HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Que se passou hoje na bolsa portuguesa?
. Analistas ajudam a perceber
Além da Mota-Engil, vítima da conjuntura económica em países onde a sua actividade é mais forte, como Angola, o PSI 20 fechou com cinco títulos em queda livre. Analistas explicam ao Económico as razões por detrás desta 'débâcle'.
BCP: -7,76%
O Millennium enfrentou forte volatilidade ao longo da sessão, entre
ganhos de 1,65% e perdas de 13,65%. Terminaria com a segunda pior
prestação do dia no PSI 20, num dia em que a Bloomberg noticiou que o
director de investimento da BlackRock defendeu que a instabilidade
política e os desafios enfrentados pelo sector bancário português já
influenciam negativamente a dívida soberana portuguesa. O 'spread' face
às 'yields' alemãs está no valor mais alto desde Julho, em 2,2%, notou
Scott Thiel.
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A opinião da BlackRock, de que “os investidores de obrigações devem
ser bastante cautelosos quanto investem em instrumentos de dívida dos
bancos portugueses”, é salientada por Paulo Rosa. O economista e
operador da sala de mercados da GoBulling aventa a possibilidade de que a
queda de hoje na banca pode ser justificado pela forma como a gestora
de fundos lançou estas dúvidas no mercado. E questiona: “Se a BlackRock
fala assim sobre obrigações, qual não será o seu pensamento no que diz
respeito a activos financeiros menos seguros como as acções?”
O BCP, tal como o BPI e a generalidade dos bancos da periferia, sofre
também com os receios dos investidores de que o novo plano do BCE para
escrutinar crédito em incumprimento - o que implicou a criação de uma
'task force' da instituição de Frankfurt, a qual proporá "pontos de
acção", segundo explica a Reuters - origine o aumento das imparidades.
No domingo, o porta-voz do Banco Central Europeu afirmou que vários
bancos da zona euro estão a ser questionados sobre os seus elevados
níveis de crédito mal-parado. E este é especialmente elevado em
Portugal, Espanha, Itália e Grécia
Pharol: -7,56%
Novo mínimo histórico da ex-PT SGPS. No balanço dos últimos 12 meses a
'holding' já tombou 66%. O seu maior activo, a brasileira Oi, na qual a
Pharol tem 27,5% do capital, raia o seu mínimo histórico de 22 anos de
presença na bolsa de São Paulo: 2,07 reais (menos de 50 cêntimos), perto
dos 2,06 reais que tocou a 14 de Dezembro. Desde o negócio com a
Altice, a operadora perdeu 60%, e no que vai de 2016 recua 13,7%.
A Oi, operadora mais endividada do Brasil, enfrenta uma necessidade
de refinanciamento de curto prazo da sua dívida num montante superior a
500 milhões de euros, segundo dados da Bloomberg. O vencimento será a 2
de Fevereiro. Num comunicado, a Oi garante ter "boa posição de liquidez e
linhas de crédito disponíveis para cobrir todas as amortizações de
dívida até meados de 2017%. A 'yield' dos cerca de 900 milhões de euros
de obrigações vincendas em 2020 tocam nos 20%, segundo dados da
Bloomberg.
Isto acontece no meio de uma situação económica difícil no Brasil,
país que, segundo dados do banco central, contraiu 3,73% no ano passado e
deverá registar uma redução do PIB de mais 2,99% em 2016.
Sonae: -7,48%
Pior sessão para a companhia em quase seis anos, desde Abril de 2010, num tombo que a atirou para mínimos de Setembro de 2013.
Na próxima quarta-feira, a companhia comunicará os resultados do
quatro trimestre. Até final de Setembro, segundo a comunicação então
enviada à CMVM, registou uma subida de 0,8% nas receitas, para 3,64 mil
milhões de euros.
O caso da Sonae, tal como o da Portucel, “não apresentam qualquer
razão subjacente ao movimento descendente”, nota a equipa de ‘Research’
do BIG, salientando, contudo “a maior exposição da primeira à economia
doméstica (portanto o título mais sujeito a correcções num agravamento
de risco de Portugal)”.
A queda da Sonae dá-se "por arrastamento” da bolsa, considera, por
seu lado, Paulo Rosa, da GoBulling, explicando que “o comportamento da
Sonae costuma ser tirado a papel químico do PSI 20”.
Portucel: -5,85%
Maior tombo diário em quase cinco meses para a papeleira, cujas acções estabeleceram um novo valor mínimo nos últimos 12 meses.
A Portucel é, tal como a Mota-Engil e a Sonae, uma empresa que
exposta ao crescimento em Angola, país que “com a queda do preço do
crude vê-se também bastante pressionada e numa
actual situação financeira extremamente débil”, explica Tiago da Costa
Cardoso, gestor da XTB Portugal.
A Portucel, destaca a equipa de ‘Research’ do BIG, “acaba por ser
mais ‘vítima de si própria e do seu próprio sucesso’, em função da
magnitude da outperformance do título verificada no ano transacto, pelo
que acaba por ser lógico a consumação de movimentos técnicos correctivos
no curto prazo num ambiente de mercado bastante cinzento.”
BPI: -5,54%
A queda do BPI comunga do enquadramento económico do país e da banca
dos periféricos que levou ao tombo do BCP. Desde final de Setembro que o
banco presidido por Fernando Ulrich não fechava uma sessão abaixo de um
euro. Para lá do enquadramento político e económico do país, o BPI
enfrenta uma indefinição da orientação societária, com destaque para a
forma de corresponder à exigência europeia de fazer reflectir na
totalidade a exposição à dívida angolana.
Tiago da Costa Cardoso, gestor da XTB, explica ao Económico que os
bancos não ficam imunes ao que sucede no índice principal, e “em
momentos de aversão pelo risco, os investidores sentem-se bastante
menos atraídos em ter em carteira acções do sector financeiro, até pelo
que este sector tem vivido desde 2008”.
Nas declarações que fez nesta segunda-feira, o responsável financeiro
da BlackRock deu relevo às preocupações de António Costa face à decisão
do Banco de Portugal relativa às cinco emissões de obrigações do Novo
Banco transferidas para o banco mau, BES - o que resultou em perdas de
quase 2.000 milhões de euros, sobretudo em investidores internacionais. A
somar a isto, diz Scott Thiel, o primeiro-ministro teme que o caso
penalize a confiança no sistema financeiro nacional.
Referindo-se à forma como as ‘yelds’ da dívida portuguesa evoluíram,
em contraciclo com as ‘bunds’ alemãs, a equipa de ‘Research’ do BIG
explica ao Económico que “logicamente, esta situação motivou um
'sell-off' massivo por parte dos investidores internacionais da
generalidade dos activos de risco portugueses, sendo de destacar o
efeito particularmente nocivo que impactou os títulos do sector
financeiro (BCP e BPI), sob o risco de vir a ser necessário
capitalizações adicionais no futuro, bem como os títulos que ostentam
níveis de endividamento significativos – dependência e/ou ligações
eventualmente mais próximas ao sector financeiro.
* Fique atento às próximas 'débâcles', estão para breve!
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