O bom princípio
de acreditar nos outros
Filipa Neto, 25 anos, fundou há um ano com
Lara Vidreiro o Chic by Choice, um site de aluguer de vestidos de luxo.
Nesta semana angariou 1,5 milhões de euros de financiamento numa ronda
internacional de investimento.
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Esta empreendedora foi uma das oradoras da conferência do 4.º
Aniversário do Dinheiro Vivo, que decorreu ontem em Lisboa, sob o tema
“O papel das empresas na recuperação da economia”.
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Às tantas, Filipa tocou num ponto que distingue as startups de outras
empresas. Uma vantagem competitiva que também explica o seu sucesso e
que deveria servir de exemplo às empresas de maior dimensão e dos
setores tradicionais.
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“Nós [os empreendedores] somos muito próximos. Falamos bem uns dos
outros. Não nos vendemos por vender, mas porque acreditamos uns nos
outros”, disse.
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E eu acreditei, julgo que acreditámos todos, mais que não seja porque
gostaríamos que fosse sempre assim, entre portugueses, e porque sentimos
alguma vergonha da forma mesquinha como algumas empresas, cada vez
menos, felizmente, ainda competem entre sim, mesmo quando não são
concorrentes.
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Como avisou o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, que abriu a
conferência de ontem , e como alertaram os gestores e economistas que
participaram no debate, as startups não substituem essas empresas, e
vice- -versa.
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Ambas devem coexistir para bem da economia, mas enganam-se os que acham
não ter nada a aprender com quem acaba de chegar ao mundo dos negócios.
As quintas, tão portuguesas, deram lugar a uma rede em que todos
trabalham em conjunto, com um sentido estratégico, e da qual todos
acabam por beneficiar.
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Este é apenas um exemplo da mudança cultural que se impõe às empresas
portuguesas, que têm, sem dúvida, o papel principal na recuperação da
economia, tal como sublinhou o ministro Caldeira Cabral.
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Parece extemporâneo falar de cultura empresarial, quando as empresas
portuguesas sofrem de endividamento excessivo e têm uma dificuldade
enorme de capitalização. Mas também é da mudança de paradigma, da rutura
com as práticas mais antigas que surgem oportunidades de
desenvolvimento.
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Faz sentido, por exemplo, as empresas aceitarem a sua dependência em
relação à banca? Se dependessem dos bancos, os empreendedores não
passariam da fase da ideia, que, como Filipa Neto diz, vale apenas 1% de
todo o esforço de empreender.
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O papel das empresas na recuperação é, de facto, inquestionável. É,
sobretudo, delas que depende o investimento gerador de riqueza, são as
empresas que criam emprego. A recuperação do investimento é, assim, a
grande batalha da economia.
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Serão as nossas empresas capazes de responder às necessidades do país,
ou Portugal só poderá contar com o investimento estrangeiro para
crescer? Acreditar, como no mundo das startups, é um bom princípio.
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Jornalista e diretora executiva do Dinheiro Vivo
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IN "DINHEIRO VIVO"
02/11/15
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