Perplexidade e desapontamento
A situação na Terceira é grave sob o ponto de vista económico
e social, no presente e sobretudo no futuro próximo. E a gravidade da
situação não afeta apenas a ilha Terceira mas também as outras oito, os
Açores no seu todo, não só porque nos temos sempre de pensar como um
povo em diversos pedaços de terra constituintes de um mesmo todo, mas
também porque as dificuldades de uma ilha têm impacto efetivo na
sustentabilidade global das demais.
Os números do impacto da saída da maior parte dos militares
norte-americanos da Terceira têm sido profusamente divulgados e falam
por si, não valendo a pena ensaiar qualquer interpretação a gosto.
A realidade é como é e importa agora virarmo-nos para o futuro. E é
em relação à estratégia para o futuro que surge a minha perplexidade e
desapontamento. Perplexidade porque, se a situação é grave ela não é
inesperada. Bem pelo contrário: era francamente previsível por ter sido
há muito anunciada pelos norte-americanos e por ter sido sempre credível
dada a necessidade real dos Estados Unidos reduzirem a sua despesa. Tal
não significa que se devesse “baixar os braços” ou que as várias
iniciativas negociais para minimizar e protelar os previsíveis impactos
não tenham sido meritórias. Mas sem dúvida que obriga a que um plano
estratégico de sustentabilidade económica e social para a Terceira
viesse a ser solidamente construído nestes últimos anos. E é aqui que
surge o meu desapontamento.
Hoje, perante o facto praticamente consumado da saída de um forte
contingente de militares norte-americanos da Terceira, as principais
medidas (das 170)que se conhecem dependem de outros, dependem do
financiamento dos Estados Unidos que abandonam a Terceira: e quer-se
renegociar acordos e negociar compensações. É um caminho a seguir? Sim,
sem dúvida. Mas, quais são as medidas que dependem só de nós, que não
precisem de ser negociadas, que podem ser implementadas já?
E o meu desapontamento aprofunda-se quando vejo que, num período em
que impera a necessidade de se falar a uma só voz, proliferam os
discursos díspares e por vezes mesmo contraditórios, centrados mais em
atribuir culpas a outros do que em assumir responsabilidades próprias e
construir consensos entre todos.
Desapontamento ainda quando assim se compromete a eficácia da
política de bastidores trocada pela política dos holofotes que nos
afasta da realidade e das soluções que se procuram, criando ilusões para
auto benefício.
Esperemos pois que comecemos, governo regional e governo da
republica, bem como os demais atores principais do problemas e das
soluções, a colaborar em sintonia, discreta e eficazmente, não deixando
que as legítimas expectativas de compensações permitam adiar o que possa
depender só de nós, a bem da Terceira, a bem dos Açores.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
02/02/15
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