HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Café à antiga portuguesa
O aroma a café perfuma a Travessa do Pasteleiro, em Lisboa, à
segunda-feira de manhã. Uma família alemã sai da Flor da Selva com
vários lotes de café e um sorriso de missão cumprida na cara. Esta
antiga torrefacção é um dos raros locais onde ainda se torra o café à
maneira antiga.
E Jorge Monteiro é o orgulhoso proprietário
deste negócio que passou de pai para filho e que agora se prepara para
passar à terceira geração da família. Ganhou novos clientes desde que a
luso-descendente Lourdes Picareta realizou o documentário “Lisboa,
Cidade Feita de Luz e de Fado”. O filme, produzido em 2014 para o canal
de canal de televisão alemão ARD e o canal francês ARTE (versão
Francesa), exibia as instalações desta antiga torrefacção de café
instalada na Madragoa há 65 anos. A moda pegou e até hoje já tem dois
pontos de venda no país de Angela Merkel, além das vendas na Amazon.
.
“Estamos a perder o culto do café, mas ainda há quem aprecie a
tradição e as coisas boas da vida”. No interior deste armazém com pouco
mais de 20 m2, as sementes continuam a ser torradas a lenha. “Em toda a
Europa, só há duas máquinas da torra como esta. Uma está aqui e a outra
na Suíça”. Jorge Monteiro é um apaixonado pelo café. Sabe distinguir o
café pelo cheiro e pela cor da mistura, e recorda os tempos em que só
havia meia dúzia de casas na Baixa com máquinas expresso. “O meu pai
começou por fornecer todas as salas de espetáculos de Lisboa, que na
época serviam o chamado café de saco – que era muito bom e tinha um
sabor muito característico”.
Os anos foram passando e a Flor da Selva cresceu com Lisboa,
tornando-se uma referência no comércio especializado, abastecendo ainda
hoje as mais célebres e tradicionais lojas da cidade, como a centenária
Casa Macário. Com o marketing em torno do café e das grandes marcas,
foram muitos os que tentaram convencer Jorge Monteiro a modernizar a
Flor da Selva e mudar para gás, mas, felizmente, sem sucesso. Aqui a
torrefação mantém-se totalmente manual. Nada é automatizado. Produz-se
um café verdadeiramente artesanal, sem qualquer aditivo. É o forno a
lenha que lhe dá um paladar completamente diferente. “Nasci no meio
disto. Gosto do culto do bom café, por isso não faz sentido mudar o
nosso método de trabalho. Só assim é que nos distinguimos dos outros”.
Tal como a empresa que gere, o Sr. Jorge é conhecido de todos os que
vivem e frequentam o bairro, um dos mais antigos da capital. É capaz de
falar durante horas a fio sobre as características das sementes, Robusta
ou Arábica, vindas de todo o mundo: Timor, Angola, Uganda, Malawi,
Nicarágua, Brasil ou Costa Rica. São elas que, depois de cozinhadas, vão
fazer parte dos lotes Flor da Selva – Estrelícia, Magnólia e Orquídea –
também eles fiéis à tradição e ao verdadeiro aroma e sabor a café. Cada
mistura é preparada à mão e, se o cliente desejar, também é possível
personalizar o café e fazer misturas a gosto. Um verdadeiro luxo.
* A qualidade não devia ser um luxo.
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