08/05/2015

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HOJE NO
 "A BOLA"

Solange Carvalhas na Bélgica às
 turras com o holandês e em busca
 duma pastelaria

Jogar fora de Portugal era já uma ambição de longa data de Solange Carvalhas. O que não espanta, a avaliar pelo palmarés da jovem avançada, de 23 anos, no futebol luso: seis campeonatos nacionais e cinco Taças de Portugal, em seis épocas ao serviço do 1.ª Dezembro. No ano passado, esteve muito perto de se sagrar campeã pelo A-dos-Francos, mas o título acabou por fugir para Ourém.
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Foi, no entanto, a ida do pai para a Bélgica que acabou por impulsionar a primeira aventura da jogadora no estrangeiro. «Era algo que já tinha em mente há algum tempo. No entanto, há dois anos, o meu pai veio trabalhar para a Bélgica e foi então que surgiu a oportunidade», conta a A BOLA.

Em julho do ano passado, foi chamada a fazer testes em três clubes belgas – Anderlecht, Brugge e Gent – e a verdade é que nem precisou de rumar aos dois últimos. Ficou-se mesmo pelo emblema de Bruxelas, atualmente na oitava posição do campeonato. Deixou para trás familia e amigos, passando a viver com o pai em Zelzate, localidade situada na zona oriental da Flandres. Todos os dias percorre cerca de 140 quilómetros entre o local de residência e a capital, onde se treina e joga.

Tão perto e tão longe de Rolando

Quase um ano após a mudança para a Bélgica, Solange revela ter ficado bastante surpreendida, desde já, com as condições com que se deparou no Anderlecht. Apesar de o campeonato belga não ser, ainda, um dos mais competitivos a nível mundial, as diferenças face à realidade do futebol feminino em Portugal, reconhece a avançada, estão à vista.

«Fiquei espantada com o que encontrei, não tanto ao nível da qualidade das jogadoras, porque em Portugal há muito boas atletas, mas antes na maneira como se trabalha. Antes de mais, todos os clubes grandes daqui têm equipa feminina, a começar nas camadas jovens. E depois é tudo mais organizado, as condições de treino e de competição também são melhores, desde os equipamentos a campos de treinos. Aqui temos tudo», explica a avançada, que soma cinco golos em 27 jogos realizados esta época.

Solange treina-se diariamente muito perto do compatriota Rolando, cedido a título de empréstimo pelo FC Porto, e de Steven Defour, também ele conhecido dos portugueses após a passagem pelos dragões. A jogadora, contudo, ainda não chegou a trocar dois dedos de conversa com o defesa-central. «Na verdade, eles treinam-se a poucos metros de nós mas nunca surgiu a oportunidade…», lamenta.

Falar holandês na Bélgica

A viver em pleno coração da Europa, Solange reconhece que a estada na Bélgica já lhe trouxe algumas regalias, nomeadamente a possibilidade de conhecer outros países e culturas. «Uma das vantagens de viver aqui é o facto de estar no centro de tudo. Já tive oportunidade de visitar países como a Holanda, França, Alemanha, Suíça e Inglaterra», revela. Já dentro da Bélgica, deixou-se conquistar pelas cidades de Gent e Bruges: «são parte importante da história da Bélgica e são lindíssimas.»

Fora dos relvados, de resto, o mais desafiante foi mesmo a adaptação ao frio constante - «é o que menos gosto» - e à língua… holandesa. «Aqui fala-se alemão, francês e holandês, o que torna tudo um pouco confuso, mas é um país muito organizado nesse aspecto. Vivo numa zona onde se fala maioritariamente holandês, que é uma língua muito difícil, mas tenho tido aulas durante a semana. Até para depois poder terminar o meu curso aqui», conta a internacional sub-19 lusa, que teve de deixar o Mestrado em Desporto em stand-by para abraçar a primeira aventura no estrangeiro.

No país das waffles, frites, moules, e de mais de 1500 variedades de cerveja, Solange procura manter-se fiel à gastronomia e hábitos alimentares portugueses, mas as saudades de entrar numa pastelaria já apertam.

«A comida aqui também é boa mas muito diferente da portuguesa. Os belgas só comem uma refeição quente durante todo o dia, que é à noite, o que acho muito estranho. Sinto falta de ir a uma pastelaria tomar o pequeno almoço ou lanchar, é algo que não existe aqui. De qualquer forma, quando estou em casa, em Zelzate, é como se estivesse em Portugal. Tanto eu como o meu pai comemos coisas portuguesas, falamos português, vemos televisão portuguesa...», explica.

O sonho da Bundesliga

Apesar das saudades, regressar a Portugal não está nos objetivos de Solange, que pretende continuar a crescer enquanto jogadora, numa liga estrangeira mais competitiva. «Sinto muita falta do meu país mas não penso voltar, só quando estiver de férias. Gostava de terminar os meus estudos aqui, mas agora também quero evoluir mais no futebol. Gostava de um dia vir a jogar no campeonato alemão, considero-o um dos melhores, senão mesmo o melhor!», exulta a avançada, reconhecendo que ainda há muito a fazer ao nível do futebol feminino luso.

«Voltar, neste momento, seria dar um passo atrás. Embora já se tenha feito muitos progressos nestes últimos anos, ainda há muito trabalho a fazer, que vai demorar algum tempo até dar frutos. Mas acredito que Portugal está no bom caminho», defende.

* Que seja feliz pessoal e desportivamente!


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