ESTA SEMANA NO
"DINHEIRO VIVO"
"DINHEIRO VIVO"
Real Companha Velha. Há 250 anos a
. produzir vinho do Porto por alvará régio
. produzir vinho do Porto por alvará régio
É de 10 de setembro de 1756 o alvará régio de D José I que
institui a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto
Douro. Uma das muitas que o Marquês de Pombal promoveu, no âmbito da sua
política de fomento económico e de reorganização comercial do país, mas
a única que hoje resta em atividade, conhecida por Real Companhia
Velha, nome que se impos desde finais do século XIX (para se distinguir
de uma outra, a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal, criada em
1889, para assegurar a promoção dos vinhos de mesa).
Defender e
valorizar o vinho do Porto, através da regulação da sua produção e
comércio foram as atribuições iniciais da Companhia. Mas não só. Cobrava
impostos para o Estado, abriu caminhos, estradas e pontes na região
duriense, fez o desassoreamento do rio, para permitir a descida dos
barcos rabelos, e esteve na origem do ensino universitário no Porto,
através da Academia Real da Marinha e Comércio que, por alvará régio de
1803, fornecia cursos preparatórios, instrução industrial e de
exercícios de manobras navais. Foi transformada em Academia Politécnica
em 1837 e, mais tarde, na Universidade do Porto.
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Embora nasça por
alvará régio, o capital da RCV foi sempre privado e altamente disperso,
como forma de permitir que a companhia tivesse capacidade financeira
para intervir na Região Demarcada do Douro, comprando os vinhos aos
lavradores e não permitindo que o preço baixasse excessivamente. Para
Pedro Silva Reis, o atual presidente da companhia, "o maior desafio a
que a RCV esteve sujeita foi o de resistir à pressão política da maior
potência mundial à época". Não nos esqueçamos que o Marquês de Pombal
promoveu a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto
Douro precisamente com o intuito de limitar a preponderância dos
ingleses no comércio do vinho do Porto.
Foi a partir de 1960 que
Manuel da Silva Reis, pai do atual presidente da empresa, começa a
comprar ações e fica com a maioria. Hoje, Pedro e Manuel, o seu irmão,
têm 67,5% do capital, sendo que há 2% dispersos e uma participação de
30,5% que são propriedade da Casa do Douro, entidade que o Estado deu
por exntinta e cuja liquidação está em curso. O que vai acontecer à
participação? Está disponível para comprar? Pedro Silva Reis garante que
a questão não faz parte das suas preocupações e que quando chegar o
momento pensará no assunto.
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Com 535 hectares de vinha distribuídos
por cinco quintas (Carvalhas, Cidrô, Aciprestes, Sibio e Casal da
Granja) , onde dá emprego a 214 pessoas, a RCV exporta para mais de 40
mercados. De maior exportador de vinho do Porto, a Real Companhia
evoluiu e hoje é o maior exportador de vinhos do Douro. Dos 22 milhões
que deverá faturar este ano, 52% correspondem já a este segmento. "Houve
uma enorme transformação do mercado nos últimos 40 anos e sentimos a
necessidade de reposicionar a empresa para a fazer voltar a prosperar",
diz.
Com o vinho do Porto "sujeito a uma pressão imensa de volume e
de margem", a RCV decidiu ajustar a sua operação à dimensão das suas
marcas próprias, abandonando as marcas brancas. "Há 20 anos, era uma
questão de honra no setor não baixar o preço de venda do vinho do Porto -
não é o preço de venda ao público, é o preço a que saía das empresas!,
frisa - abaixo dos quatro euros. Hoje, a pressão é para que não baixe
dos três. O mercado nacional, o holandês, o francês, são tudo mercados
que deixaram de ser rentáveis. Tivemos de fazer um golpe de rins muito
grande para manter a empresa rica e dinâmica", garante. "Tudo aumentou
nos últimos 20 anos, os custos naturais, os custos de contexto no Douro,
e o vinho do Porto tem os preços ainda mais baixos. Tivemos de nos
centrar nas categorias especiais e nos mercados de nicho e apostar
crescentemente nos vinhos do Douro como forma de sobrevivência", diz.
Com
os vinhos do Douro a crescer 10 a 12% ao ano, Pedro Silva Reis admite
que, dentro de uma década, ambos os segmentos de negócio possam ter o
mesmo peso nas vendas da companhia. Mas Reis garante que a Real
Companhia será sempre uma empresa de vinho do Porto. "A RCV segue o que
poucos seguem, uma atividade modelar. O vinho do Porto que
comercializamos resulta todo da produção própria. Não compramos uvas
para 'Porto', temos algumas parcerias com alguns lavradores para apoiar o
crescimento do nosso Porca de Murça", explica. E porque os métodos são
os mesmos desde sempre, Pedro Silva Reis não resiste a gracejar: "O
nosso ponto fraco é a inovação, fazemos o mesmo há mais de 250 anos!"
Mas
é facil perceber que o percurso foi difícil. Além das alterações a
nível de produto, em 2011, a empresa vendeu, por 21 milhões de euros, as
suas instalações históricas em Vila Nova de Gaia ao grupo The Fladgate
Partnership. Estas estavam dadas em contrapartida aos espanhóis da
Proinsa, num negócio que trocas de participações cruzadas e a Quinta de
Ventozelo, no Douro. Um negócio que acabou em divórcio e que levou a
nova negociação, desta feita com os proprietários da Taylor's, que são,
agora, senhorios da RCV e que aí continua a fazer o enchimento dos seus
vinhos.
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Pedro Silva Reis atribui à "preserverança" dos seus
antecessores, mas também à sua, a capacidade de ultrapassar as várias
crises com que a Real Companhia se defrontou. E quanto ao futuro?
"Estamos a começar a pensar o programa estratégico a cinco anos. Será
com certeza pautado por um rigor de gestão financeira muito apertado.
Mas agora que as coisas começam a aliviar um bocadinho, poderemos,
eventualmente, considerar pequenas renovações de vinhas e investimentos
pontuais em equipamentos", explica.
O empresário diz-se apostado
em "continuar a lutar para defender o prestígio" do vinho do Porto,
através de uma "política muito consciente e muito responsável", mas
também em dotar a região de uma dinâmica reformista, que traga
prosperidade, sem gerar assimetrias.
* Uma história Real com dois séculos e meio de existência
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