Guterres e Marcelo
finalmente consensuais
Alguém apostava há dez anos
que os dois velhos amigos católicos do grupo da Luz – Marcelo Rebelo de
Sousa e António Guterres – estariam destinados, depois de velhos, a
transformarem-se em personagens consensuais do país. Era difícil.
Marcelo era Marcelo e não era preciso dizer muito mais. Quanto a
Guterres, tinha largado tudo (o cargo de primeiro- -ministro) porque não
queria continuar a contribuir para “o pântano”. Levaram os dois muita
pancada até chegarem à terceira idade e, finalmente, se terem
transmutado em personagens consensuais.
O anúncio da presença de António Guterres nas jornadas parlamentares do PSD é o esplendor desta unanimidade nacional à volta do ex-secretário-geral do PS. É evidente que, antes disto, o PSD já tinha anunciado o seu apoio à candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas. É verdade que Guterres vai às jornadas falar do assunto em que trabalhou nos últimos anos: as migrações. Mas também é claro como água que se Guterres não tivesse atingido já o estatuto de intocável senador da República, nem isso nem o apoio do PSD à sua candidatura à ONU aconteceriam.
Tanto Guterres como Marcelo foram, ao longo das suas carreiras
políticas, tudo menos consensuais. Saíram os dois da vida política ativa
sob uma chuva de contestação que perdurou anos. Fizeram os seus
“retiros” de maneiras diferentes: Marcelo como comentador de TV e
“figura afetuosa” da nação; Guterres num cargo internacional que, como
se percebeu depois, lhe assentou como uma luva, o de alto-comissário
para os Refugiados, afastando-se totalmente da vida política nacional.
Como foi possível ao antigo Guterres “homem do aparelho” do PS,
protetor de António José Seguro e de José Sócrates, transformar-se num
máximo denominador comum é uma história que está por contar. O mesmo de
Marcelo: podemos não acreditar ainda, mas ele agora é o “nosso” homem de
Estado, de forma transcendentemente consensual.
IN "i"
17/02/16
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