Não, António Costa
não perdeu o “momentum”
Os países anglo-saxónicos costumam usar a expressão latina momentum, utilizada em mecânica, para designar a capacidade de fazer o turning point de um qualquer candidato.
A ideia da vitória esmagadora de António Costa no primeiro debate,
assim como a ideia de que ontem, no debate das rádios, foi
esmagadoramente derrotado, são como as sopas instantâneas: satisfazem a
fome imediata de uma análise rápida de cozinhar, mas são de conteúdo
duvidoso.
Passos Coelho passou a um ataque alternativo, retirando José Sócrates
do terreno: a matéria inflamável tinha sido decisiva para Passos perder
a segunda parte do debate nas televisões, quando Costa lançou o seu
grito do Ipiranga relativamente ao ex-primeiro-ministro e sugeriu a
Passos que fosse debater para a Rua Abade Faria.
Costa tropeçou nos números da condição de recursos, é verdade. Foi a
parte frágil de um debate em que o secretário-geral do PS se mostrou
preparado, convincente, com propostas que podem ser de alcance duvidoso
(a descida da TSU e o despedimento consensual) mas que fazem parte de um
plano que é rigorosamente diferente do do governo que está em funções,
ainda que longe de rupturas a que, aliás, Passos o tentou colar.
Costa foi eficaz a explicar que “a realidade” não se traduz
exactamente nas estatísticas – por exemplo, do emprego – e
principalmente conseguiu desmontar toda a doutrina que,
independentemente dos mandamentos da troika, sempre presidiu ao desejo
ideológico de Passos Coelho.
Os países anglo-saxónicos costumam usar a expressão latina momentum,
utilizada em mecânica, para designar a capacidade de fazer o turning
point de um qualquer candidato. Na realidade, independentemente das
sondagens dos empates técnicos, António Costa está a viver o seu
momentum.
É preciso um cataclismo político e um desastre na campanha eleitoral
para evitar que o PS ganhe as eleições. Se é um facto que António Costa
deixou escapar o momentum a seguir à vitória das primárias, não é crível
que deixe rebentar o seu segundo e decisivo momentum. Se isso
acontecesse, o que não é previsível, o céu cairia de facto em cima de
várias cabeças.
IN "i"
18/09/15
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