Soberania do conhecimento
e missão da universidade
Ainda há menos de mês e meio, o professor
Adriano Moreira afirmava na Universidade de Aveiro, numa reflexão sobre
o desenvolvimento humano, que "nesta permanente luta entre textos e a
realidade, acontece que esta está a levar de vencida os projetos,
exigindo uma enérgica e esclarecida intervenção universitária". E são
muitos os exemplos onde a dinâmica do real parece ser mais rápida do que
a nossa capacidade para a antecipar e lhe dar resposta à altura do que a
Humanidade necessita.
Como tirar o melhor partido da 4.ª
revolução industrial, com a customerização em massa que a caracteriza? A
exigência de mais trabalho intelectual, inerente ao uso de máquinas e
processos mais sofisticados, constitui mesmo uma oportunidade para
inverter a quebra de empregos? Sendo certo que os negócios à escala
global trazem maior acumulação de riqueza que a primitiva revolução
industrial, como melhor a redistribuir? O estado social é, ainda, a
solução apropriada?
E sendo o êxito associado a novos produtos e
invenções precedido por muitos falhanços, como fazer coabitar uma
cultura de assunção do risco com a perceção social de que o sucesso tem
de ser garantido e imediato?
Como não inibir o desenvolvimento dos
países mais pobres ao mesmo tempo que se enfrentam as alterações
climáticas? Como definir e "atacar" prioridades nacionais, como o mar e a
plataforma continental, a nossa atuação no quadro da CPLP, a evolução
demográfica e suas consequências, a correção das assimetrias?
Que
caminhos, afinal, construir, tendo em conta as tensões e conflitos
inerentes às múltiplas escalas e perspetivas: individual e coletiva;
local e regional; nacional e global; de curto prazo e de longo termo?
São
questões que refletem a importância crescente do conhecimento temático,
mas, sobretudo, integrador de todas as disciplinas. E que evidenciam a
importância da apropriação daquele e do bom uso pelos decisores
institucionais e por cada um de nós, possibilitando escolhas mais
fundadas e a participação efetiva de cada vez mais pessoas, num
exercício de plena cidadania e corresponsabilização.
Este não é um
desafio exclusivo das academias, mas é bom que as universidades
portuguesas estejam atentas porque contribuir para a resposta àquelas e a
outras questões faz parte da sua missão.
A estratégia do saber
aparece hoje, claramente, como um fator decisivo à escala mundial; e
como um fator de soberania e identidade nacionais. Era bom que o país
não estivesse distraído!
* Reitor da Universidade de Aveiro
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
15/12/15
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