28/03/2015

RITA LELLO

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Sacudir a água
 do pacote 

No seguimento das investigações ao passado do contribuinte Pedro Passos Coelho rebenta a bolha e o País fica com o menino ao colo. Numa malograda acção de formação de estagiários da AT avisam-se os formandos (em tom de ameaça segundo alguns presentes) que é necessário cautela nos acessos porque ele há contribuintes e "contribuintes". Pacote ou lista a informação fugiu e deu início ao já habitual dize tu direi eu; e consequente chutar de responsabilidades e sacudir águas do capote, ou dos capotes; que tanto tem credibilizado o nosso Executivo e os partidos que o compõem. A imprensa inunda-se de notícias, de opiniões, de desmentidos, de desculpas, de exigências de demissão, rolam umas cabeças, empossam-se outras. É preciso mudar para que tudo fique igual.

Que se instalou em Portugal a prática de haver dois pesos e duas medidas, cidadãos de primeira e de segunda, uns a quem tudo é perdoado e outros a quem só se exigem sacrifícios e que são expoliados dos seus direitos mais básicos e fundamentais já não é novidade, nem será assim de surpreender a existência de listas VIP, de reuniões de bastidores, de práticas nebulosas e opacas nos gabinetes na gestão dos dinheiros públicos e dos destinos do País. Grave é a estratégia de instalar no inconsciente colectivo de um povo a ideia de que nada há a fazer porque "eles" são os senhores do poder e legislam e agem de forma a permitir todas as falcatruas, as suas e as dos amigos. Grave é governar um País a instalar o medo, medo que toma conta das pessoas e é transversal a idades e estatutos sociais.

Medo de ser perseguido no emprego, de ser despedido, medo de ficar sem a casa, sem dinheiro para ir trabalhar, sem o almoço, medo de não ter futuro. Um medo que mina e conduz à apatia e a ausência de esperança. E não adianta Passos Coelho, depois do seu Governo ter sido o executante das políticas europeias que asfixiaram o País, vir dizer que a crise passou e que os jovens agora podem voltar ao ensino superior e que façam favor de voltar os emigrantes que ele mandou embora porque agora até já há uns pacotes de apoio aos que decidirem voltar e investir aqui; porque a esperança não se constrói com hipocrisias e arbitrariedades, a esperança constrói-se com autenticidade e coerência.

ACTRIZ

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
26/03/15

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