O incrível xeque-mate
de António Costa
António Costa conseguiu aquilo que todos julgávamos impossível há
dois meses: não ganhou as eleições e acabou indigitado
primeiro-ministro, à conta de ter conseguido romper a histórica
incomunicabilidade entre o PS e os partidos à sua esquerda. É um
xeque-mate histórico, um feito político notável que permitiu um corte
epistemológico com aquelas coisas que não estão na lei fundamental
chamadas “tradição” e “partidos do arco governativo”.
Na campanha eleitoral, Costa não foi talentoso – senão, não as teria
perdido contra a coligação que implantou o programa da troika. Como
negociador, Costa é provavelmente o político mais brilhante da sua
geração. A Câmara de Lisboa foi um palco privilegiado deste talento:
começou sem maioria e acabou amado pelos “Cidadãos por Lisboa” de Helena
Roseta e pelo ex-vereador do Bloco de Esquerda José Sá Fernandes.
Costa é, acima de tudo, um executivo. E um executivo tímido – e,
talvez por isso, foi uma figura menor na campanha eleitoral.
Interessa-lhe, sempre lhe interessou, “fazer coisas”. É óbvio que foi
muito mais feliz como presidente da Câmara de Lisboa do que como
ministro dos Assuntos Parlamentares – um cargo em que a retórica
política, que o cansa, tem um peso enorme.
Foi muito difícil chegar a primeiro- -ministro. Exigiu muito da sua
habilidade de negociador. O governo vai exigir ainda mais do negociador e
do executivo.
As coisas não vão ser fáceis. Para todos, é a primeira vez. Nunca um
executivo PS foi apoiado pelo Bloco de Esquerda e o PCP. Vivemos tempos
de incerteza absoluta no mundo, a nossa economia é frágil e sujeita a
choques externos, Portugal está amarrado ao Tratado Orçamental. Não vem
aí “o fim da austeridade” pela simples razão de que os “compromissos
europeus” a que Costa se obrigou o proíbem. Não sabemos quanto tempo vai
durar o acordo com Bloco e PCP. Mas alguma coisa vai mudar e esperemos
que não seja exactamente para ficar tudo na mesma.
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