ESTA SEMANA NO
"SOL"
"SOL"
Marcelo, o anti-Cavaco, apresenta-se
Podia ser quase uma aula de Direito Constitucional, o que Marcelo
levou à apresentação da sua candidatura na Voz do Operário, em Lisboa. O
Professor deu uma lição sobre o que entende serem as funções
presidenciais, sem poupar recados a Cavaco e apontando Jorge Sampaio
como um exemplo.
Marcelo Rebelo de Sousa não escolheu por acaso aquele que é um dos lugares simbólicos da esquerda em Lisboa.
"Os lugares simbólicos não são apenas de alguns. São de todos",
afirmou logo no arranque de um discurso para uma sala não cheia, mas
muito composta numa tarde de chuva.
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Sem notáveis de primeira linha na plateia, Rebelo de Sousa quis
apresentar-se longe dos partidos. "Não é impunemente que se trata de uma
candidatura verdadeiramente independente".
Com um papel à frente, mas a desenvoltura de comentador
experimentado, Marcelo deu uma lição sobre os poderes presidenciais,
cheia de farpas a Cavaco.
"No que depender de mim tudo farei para tentar não onerar o meu
sucessor com problemas evitáveis", chegou a dizer, depois de sublinhar a
importância de ter em Belém alguém capaz de fazer pontes, como o foi
Sampaio, quando Marcelo era líder da oposição. E de recordar que Eanes,
Soares e Sampaio recusaram soluções de governo maioritárias quando
entenderam que não eram viáveis.
Sem nunca mencionar o actual Presidente, Rebelo de Sousa deixou claro
que o que Portugal vive agora poderia ter sido evitado com alguém em
Belém que tivesse iniciado uma magistratura de influência para as
convergências muito antes das legislativas.
"Quanto maior, mais eficaz e mais duradouro o poder de influência do
Presidente antes de eleições, mais eficaz é depois de eleições", apontou
o Professor, que lembrou a importância de saber todos ouvir.
"Cabemos todos na democracia", frisou, realçando a importância de "não confundir adversários com inimigos".
Marcelo usou até o mote do jovem recém-eleito primeiro-ministro do
Canadá para defender que é preciso "ultrapassar o medo com a esperança",
porque "o que nos une é muito mais importante do que o que nos separa".
Em Belém, Marcelo promete continuar igual a si próprio.
"Pela minha própria maneira de ser, que não enjeito, sou naturalmente
próximo das pessoas. E não vou mudar um centímetro a minha maneira de
ser. Próximo, direito, aberto, frontal, preocupado com problemas, mas
não com problemas etéreos, com problemas concretos de pessoas de carne e
osso", anunciou, arrancando um aplauso entusiasmado à sala.
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Marcelo diz que a forma como os poderes do Presidente serão exercidos
não se anuncia, comentando indirectamente Sampaio da Nóvoa, que disse
estar disponível para dar posse a um governo de esquerda. Mas reforçou
sempre a importância de ter em conta o quadro parlamentar e alertou para
os riscos de ter um governo de gestão durante meses, sem um Orçamento
aprovado.
Marcelo Rebelo de Sousa acha que é preciso ter "humildade
democrática" para "aceitar a riqueza da diversidade". E voltou a afirmar
que "as presidenciais não são uma segunda volta das legislativas".
Para Cavaco, o Professor guardou ainda outras indirectas, ao defender
a importância da moderação no uso das redes sociais. Não é, de resto, a
primeira vez que o comentador critica o actual Presidente por fazer
algumas intervenções fundamentais através do Facebook.
Mas mais importante foi o recado a Cavaco sobre a falta de
oportunidade de uma revisão dos poderes presidenciais defendida
recentemente pelo actual Presidente.
"Percebo que seja tentador", disse Marcelo entendendo o timing de
final de mandato, mas frisando que "é uma decisão que compete ao
Parlamento. Não compete ao Presidente".
Marcelo, que voltou a dar a entender estar disponível apenas para um
mandato para não se deixar condicionar pela vontade de uma reeleição,
quer recuperar a "frugalidade" na função presidencial. E até aí deixa o
que pode ser lido como um recado a Cavaco, dando a entender que quem sai
de Belém deve renunciar às benesses concedidas pelo estatuto de ex
chefe de Estado.
* Se a demagogia pagasse imposto o prof. Sousa teria mais cuidado e menos folclore. Temos memória e lembra-nos deste tribuno na TSF a desancar em Guterres na oposição e elogiar o sr. Cavaco dando-lhe "notas" nunca inferiores a "14", numa altura em que o 1º ministro sr. Aníbal atirava os portugueses para o consumismo, estendendo a passadeira a Champalimaud e Jardim Gonçalves, abrindo também os braços a Ricardo Salgado. Já eram pessoas da sua "entourage" Duarte Lima, Dias Loureiro, Oliveira Costa, Arlindo Carvalho entre outros.
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