ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"VISÃO"
Um perigo chamado Kim
O “querido camarada” não terá ainda a bomba H. Mas poderá ter adquirido a possibilidade de atacar nuclearmente a Coreia do Sul, o Japão e até os EUA
O mais jovem ditador do planeta – terá 32 ou 33 anos, feitos a 8 de
janeiro – começou por ser visto, internacionalmente, como uma esperança
para a Coreia do Norte. Educado na Suíça, com gosto ocidentais, o
“querido camarada”, a “pessoa nascida no céu”, o “grande sucessor”,
adora basquetebol (é amigo do mais bizarro ex-jogador da NBA, Dennis
Rodman) e whisky.
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É fã de filmes de ação (Jean-Claude Van Damme é o seu
personagem favorito) e da Disney. Desloca-se em limusinas alemãs de
último modelo e fuma cigarros Yves Saint Laurent. Ao contrário do seu
pai e do seu avô, Kim Jong-un, surge até, por vezes, acompanhado pela
sua mulher, a elegante ex-atriz Ri Sol, ela própria usando malas Chanel
que custam vários salários anuais dos coreanos médios, que lutam
diariamente contra a pobreza abjeta.
Kim, o III, começou por
permitir algumas reformas económicas que fizeram pensar que este regime
dinástico e comunista se ia transformar, à semelhança da China, numa
espécie de autocracia capitalista, com vestes estalinistas. Mas, como
vem mostrar a perigosa escalada de tensão que se sente outra vez desde a
semana passada no Paralelo 38 – a linha divisória entre as duas Coreias
–, a esperança era infundada.
AS CHANTAGENS DE PYONGYANG
Na quarta-feira, dia 6, os
militares vermelhos anunciaram a realização do quarto teste nuclear
efetuado desde 2006 – e de uma bomba de hidrogénio (bomba H), várias
vezes mais potente do que uma mera bomba atómica (bomba A). No sábado,
9, veio a resposta americana, de publicitar a realização de um voo de
B52 nuclear furtivo no Sul da península. Na última segunda-feira foi a
vez da contra-ofensiva norte-coreana, com a publicitação de que mantém
preso, desde outubro, um sul-coreano com passaporte dos EUA, acusado de
espionagem. Kim Dong Chul, um empresário naturalizado norte-americano
que detém uma firma numa das zonas económicas especiais onde companhias
sediadas em Seul tiram partido do baixo custo da mão de obra do Norte,
teve até direito a uma confissão dos seus “crimes” em direto na CNN.
Seguir-se-á, agora, um provável agravamento das sanções da ONU ao país.
Até a China, habitual suporte da Coreia do Norte, instou Kim Jong-un a
abster-se de provocações e a desnuclearizar a nação. Mas o jovem
ditador, no poder desde 2011, manteve, senão mesmo aprofundou, o estilo
autoritário do pai, Kim Jong-il. Usa e abusa da bravata internacional
como forma de estimular a propaganda interna, que, nas três televisões
estatais (duas emitem ao fim de semana e uma apenas no período noturno)
apresentam a Coreia do Norte como uma das “democracias” mais avançadas
do planeta. Embora os boletins de voto tenham, por sistema, apenas um
quadradinho, quase não existam automóveis, e a internet e os telefones
serem só para alguns e mesmo assim espiados pelo regime.
Pyongyang
insiste que é um “paraíso” socialista terrestre, um farol de tecnologia
avançada, apesar de, nas fotos que são divulgadas para a imprensa
internacional, os computadores de topo norte-coreanos se assemelharem às
velhas máquinas de videojogos ocidentais dos anos 80. As proclamações
vindas do Norte são muitas vezes mentirosas, como parece ter sido esta,
do anúncio de que já possui tecnologia para efetuar uma explosão da
bomba H. Podem ter como objetivo ganhar trunfos para obter auxílio
financeiro e humanitário de Seul ou então recordar à velha elite militar
quem manda.
Kim Jong-un não hesita em fazer purgas a eito e já
mandou matar mais de 70 antigos altos dirigentes, entre os quais o seu
próprio tio e mentor, Jang Song Taek. Outros foram enviados para campos
de reeducação política. Famílias inteiras são assassinadas apenas por um
parente cair em desgraça. Mas o resto do mundo continua a não levar a
Coreia do Norte muito a sério. Há no entanto a possibilidade, aventada
por vários peritos nucleares, deste último teste ter sido na realidade
de uma bomba
A miniaturizada.
A confirmar-se, o regime teria pela
primeira vez a capacidade de atingir alvos como o Japão ou até os EUA,
através do seu míssil Taepodong 2/Unha 3 (ver infografia). E o
imprevisível Kim Jong-un já várias vezes ameaçou Washington com um
ataque nuclear “preventivo”…
O PAÍS RELÍQUIA
Algumas excentricidades do mais fechado regime comunista do mundo:
Existem 29 cortes de cabelo aprovados para mulheres, dez para homens.
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Os jeans estão proibidos, são considerados uma manifestação de apoio à América capitalista.
Ninguém pode chamar-se Kim Jong-un ou sequer Jong-un, um apelido muito comum. Quem se chamava assim teve que mudar de nome.
Tem o estádio maior do mundo, 150 mil lugares
Há eleições de 5 em 5 anos, mas só há uma opção de voto nos boletins.
Segundo
a biografia oficial, Kim jogou golfe uma vez. Acertou em 11 buracos
consecutivos e terminou o jogo em 34 tacadas – um “recorde” mundial.
* O patético é que estamos no século XXI com um país destes.
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