27/11/2015

ANA SÁ LOPES

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O incrível xeque-mate
 de António Costa

António Costa conseguiu aquilo que todos julgávamos impossível há dois meses: não ganhou as eleições e acabou indigitado primeiro-ministro, à conta de ter conseguido romper a histórica incomunicabilidade entre o PS e os partidos à sua esquerda. É um xeque-mate histórico, um feito político notável que permitiu um corte epistemológico com aquelas coisas que não estão na lei fundamental chamadas “tradição” e “partidos do arco governativo”.

Na campanha eleitoral, Costa não foi talentoso – senão, não as teria perdido contra a coligação que implantou o programa da troika. Como negociador, Costa é provavelmente o político mais brilhante da sua geração. A Câmara de Lisboa foi um palco privilegiado deste talento: começou sem maioria e acabou amado pelos “Cidadãos por Lisboa” de Helena Roseta e pelo ex-vereador do Bloco de Esquerda José Sá Fernandes.

Costa é, acima de tudo, um executivo. E um executivo tímido – e, talvez por isso, foi uma figura menor na campanha eleitoral. Interessa-lhe, sempre lhe interessou, “fazer coisas”. É óbvio que foi muito mais feliz como presidente da Câmara de Lisboa do que como ministro dos Assuntos Parlamentares – um cargo em que a retórica política, que o cansa, tem um peso enorme.

Foi muito difícil chegar a primeiro- -ministro. Exigiu muito da sua habilidade de negociador. O governo vai exigir ainda mais do negociador e do executivo.

As coisas não vão ser fáceis. Para todos, é a primeira vez. Nunca um executivo PS foi apoiado pelo Bloco de Esquerda e o PCP. Vivemos tempos de incerteza absoluta no mundo, a nossa economia é frágil e sujeita a choques externos, Portugal está amarrado ao Tratado Orçamental. Não vem aí “o fim da austeridade” pela simples razão de que os “compromissos europeus” a que Costa se obrigou o proíbem. Não sabemos quanto tempo vai durar o acordo com Bloco e PCP. Mas alguma coisa vai mudar e esperemos que não seja exactamente para ficar tudo na mesma.


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