HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Bruxelas propôs a
Maria Luís Albuquerque solução para o Banif em Dezembro de 2014
Após a rejeição de vários planos de reestruturação, a Comissão elaborou um “esboço” onde dizia a Lisboa o que tinha de fazer para resolver o problema, de modo a "recuperar totalmente" os 825 milhões injectados pelo Estado no Banif. Venda do banco seria feita de forma gradual, até 2017.
A Comissão Europeia propôs ao anterior Governo uma solução para o
Banif, em Dezembro de 2014, que permitiria resolver rapidamente o
problema do banco, com os activos “tóxicos” a serem colocados num
veículo especial e o negócio saudável a ser vendido de forma gradual,
até ao final de 2017, revela uma carta a que o Económico teve acesso.
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Segundo o documento da Comissão, datado de 12 de Dezembro de 2014, a
solução proposta por Bruxelas permitiria "recuperar totalmente a ajuda
concedida pelo Estado ou pelo menos remunerá-la adequadamente", numa
referência ao capital que o Tesouro tinha injectado no Banif, através de
'CoCo bonds' e acções especiais.
"Um plano de reestruturação feito nestas linhas asseguraria a
viabilidade (de partes) do banco e a sua capacidade de implementar de
forma adequada as medidas de reestruturação, bem como de pagar a
totalidade da ajuda de Estado recebida [825 milhões de euros] ou de,
pelo menos, remunerar essa ajuda de forma adequada", refere a missava
enviada mais de um ano antes da resolução do Banif.
"Se for apresentado um plano de reestruturação baseado nestas linhas,
e partindo do princípio de que todas as informações, modelos e
metodologias são consideradas válidas pelos meus serviços, estou
convencida de que a Comissão Europeia poderia chegar rapidamente a uma
decisão final, que daria ao banco a necessária previsibilidade", refere a
carta assinada pela comissária europeia da Concorrência, Margrethe
Vestager.
A comissária notava ainda que Bruxelas estava a ser paciente com o
Governo português, no que toca ao Banif, devido à necessidade de não pôr
em risco a saída limpa do Programa de Assistência a Portugal. Margrethe
Vestager salientava, no entanto, que era difícil sustentar que o Banif
deveria ter um tratamento diferente do que foi aplicado ao BES, "ainda
para mais quando tem muito menor dimensão". "Por isso, a necessidade de
uma actuação rápida é ainda mais urgente", concluía.
A comissária pedia ao Governo português que apresentasse um plano de
reestruturação "credível", o mais tardar até Março de 2015, nos termos
do esboço elaborado pelos próprios serviços de Bruxelas. Caso contrário,
abriria uma investigação aprofundada ao Banif. Este plano "credível"
não foi entregue e a Comissão abriu de facto uma investigação
aprofundada, em Julho de 2015.
No passado dia 20 de Dezembro, o primeiro-ministro António Costa
anunciou a aplicação de uma medida de resolução no Banif e a venda dos
seus activos "saudáveis" ao Santander, por 150 milhões de euros. A
operação obrigou a uma injecção de capitais públicos no valor de 2,2 mil
milhões de euros, valor a que acrescem os 825 milhões que o Tesouro
tinha a recuperar no Banif. Esta elevada perda para os contribuintes num
banco com a dimensão do Banif tem causado polémica e vai levar à
criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, onde serão
escrutinadas as actuações do anterior e do actual Governo, bem como das
autoridades europeias.
A solução proposta pela Comissão Europeia:
As linhas orientadoras elaboradas pelos técnicos da Direcção Geral da
Concorrência visavam facilitar a aprovação rápida de um plano de
reestruturação do banco. As principais medidas eram as seguintes:
.
- Criação de um "banco bom", bem definido em termos de
clientela-tipo, geografias e produtos oferecidos. Os activos não-'core'
deveriam ser colocados num veículo - que poderia ser um "banco mau" ou
uma sociedade de gestão de activos - com o objectivo de os vender
posteriormente ou de os liquidar. As linhas orientadoras elaboradas
pelos serviços da Comissão não referem as eventuais perdas para o
Estado, que ocorreriam com a criação deste veículo;
- O banco "bom" e o banco "mau"/veículo seriam detidos pelo Estado,
mas teriam administrações separadas e responderiam perante equipas
distintas, no Tesouro;
- Deveria existir um "firme compromisso" para vender o banco "mau"
até 31 de Dezembro de 2017, a um investidor estratégico que não
estivesse relacionado com os antigos accionistas do Banif. A venda
poderia ter lugar com uma dispersão em bolsa (IPO), ou assegurando que o
Estado receberia um return on equity anual de pelo menos 10%;
- O banco "bom" deveria focar-se no segmento das PME, nomeadamente das empresas exportadoras;
- Em termos geográficos, o Banif estaria focado nos arquipélagos dos
Açores e da Madeira. No Continente, estaria presente apenas em Lisboa e
num número restrito de distritos, apenas no "necessário para manter uma
base de depósitos viável". Todas as operações internacionais seriam
vendidas ou encerradas;
- Acabar com todas as transacções com accionistas ou outras partes
relacionadas, incluindo garantias prestadas pelo banco e outras formas
de exposição ao risco dessas entidades;
- Separação efectiva entre o banco "bom" e o banco "mau", sem qualquer transacção ou transferência de activos entre ambos.
* E o que é que a Miss Swapp fez?
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