Sacudir a água
do pacote
No seguimento das
investigações ao passado do contribuinte Pedro Passos Coelho rebenta a
bolha e o País fica com o menino ao colo. Numa malograda acção de
formação de estagiários da AT avisam-se os formandos (em tom de ameaça
segundo alguns presentes) que é necessário cautela nos acessos porque
ele há contribuintes e "contribuintes". Pacote ou lista a informação
fugiu e deu início ao já habitual dize tu direi eu; e consequente chutar
de responsabilidades e sacudir águas do capote, ou dos capotes; que
tanto tem credibilizado o nosso Executivo e os partidos que o compõem. A
imprensa inunda-se de notícias, de opiniões, de desmentidos, de
desculpas, de exigências de demissão, rolam umas cabeças, empossam-se
outras. É preciso mudar para que tudo fique igual.
Que se
instalou em Portugal a prática de haver dois pesos e duas medidas,
cidadãos de primeira e de segunda, uns a quem tudo é perdoado e outros a
quem só se exigem sacrifícios e que são expoliados dos seus direitos
mais básicos e fundamentais já não é novidade, nem será assim de
surpreender a existência de listas VIP, de reuniões de bastidores, de
práticas nebulosas e opacas nos gabinetes na gestão dos dinheiros
públicos e dos destinos do País. Grave é a estratégia de instalar no
inconsciente colectivo de um povo a ideia de que nada há a fazer porque
"eles" são os senhores do poder e legislam e agem de forma a permitir
todas as falcatruas, as suas e as dos amigos. Grave é governar um País a
instalar o medo, medo que toma conta das pessoas e é transversal a
idades e estatutos sociais.
Medo de ser perseguido no emprego,
de ser despedido, medo de ficar sem a casa, sem dinheiro para ir
trabalhar, sem o almoço, medo de não ter futuro. Um medo que mina e
conduz à apatia e a ausência de esperança. E não adianta Passos Coelho,
depois do seu Governo ter sido o executante das políticas europeias que
asfixiaram o País, vir dizer que a crise passou e que os jovens agora
podem voltar ao ensino superior e que façam favor de voltar os
emigrantes que ele mandou embora porque agora até já há uns pacotes de
apoio aos que decidirem voltar e investir aqui; porque a esperança não
se constrói com hipocrisias e arbitrariedades, a esperança constrói-se
com autenticidade e coerência.
ACTRIZ
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
26/03/15
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