28/02/2015

PATRÍCIA SUMARES

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O museu?... 
mais visitado na Madeira

Portugal vive, cada vez mais, um retrocesso cultural acentuado nas localidades mais periféricas.

A educação, através da escolaridade obrigatória, deveria contribuir para motivação e valorização da criatividade, o que não se verifica, optando-se pelo seguidismo.

No meio político não é exceção e a verdadeira aposta na cultura e nos seus artistas é inexistente pois dá-se a preferência à obediência cega em prol de pessoas criticas valorizando desta forma o parecer em detrimento do ser. Estes valores interferem em muito com a criação artística, pois ao longo da história da humanidade, esta confronta, denuncia e apazigua atos menos próprios imputados às camadas sociais menos protegidas.

Na cidade do Porto, mais concretamente em Serralves, temos um bom exemplo de espaço cultural vivo e dinâmico que soube encaminhar a sua evolução ao longo dos tempos. O edifício de raiz ao estilo Art Déco do arquiteto José Marques da Silva e o edifício contemporâneo do arquiteto Siza Vieira complementam a excelente atividade desta importante instituição cultural do país.

Outro exemplo é o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais em Bragança que foi projetado pelo prestigiado arquiteto português Eduardo Souto de Moura, num plano que incidiu sobre a recuperação e ampliação de um antigo edifício solarengo do século XVII, apresenta uma grande dinamização sem necessitar de utilizar o nome do arquiteto para atrair o seu público.

Na Madeira, ao invés destes dois grandes arquitetos nacionais que foram galardoados pelo prémio mais importante da arquitetura mundial, o Pritzker, que representa o “Nobel da arquitetura”, o Centro das Artes Casa da Mudas tem vindo a ser valorizado pela embalagem em detrimento do seu conteúdo.

Numa região como a nossa onde há tantos espaços culturais atendendo à área geográfica e à sua densidade populacional, o mais grave é constatar que os mesmos encontram-se sem atividade e os poucos que ainda apresentam alguma programação encontram-se em péssimo funcionamento resultando num fraco número de visitantes passando as exposições temporárias a permanentes, contrariando desta forma as caraterísticas arquitectónicas para o qual estes espaços foram projetados.
Mais preocupante é verificar em alguns casos que as portas só são abertas aos fins de semana tudo isto porque o que importa é parecer por forma a justificar os dinheiros públicos e europeus investidos em prol da cultura enganando e usufruindo, conscientemente, o cidadão mais desatento.

Fico perplexa quando as obras de arte de um dos maiores vultos da cultura portuguesa, o madeirense António Aragão, não tenham o seu próprio espaço e que recentemente estejam sujeitas a leilão quando existem tantos espaços públicos ao abandono e muito dinheiro desperdiçado nesta área.
A falta de união entre os artistas e os agentes culturais no meio regional é sem dúvida causadora de tanta desvalorização do trabalho artístico, o que incrementa e fortalece os abusos do poder perante algumas pessoas ligadas ao mundo das artes.

É impressionante a pedincha da qual os artistas são alvo ignorando-se que os criadores necessitam de investir nas suas condições de trabalho, nos materiais e no tempo de produção das suas obras. Julga-se que basta ter talento, quando a excelência de um trabalho artístico resulta de muita dedicação e conhecimento.

Esta mesma situação verifica-se na gestão dos espaços culturais em que o excessivo compadrio leve a que haja tantas pessoas sem formação adequada no mundo das artes a organizarem eventos culturais sem critérios de seleção e com qualidade duvidosa. Ajudam sim para a constante indefinição do significado da arte na nossa sociedade.

Necessitamos urgentemente de pessoas competentes e com formação adequada na área cultural para usufruirmos de espaços dinâmicos e com um excelente programa cultural acompanhado necessariamente de um bom marketing.

Não é de admirar que o recente “museu” do Cristiano Ronaldo tenha já ultrapassado os dez mil visitantes durante este último mês de fevereiro.
Um excelente exemplo de como o mais importante é o conteúdo e não a embalagem!

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
23/02/15

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