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Morreu Tolentino de Nóbrega, jornalista
de um "heroísmo quase quixotesco"
Foi jornalista na Madeira 40 anos, quase tantos como aqueles que Alberto João Jardim esteve no poder. Viu-o cair, mas já não como jornalista
.
Tolentino de Nóbrega morreu na madrugada desta terça-feira, vítima de
cancro, aos 62 anos. Morreu “o jornalista sem medo”, como escreve o
“Público”, jornal para o qual trabalhou como correspondente na Madeira
desde a fundação.
O funeral realiza -se quarta-feira às 15 horas, em Machico, com uma missa às 13h30 na Igreja Velha de São Martinho, no Funchal.
Tolentino, madeirense, foi jornalista durante 40 anos, quase tantos
como aqueles que Alberto João Jardim esteve no poder na Madeira. Mas ao
fim de todos esses anos, a doença já não o deixou acompanhar como
jornalista as primeiras eleições para o governo regional a que Jardim
não se candidatou.
Vicente Jorge Silva, fundador e director do “Público” até 1996,
lembra, em declarações a esse jornal, que Tolentino era portador de um
“heroísmo quase quixotesco” numa ilha em que quase todos se curvavam
perante um “ditadorzeco”. Era “um exemplo absolutamente admirável de
resistência ao regime para-ditatorial que existiu durante 40 anos na
Madeira”, sublinhou.
No “Expresso”, o jornalista José Pedro Castanheira escreveu que
“Portugal perdeu hoje um dos seus melhores jornalistas”. Tolentino de
Nóbrega, prossegue, era “exemplar na coragem, na independência, na
credibilidade, numa terra em que provou que era possível ser Jornalista
com letra grande”.
“Como jornalista, ele presenciou tudo: o 25 de Abril, o início da
autonomia, toda a história recente da Madeira”, disse ao mesmo jornal
Lília Bernardes, colega e amiga de Tolentino de Nóbrega e a jornalista
que fez para o “Público” a cobertura destas eleições regionais, que a
doença já não o deixou acompanhar. “Não tinha medo de denunciar nada”,
sublinha a jornalista para quem “sem Tolentino de Nóbrega o jornalismo
não faz sentido na Madeira”.
Em 2006, o jornalista foi condecorado por Jorge Sampaio, então
Presidente da República, com o grau de comendador da Ordem do Infanta D.
Henrique.
Anos antes, em 1998, tinha recebido o Prémio Gazeta, o mais
reconhecido prémio de jornalismo em Portugal. Numa entrevista que deu ao
“Record” por essa ocasião, Tolentino disse que não era crítico de
Alberto João Jardim mas de “todas as formas de autoritarismo e de todas
as formas de governo que desrespeitem as liberdades”.
“Sem imprensa livre não há democracia”, disse na entrevista que o
“Público” agora recupera. “Se há, numa região de Portugal, pressões e
coacções contra jornalistas, restrições ao acesso às fontes de
informação, não há democracia plena, há défice democrático.”
* Mais um bom português que parte, nem um merdoso dum político ou dum banqueiro bate a bota!
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