Lisboa com menos carros
e mais poluição
Nunca as questões ambientais preocuparam tanto os cidadãos, conscientes
de que se trata de matéria de indiscutível interesse público. Ninguém
ignora que o ambiente permite preservar a saúde, o bem-estar e a
qualidade de vida de todos nós. Estamos, portanto, perante um tema muito
valorizado pela opinião pública contemporânea e que nenhum político
consciente descura nos seus discursos, sobretudo em época de campanha
eleitoral. Mas não podemos medir as preocupações ambientais dos
políticos pelo valor facial dos seus discursos, sempre repletos de
proclamações aparentemente bem-intencionadas. Não é com as palavras que
devemos confrontá-los: é com os gestos concretos que vão assumindo ao
longo dos mandatos.
Vem isto a propósito dos elevadíssimos índices de poluição que continuam
a ser registados em Lisboa, facto que não parece perturbar o sono ao
ainda presidente da câmara da capital nos intervalos das suas digressões
pelo País enquanto secretário-geral do Partido Socialista.
Ao
candidatar-se pela primeira vez, em 2007, António Costa prometeu aos
lisboetas uma cidade mais limpa e amiga do ambiente. Infelizmente, neste
caso, existe uma distância enorme entre as flores da retórica e o peso
inapelável da realidade. Essa promessa ficou por cumprir, como aliás
aconteceu com várias outras.
Nada melhor para avaliar as oscilações ambientais em Lisboa do que a
Avenida da Liberdade. E os piores receios dos lisboetas confirmam-se
nesta matéria: os valores do monóxido de carbono agravaram-se na mais
emblemática avenida da capital, mesmo com a invenção da dupla rotunda,
como confirmam os dados da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional de Lisboa e Vale do Tejo, entidade responsável pela
monitorização da qualidade do ar na capital.
Este agravamento ocorreu, note-se, apesar de no mesmo período se ter
registado uma redução de 30% do tráfego automóvel na cidade – o
equivalente a menos de 120 mil veículos nas ruas alfacinhas – e de uma
parte do trânsito tradicional da Avenida da Liberdade ter sido desviado
para outras artérias, como a Rua da Escola Politécnica e a Avenida
Almirante Reis.
António Costa não perceber que menos carros não representam menos
poluição, mas que a velocidade medida de circulação é fator essencial
nessa redução. Os lisboetas lá vão continuando à espera que o seu
presidente olhe para eles e resolva as questões importantes como do
ambiente.
IN "OJE"
06/03/15
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