre Diniz. Numa segunda fase, os centros
vão ter um modelo de financiamento específico que ainda não está
definido, adianta o Ministério da Saúde.
A partir da próxima
quarta-feira, os centros podem ainda candidatar-se à integração nas
chamadas redes de referência europeias, um processo que durará três
meses, explica Alexandre Diniz. “A Comissão Europeia exige que os
centros sejam reconhecidos pelo Estado de origem com base em critérios
científicos e específicos por áreas. Este processo foi muito moroso e
minucioso”.
Guimarães não compreende por que ficou de fora.
Há um centro hospitalar, o do Alto Ave (Guimarães), que se candidatou a centro de referência de doenças hereditárias metabólicas mas, olhando para a lista das unidades escolhidas, percebe-se que ficou de fora.
“É
uma surpresa”, reage Olga Azevedo, cardiologista que coordena a unidade
de doenças lisossomais de sobrecarga, que se integram no grande grupo
das doenças metabólicas. A médica, que ignorava ainda o resultado final
do concurso, sublinha que o hospital respondeu “a todos os requisitos” e
cumpre “todos os critérios” e alega que esta unidade é a que mais
doentes acompanha nesta área. “
Temos casuística (180 casos de doenças
lissossomais de sobrecarga), temos experiência, e até somos consideramos
centro de excelência” para o diagnóstico e tratamento destas
patologias, frisa.
"Nas doenças lisossomais, somos o maior centro a
nível nacional e um dos maiores centros europeus, por razões genéticas e
históricas", argumenta. Em Portugal, a região de Guimarães é aquela
onde se concentra o maior número de casos do grupo destas doenças.
Sem
conseguir entender por que razão apenas foram seleccionados "grandes
hospitais das grandes cidades" – e no caso específico das doenças
metabólicas foram seleccionados dois hospitais do Porto, o São João e o
Santo António -, Olga Azevedo diz que o número de doentes está
constantemente a aumentar.
Outros especialistas, que pediram para
não ser identificados, põem em causa a constituição da comissão nacional
que atribui o reconhecimento por integrar elementos de hospitais que se
candidataram e que agora foram contemplados.
* Com este projecto é evidente que a satisfação não colhe unanimidade mas é um ponto de partida, ficar parado é morrer.
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