O museu?...
mais visitado na Madeira
Portugal vive, cada vez mais, um retrocesso cultural acentuado nas localidades mais periféricas.
A
educação, através da escolaridade obrigatória, deveria contribuir para
motivação e valorização da criatividade, o que não se verifica,
optando-se pelo seguidismo.
No meio político não é exceção e a verdadeira aposta na cultura e nos
seus artistas é inexistente pois dá-se a preferência à obediência cega
em prol de pessoas criticas valorizando desta forma o parecer em
detrimento do ser. Estes valores interferem em muito com a criação
artística, pois ao longo da história da humanidade, esta confronta,
denuncia e apazigua atos menos próprios imputados às camadas sociais
menos protegidas.
Na cidade do Porto, mais concretamente em Serralves, temos um bom
exemplo de espaço cultural vivo e dinâmico que soube encaminhar a sua
evolução ao longo dos tempos. O edifício de raiz ao estilo Art Déco do
arquiteto José Marques da Silva e o edifício contemporâneo do arquiteto
Siza Vieira complementam a excelente atividade desta importante
instituição cultural do país.
Outro exemplo é o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em
Bragança que foi projetado pelo prestigiado arquiteto português Eduardo
Souto de Moura, num plano que incidiu sobre a recuperação e ampliação de
um antigo edifício solarengo do século XVII, apresenta uma grande
dinamização sem necessitar de utilizar o nome do arquiteto para atrair o
seu público.
Na Madeira, ao invés destes dois grandes arquitetos nacionais que
foram galardoados pelo prémio mais importante da arquitetura mundial, o
Pritzker, que representa o “Nobel da arquitetura”, o Centro das Artes
Casa da Mudas tem vindo a ser valorizado pela embalagem em detrimento
do seu conteúdo.
Numa região como a nossa onde há tantos espaços culturais atendendo à
área geográfica e à sua densidade populacional, o mais grave é
constatar que os mesmos encontram-se sem atividade e os poucos que ainda
apresentam alguma programação encontram-se em péssimo funcionamento
resultando num fraco número de visitantes passando as exposições
temporárias a permanentes, contrariando desta forma as caraterísticas
arquitectónicas para o qual estes espaços foram projetados.
Mais preocupante é verificar em alguns casos que as portas só são
abertas aos fins de semana tudo isto porque o que importa é parecer por
forma a justificar os dinheiros públicos e europeus investidos em prol
da cultura enganando e usufruindo, conscientemente, o cidadão mais
desatento.
Fico perplexa quando as obras de arte de um dos maiores vultos da
cultura portuguesa, o madeirense António Aragão, não tenham o seu
próprio espaço e que recentemente estejam sujeitas a leilão quando
existem tantos espaços públicos ao abandono e muito dinheiro
desperdiçado nesta área.
A falta de união entre os artistas e os agentes culturais no meio
regional é sem dúvida causadora de tanta desvalorização do trabalho
artístico, o que incrementa e fortalece os abusos do poder perante
algumas pessoas ligadas ao mundo das artes.
É impressionante a pedincha da qual os artistas são alvo ignorando-se
que os criadores necessitam de investir nas suas condições de trabalho,
nos materiais e no tempo de produção das suas obras. Julga-se que basta
ter talento, quando a excelência de um trabalho artístico resulta de
muita dedicação e conhecimento.
Esta mesma situação verifica-se na gestão dos espaços culturais em
que o excessivo compadrio leve a que haja tantas pessoas sem formação
adequada no mundo das artes a organizarem eventos culturais sem
critérios de seleção e com qualidade duvidosa. Ajudam sim para a
constante indefinição do significado da arte na nossa sociedade.
Necessitamos urgentemente de pessoas competentes e com formação
adequada na área cultural para usufruirmos de espaços dinâmicos e com um
excelente programa cultural acompanhado necessariamente de um bom
marketing.
Não é de admirar que o recente “museu” do Cristiano Ronaldo tenha já
ultrapassado os dez mil visitantes durante este último mês de fevereiro.
Um excelente exemplo de como o mais importante é o conteúdo e não a embalagem!
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
23/02/15
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