HOJE NO
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Balsemão e Marcelo.
A história de uma inimizade com 40 anos
Estiveram juntos no “Expresso”, no PSD e no
governo, mas a amizade entre os dois acabou com Balsemão a acusar
Marcelo de o ter traído.
Quando a filha fez nove anos, Marcelo quis
surpreendê-la e mandou fazer uma tarte de chocolate com nove metros.
“Nem cabia lá em casa”, conta Marcelo, com um ar divertido, no programa
“Alta Definição” da SIC. A vida do professor está recheada destes
episódios. “Tive ideias loucas”, assume.
Para o bem e para o mal, Marcelo é uma personagem ímpar na vida
política portuguesa. É o comentador mais popular do país, mas nunca foi
bem-sucedido na política. É o preferido dos portugueses para ser
Presidente da República, mas o partido não o quer.
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UM SENHOR |
Marcelo segue em frente, quase imperturbável. Ao domingo, no espaço
nobre que tem na TVI, responde aos ataques que lhe fazem como se falasse
de outra pessoa. Comenta a sua própria candidatura presidencial como se
existissem dois Marcelos. Faz campanha em directo, traça perfis
presidenciais que encaixam nele próprio, baralha e volta a dar para
ganhar tempo.
Gosta de surpreender, mas não se surpreende. Parece que as jogadas
dos outros são sempre um cenário que já foi traçado na sua cabeça. “Era
esperável”, disse, há menos de uma semana, quando lhe perguntaram como
reagia ao apoio de Francisco Pinto Balsemão a Rui Rio para Belém.
O militante número 1 do PSD vê em Rui Rio um homem com “provas
dadas”, que é “leal” e “merece confiança”. As palavras “confiança” e
“lealdade” não foram utilizadas por acaso. Balsemão e Marcelo foram
amigos, nos primeiros tempos do “Expresso”, admiravam-se mutuamente, mas
a política deu-lhes cabo da amizade. “Traiu-me várias vezes desde que,
em 1972, o chamei para colaborar comigo no ‘Expresso’”, desabafou Pinto
Balsemão em entrevista ao “Independente”.
Balsemão é lelé da cuca
A relação entre os dois foi
minada pelos episódios que fizeram de Marcelo o professor Marcelo que
conhecemos hoje. Maquiavélico, divertido, às vezes inconsequente, mas ao
mesmo tempo brilhante, inteligente e sedutor como poucos na política
portuguesa. Balsemão traçou-lhe o perfil na última entrevista que deu ao
jornal de que é dono, em 2011. “É uma pessoa superintelegente, mas à
procura de tantos esquemas acaba por trair, não apenas os outros mas a
ele próprio.”
A paciência do fundador do PSD esgotou-se quando era
primeiro- -ministro e convidou Marcelo para colaborar consigo no
governo, no início da década de 80. Balsemão era altamente contestado
dentro do partido. Cavaco, Santana, Helena Roseta e outros críticos
faziam-lhe a vida negra. Freitas do Amaral conta, nas suas memórias
políticas, que “cada conselho nacional do PSD era uma batalha campal, em
que a autoridade do líder era sempre posta em causa”.
Mas o pior para Balsemão era que alguns dos mais duros ataques ao
governo da AD vinham do seu “Expresso”. “O jornal andava a matar o pai”,
diz. Entre outras farpas, Marcelo chegou a escrever que “não há
vergonha nenhuma que haja quem pense que Balsemão foi uma escolha
infeliz ou desastrosa”.
Foi, aliás, no “Expresso” que aconteceu um dos casos mais caricatos
da vida do professor, mas que tão bem o definem. “Na secção ‘Gente’ de 5
de Agosto de 1978 surge uma estranhíssima frase, desinserida de
qualquer contexto: “O Balsemão é lelé da cuca”, recorda o jornalista
José Pedro Castanheira num relato sobre a história do semanário. A frase
foi escrita por Marcelo Rebelo de Sousa.
Balsemão ficou banzado e mandou chamá-lo. “Eu tinha a suspeita de que
que a revisão estava a trabalhar mal e fiz isso para os experimentar.
Infelizmente, verifiquei que era verdade”, justificou Marcelo. “Uns dias
mais tarde, em casa de Balsemão, na Quinta da Marinha, teria lugar um
episódio pouco edificante, com Marcelo a pedir desculpa a Balsemão e a
dizer-lhe que o via como um pai”, conta José António Saraiva no livro
“Confissões de Um Director de jornal”.
Um ministro irreverente
Com Marcelo no “Expresso” a
queimar o governo, Balsemão achou que se o chamasse para perto de si os
danos seriam menores. Enganou-se. O analista político, mesmo dentro do
governo da AD, primeiro como secretário de Estado da Presidência do
Conselho de Ministros e depois como ministro dos Assuntos Parlamentares,
não deixou de conspirar e, pior que isso, de tornar pública a sua
desilusão com tudo o que estava a acontecer. Nas entrevistas, o ministro
dos Assuntos Parlamentares admitia que a AD já tinha cometido “erros
graves”, apelava a uma remodelação em público e ameaçava bater com a
porta.
Demitiu-se, mas combinou com o primeiro-ministro guardar segredo até
às autárquicas para não lançar a bomba à porta das eleições.
“Apresentou a demissão quatro dias antes das autárquicas, com a
promessa de nada revelar até às eleições, mas no próprio dia ou no dia
seguinte a notícia estava no ‘Expresso’”, conta Balsemão, na biografia
de Vítor Matos do comentador político. “O episódio marca o ponto final
numa amizade de dez anos”, relata o jornalista.
Marcelo acha um exagero a reacção do ex-primeiro-ministro. “Ele nunca me
explicou objectivamente o que eu fiz. Nunca consegui perceber. Ainda
hoje, quando Balsemão fala (sobre as traições), acho que é uma
construção que ele fez”, diz Marcelo, na biografia da autoria do
jornalista Vítor Matos.
Balsemão, nem no “Expresso” nem no governo demitiu Marcelo, mas
também nunca lhe perdoou. Nem os episódios mais sérios, nem os mais
caricatos, como a história do lélé da cuca. “Uma pessoa tão inteligente
não se pode salvar à conta de infantilidade. Penso que para tudo há
limites”, argumenta o dono da Impresa, que já mostrou estar disposto a
travar a candidatura de Marcelo. A última oportunidade do comentador
mais famoso do país de vir a ter um papel relevante na política
portuguesa.
* Só não é uma história de faca e alguidar porque Pinto Balsemão é um senhor.
Sempre achámos Rebelo de Sousa uma intelegentíssima preversidade, nunca gostámos dele e escutamo-lo na TVI para desconfiar de tudo o que diz, em situação oposta está o crédito e o respeito que, por exemplo, atribuimos a Medina Carreira.
Rebelo de Sousa é um erro de casting e ninguém vê!
Rebelo de Sousa é um erro de casting e ninguém vê!
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