Medidas concretizadas:
a linguagem despudorada
da direita
Desde que o governo do PS tomou posse, com o apoio parlamentar dos
restantes partidos da esquerda, no estrito cumprimento do seu programa
de governo, a indignidade e a fratura social, motes do anterior governo,
tem sido corrigida.
Desde o complemento solidário de idosos, ao
rendimento social de inserção, ao aumento do salário mínimo, passando
pela eliminação faseada dos cortes nos salários dos funcionários
públicos e pela reposição das 35 horas de trabalho, pelo fim da
sobretaxa do IRS a partir de 1 de janeiro de 2017, pela redução já em
2016, ou pela reposição dos feriados.
A atual maioria não
esqueceu a dignificação da República desde o início em matéria de
direitos fundamentais, revogando a obscenidade aprovada pela anterior
maioria em matéria de IVG e aprovando a possibilidade de adoção por
casais do mesmo sexo.
O que vem sendo impressionante nos debates
parlamentares não é o natural confronto de ideias e o confronto de
posições que dignificam a democracia. O que vem sendo impressionante nos
debates parlamentares é o despudor com que a direita se revela em
vestes extremistas: com o chão ideológico perdido; apregoando contra a
ideologia, o que é a mais perigosa das ideologias; antidemocrática;
avessa ao antigo consenso quanto à constituição social.
Se o
despudor da linguagem da direita impressiona, ele é útil, porque a sua
perdição deixou de estar ou de se tentar disfarçar e cada uma e cada um
dos portugueses, se já sabia, hoje tem a certeza do que se livrou.
Concretizando:
no debate sobre as prestações sociais, ao vocabulário da direita só
ocorre a palavra “despesa”, numa insensibilidade social sorridente,
quando confrontada com o horror do abandono à pobreza de milhares de
pessoas que são, repito, “despesa”; no debate sobre a eliminação faseada
dos cortes nos salários dos funcionários públicos e a reposição das 35
horas, nunca, no vocabulário sempre sorridente da direita, nunca se
ouviu a palavra “direitos” ou a palavra “trabalhadores” ou a expressão
“jornada de trabalho”, antes ecoando no plenário a abjeta expressão de
objeção a não admitirmos não devolver o roubado nem admitirmos aumento
de horas de trabalho sem aumento de salário – “estão a destruir a boa
compressão de salários”. Para a direita, os funcionários públicos foram
espetaculares ao “ajudarem” no esforço que lhes foi “pedido”, assumindo
assim uma espécie de assalto em que o assaltado agradece ao assaltante.
Na
discussão sobre a IVG, a direita prestou-se a insistir na sua aliança
com a secção tea party portuguesa, fingindo que “só” estava em causa
“taxas moderadoras” e não consultas compulsivas, reflexão
obrigatoriamente doutrinada por médicos objetores de consciência e até
por IPSS, fim do sigilo da decisão da mulher, num dos maiores ataques à
dignidade das mulheres que o pós-25 de abril conheceu.
Se é certo
que a votação do casamento entre pessoas do mesmo sexo contou com o
voto de 18 deputados e deputadas da direita, continua a ser
impressionante que CDS e PSD, ainda em 2016, insistam em não dar um
contributo que seja para uma sociedade mais igual, mais livre, menos
moralizada ou padronizada.
Uma direita que tem por normal, na sua
linguagem implícita, equiparar o direito à greve a uma peste, uma
direita que não consegue, pura e simplesmente não consegue, proferir a
palavra “trabalhadores” ou a palavra “direitos”, é à direita não
reconciliada, mas conciliada com um admirável mundo novo, para nossa
lucidez, despudorado.
IN "EXPRESSO"
16/01/16
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