HOJE NO
"OBSERVADOR"
Jovens portugueses deixam emprego
para partir em missões de voluntariado
Este ano, 276 portugueses partiram em missões de voluntariado em África, América do Sul e Central e Ásia. A maioria eram estudantes, recém-licenciados, mas também houve quem se desempregasse para ir.
Cada vez mais jovens portugueses largam o emprego e o conforto do lar
para participarem em missões de voluntariado em países em
desenvolvimento, onde as populações necessitam de todo o tipo de ajuda.
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Segundo
dados da Fundação Fé e Cooperação (FEC), divulgados à agência Lusa a
propósito do Dia Internacional do Voluntariado, que se celebra este
sábado, oito portugueses, com idades entre os 18 e os 35 anos,
desempregaram-se este ano para partir em missão.
Neste momento, quando falamos de emprego e da situação profissional, é muito difícil dar este passo, largar tudo e partir”, mas a verdade é que tem vindo a crescer o número de pessoas que o fazem, disse Catarina António, coordenadora da Plataforma do Voluntariado Missionário, dinamizada pela FEC.
Houve
ainda 12 desempregados que decidiram ocupar o seu tempo em ações de
voluntariado missionário, representando 5% do total das partidas este
ano.
Este ano, 276 portugueses partiram para missões em
África, América do Sul, América Central e Ásia. A maioria (88%)
estudantes, recém-licenciados e pessoas empregadas que aproveitam as
férias para fazerem voluntariado.
Em Portugal, são cerca de 624
que participam em projetos de voluntariado, adiantam os dados,
resultantes de um inquérito feito às 61 entidades que integram a
plataforma, ao qual responderam 44.
Este número de voluntários é
“meramente indicativo porque estamos a falar do universo de 61
organizações e sabemos que em Portugal existem muito mais”, ressalvou
Catarina António.
Nádia Dinis começou a fazer voluntariado
em Portugal, mas quando em 2013 surgiu a oportunidade de integrar um
projeto de mais longo prazo em São Tomé e Príncipe não hesitou.
“Fez
todo o sentido para mim. Na altura, identifiquei-me com a causa da
[associação] Sonha, Faz e Acontece e aceitei o desafio”, conta a jovem.
O trabalho de Nádia na associação começou por ser em Portugal,
mas a ida para a ilha do Príncipe acabou por acontecer naturalmente: “Na
verdade, quando me convidaram para ir e disse que sim não sabia bem ao
que ia, mas não podia ter sido melhor”.
Há muito por fazer ali e as pessoas estão de braços abertos para aprenderem connosco e para nos ensinarem também aquela cultura, que é riquíssima”, mesmo que eles sem sempre o saibam, conta.
Com esta
experiência, a jornalista disse que percebeu que as suas competências
profissionais e académicas “fazem uma diferença enorme naquele lado do
mundo”, sentido que as deve disponibilizar e fazer “o melhor uso delas”,
e aprendeu que “é possível ser feliz com muito menos”.
“Afinal
não é assim tão importante ter o telemóvel mais moderno do mercado e não
é assim tão grave demorar meia hora de carro num percurso que
normalmente se faz em 10 minutos”, sustenta.
Na ilha, muitas
crianças andam uma hora a pé para irem para a escola e “fazem-no todos
os dias com um sorriso na cara, gratos por puderem ir à escola (há
outros tantos que não têm essa oportunidade). Acho que redefini o meu
conceito de felicidade”, disse Nádia.
É tudo isto que “nos dá combustível para voltarmos todos os anos”, rematou.
Há
dez anos que Gabriel Mateus, 42 anos, dedica o seu tempo às crianças
hospitalizadas no IPO de Lisboa. “É a atividade mais egoísta que faço na
minha vida”, confessou à Lusa.
“Recebo muito mais do que
aquilo que dou, são as horas do meu dia que espero a semana toda. É a
última coisa a que falto na vida”, disse o voluntário, contando que “é
uma sensação fantástica” conseguir pôr um sorriso na cara de uma
criança, mas também dos pais.
Gabriel também faz voluntariado em
Nairobi, no Quénia, através do projeto ADDHU – Associação de Defesa dos
Direitos Humanos de assistência a crianças órfãs e famílias que vivem em
situação de pobreza extrema.
Estive lá 20 dias a viver com aquelas crianças órfãs. Nós somos os pais, os irmãos, no fundo somos tudo para eles”, comentou.
* Quando temos notícias sobre esta enorme generosidade solidária sentimo-nos por vezes envergonhados por perceber quão pouco fazemos..
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