11/02/2016

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HOJE NO 
"PÚBLICO"


Já há atrasos de três semanas 
nas aulas de Matemática do 10.º ano

As respostas a um inquérito lançado pela Associação de Professores de Matemática (APM), na passada semana, estão a confirmar os alertas feitos por esta organização sobre a “impossibilidade” de se cumprir o novo programa de Matemática A do ensino secundário, aprovado por Nuno Crato, e que começou este ano lectivo a ser aplicado ao 10.º ano, revelou ao PÚBLICO a presidente da APM, Lurdes Figueiral.
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Segundo esta professora, as 80 respostas já recebidas – o inquérito vai continuar activo - dão conta de “atrasos significativos” no cumprimento do programa que, em média, “correspondem a 12 tempos lectivos ou seja, três semanas”. Das escolas estão também a chegar  informações que apontam para um maior insucesso nesta disciplina entre os alunos do 10.º ano nas notas do final do 1.º período, acrescentou.

Esta foi uma das questões abordadas nesta quinta-feira pela APM num encontro com o secretário de Estado da Educação, João Costa, que se prolongou por mais de duas horas. A APM levou para esta reunião um documento aprovado, em Janeiro, pelo seu Conselho Nacional, onde propõe a suspensão, a partir do próximo ano lectivo, do novo programa de Matemática A e a sua substituição pelo que estava em vigor anteriormente, que foi aprovado em 2002

Segundo a APM este programa deverá ser avaliado ainda este ano de forma a serem introduzidas as reformulações que se achem necessárias com base no “princípio de uma formação matemático para todos no âmbito da escolaridade obrigatória”. Dados “os sinais de alarme sobre a desadequação do novo programa de Matemática que os professores têm vindo a mencionar”, a associação também propôs à tutela que sejam dadas indicações às escolas para elaborarem “o ajustamento curricular que consideram necessário para concluir a leccionação do 10.º ano em curso”.

Entre as críticas que a APM tem feito ao programa aprovado pelo anterior ministro Nuno Crato figuram também, para além da sua extensão, o elevado grau de abstracção e a introdução de conteúdos que até agora só eram leccionados no ensino superior. “É um programa para matemáticos, criado de um ponto de vista do ensino superior e que representa um retrocesso até aos anos 50, a uma abordagem extremamente formalista e teórica, que se distancia da aplicação da Matemática ao dia-a-dia”, criticou Lurdes Figueiral.

Por outro lado, a APM voltou a chamar a atenção para o facto do novo programa de Matemática A se assumir “em continuidade” com o documento orientador para o ensino básico, que começou a ser aplicado em 2103/2014 no 1.º, 3.º, 5.º e 7.º ano de escolaridade, quando os alunos que agora estão no 10.º ano “nunca tiveram qualquer contacto” com os seus conteúdos.

O novo programa de Matemática do ensino básico substituiu o que se encontrava em vigor apenas desde 2007, no ano “em que terminou a sua generalização a todos os ciclos de escolaridades”, o que foi feito “sem qualquer fundamento ou avaliação que o sugerisse”, reafirmou a APM.

A associação também nunca poupou críticas ao programa do básico aprovado em 2013 por Nuno Crato. Considerou que este constitui “um retrocesso” e que integra conteúdos “inadequados” às idades dos alunos. “Na prática, o que está a acontecer é que os alunos começaram de novo a afastar-se da Matemática”, alertou Lurdes Figueiral, acrescentando que essa percepção foi também transmitida nesta quinta-feira ao secretário de Estado da Educação.

Na proposta de Orçamento de Estado para 2016, o Governo já se comprometeu a rever os currículos do ensino básico. 

* O país precisa de coerência na Educação, deixem-se de guerrilhas e construam um projecto.

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