02/02/2015

MARIA DO CÉU PATRÃO NEVES

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Perplexidade e desapontamento

A situação na Terceira é grave sob o ponto de vista económico e social, no presente e sobretudo no futuro próximo. E a gravidade da situação não afeta apenas a ilha Terceira mas também as outras oito, os Açores no seu todo, não só porque nos temos sempre de pensar como um povo em diversos pedaços de terra constituintes de um mesmo todo, mas também porque as dificuldades de uma ilha têm impacto efetivo na sustentabilidade global das demais.

Os números do impacto da saída da maior parte dos militares norte-americanos da Terceira têm sido profusamente divulgados e falam por si, não valendo a pena ensaiar qualquer interpretação a gosto.
A realidade é como é e importa agora virarmo-nos para o futuro. E é em relação à estratégia para o futuro que surge a minha perplexidade e desapontamento. Perplexidade porque, se a situação é grave ela não é inesperada. Bem pelo contrário: era francamente previsível por ter sido há muito anunciada pelos norte-americanos e por ter sido sempre credível dada a necessidade real dos Estados Unidos reduzirem a sua despesa. Tal não significa que se devesse “baixar os braços” ou que as várias iniciativas negociais para minimizar e protelar os previsíveis impactos não tenham sido meritórias. Mas sem dúvida que obriga a que um plano estratégico de sustentabilidade económica e social para a Terceira viesse a ser solidamente construído nestes últimos anos. E é aqui que surge o meu desapontamento.

Hoje, perante o facto praticamente consumado da saída de um forte contingente de militares norte-americanos da Terceira, as principais medidas (das 170)que se conhecem dependem de outros, dependem do financiamento dos Estados Unidos que abandonam a Terceira: e quer-se renegociar acordos e negociar compensações. É um caminho a seguir? Sim, sem dúvida. Mas, quais são as medidas que dependem só de nós, que não precisem de ser negociadas, que podem ser implementadas já?

E o meu desapontamento aprofunda-se quando vejo que, num período em que impera a necessidade de se falar a uma só voz, proliferam os discursos díspares e por vezes mesmo contraditórios, centrados mais em atribuir culpas a outros do que em assumir responsabilidades próprias e construir consensos entre todos.
Desapontamento ainda quando assim se compromete a eficácia da política de bastidores trocada pela política dos holofotes que nos afasta da realidade e das soluções que se procuram, criando ilusões para auto benefício.

Esperemos pois que comecemos, governo regional e governo da republica, bem como os demais atores principais do problemas e das soluções, a colaborar em sintonia, discreta e eficazmente, não deixando que as legítimas expectativas de compensações permitam adiar o que possa depender só de nós, a bem da Terceira, a bem dos Açores.

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
02/02/15


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