A armadilha do trabalho
a tempo parcial
A frase do ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social –
publicada aqui no i no passado dia 25/03 – não esconde uma orientação
conservadora: “A nossa preocupação é garantir que os jovens pais e,
acima de tudo, as jovens mães possam, durante mais algum tempo, quando
acaba o seu período de licença de maternidade, acompanhar os seus
filhos.” E prossegue com a promessa de canalizar fundos “nacionais e
comunitários” para o incentivo ao trabalho a tempo parcial (TTP),
garantindo o financiamento de parte do salário e a não penalização em
termos de antiguidade.
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Tenho, porém, bem presente que o TTP está frequentemente associado à
precariedade laboral, que as pessoas tendem a auferir salários baixos, a
ter menos oportunidades de formação e de progressão na carreira
profissional. Trata--se, ainda, de uma modalidade de trabalho fortemente
feminizada, dado que não é isenta (como a citação bem evidencia) das
tradicionais ideologias de género. Por conseguinte, o TTP é hoje, na
Europa, um dos mais marcantes vectores de segregação sexual no mercado
de trabalho. Portugal dispensava-o bem... A frase proferida por Mota
Soares é bem ilustrativa da representação em torno do papel acessório
dos homens na vida familiar e do papel secundário das mulheres na esfera
profissional. Se a redução generalizada do tempo de trabalho poderia
ser um sinal de progresso e contribuir para uma melhor articulação
trabalho-família, já a promoção do tempo parcial representa uma
armadilha para muitas mulheres, não resolve o problema da natalidade e
agrava as assimetrias de género.
Professora no Instituto Superior de Economia e Gestão – U. Lisboa
IN "i"
15/04/15
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