ESTA SEMANA N0
"SOL"
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Fisco conhece ao pormenor
contas na Suíça
A administração fiscal sabe quem são os portugueses que têm hoje conta
bancária aberta na Suíça e qual o montante das poupanças. «Em resultado
do Acordo de Troca de Informações Fiscais celebrado entre Portugal e a
Suíça em 2012, a Autoridade Tributária tem hoje informações precisas
sobre contas bancárias na Suíça de contribuintes portugueses», afirmou
fonte governamental ao SOL. E o caso Swiss Leaks vai aumentar ainda mais
a pressão das Finanças, que podem solicitar o levantamento do segredo
bancário e a troca de informações.
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Mediante um pedido fundamentado, a Autoridade Tributária acede agora a
informação bancária de contribuintes portugueses, o que permite
despistar quaisquer suspeitas de fraude e evasão fiscal. Esta é a
principal alteração desde a assinatura do acordo bilateral com os
helvéticos. Antes, o segredo bancário suíço só era quebrado perante a
existência de suspeitas de outros crimes, como corrupção ou
branqueamento de capitais.
Mas se no presente os contribuintes com rendimentos de capitais
obtidos no estrangeiro estão a ser vigiados, a identificação da maioria
dos 611 portugueses com contas abertas na filial suíça do HSBC em 2007
permanece ainda uma incógnita. O Fisco «já pediu formalmente ao
Consórcio de Jornalistas que lhe seja enviada a lista, que será cruzada
com elementos que a Autoridade Tributária já dispõe sobre esta matéria»,
afirmou a mesma fonte. Em simultâneo, também o Ministério Público está a
tomar diligências para recolher todos os elementos sobre o assunto.
O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na
sigla em inglês) identificou 611 contas bancárias de cidadãos com
ligações a Portugal que estão potencialmente envolvidos num esquema de
fraude fiscal, no valor de 857 milhões de euros (969 milhões de
dólares). A escassez de informação mais detalhada impede a Autoridade
Tributária de indicar se este volume de poupanças foi entretanto
declarado em Portugal.
Ainda assim, a receita fiscal potencial envolvida tem um peso
limitado nos impostos arrecadados pelo Fisco. Assumindo um cenário em
que os 611 depósitos na Suíça aderiram aos perdões fiscais de 2010 e
2012 para repatriamento de capitais, a cobrança de impostos estaria
entre 42,9 milhões e 64,3 milhões de euros.
Os cálculos consideram as taxas de 5% e de 7,5% aplicadas em 2010 e
2012 sobre o património detido no estrangeiro, nas amnistias fiscais
baptizadas de Regimes Especiais de Regularização Tributária (RERT).
Os portugueses que aderiram aos três perdões fiscais - houve um outro
2005 - declararam 4,6 mil milhões de euros de verbas 'escondidas' na
Suíça - cerca de 76% dos activos totais declarados. Dos 387,5 milhões de
euros arrecadados pelo Estado em impostos nos três RERT, as contas
oriundas da Suíça contribuíram com mais de 301 milhões de euros.
220 clientes com passaporte português
Os contribuintes que aderiram às amnistias ficaram protegidos do crime
de fuga fiscal. No caso Swiss Leaks permanece a dúvida se os titulares
das 611 contas serão ou não suspeitos de fraude fiscal - não é crime ter
um depósito fora do país - e se ainda mantêm a conta.
A investigação internacional ressuscitou a famosa 'Lista Lagarde',
assim baptizada quando, em 2010, a então ministra das Finanças francesa
partilhou informações com os parceiros europeus sobre clientes que
escondiam as suas fortunas no HSBC. Agora, o consórcio de jornalistas
divulgou que mais de 106 mil clientes de 203 países tinham 100 mil
milhões de dólares escondidos e decifrou o esquema utilizado pela filial
suíça para simular a identidade dos seus clientes, facilitando a fuga
ao fisco nos países de origem.
O ICIJ divulgou apenas alguns nomes conhecidos mundialmente (ver
texto ao lado). A lista portuguesa posiciona-se no 45.º lugar do ranking
de países com montante mais elevado. Dos 611 clientes, 220 tinham
passaporte ou nacionalidade portuguesa. Mais de metade das contas dos
portugueses estavam numeradas, o que significa que garantiam o sigilo
quanto ao titular e montante. Este dado revela uma maior preocupação dos
portugueses em esconder o seu património, uma vez que a média mundial
de contas numeradas fixou-se em pouco mais de um terço.
Vinho do Porto no radar
O site Maka Angola, do jornalista e activista Rafael Marques, divulgou o
nome de alguns portugueses que alegadamente constam na lista de
clientes do HSBC. Entre os mais conhecidos, Américo Amorim e a ESAF
desmentiram rapidamente qualquer ligação ao banco.
Até agora, apenas um português confirmou ter tido conta no HSBC:
Pedro Silva Reis, presidente da Real Companhia Velha. No entanto, o
líder da mais antiga e carismática companhia de vinho do Porto rejeita o
cenário de fuga fiscal. «A minha conta [no valor de 7,1 milhões de
euros] era do conhecimento da Autoridade Tributária. Havia comunicação
ao Fisco do valor lá depositado. Não tenho conta na Suíça há mais de
três anos», afirma, em declarações ao SOL.
A Real Companhia Velha pertence à família Silva Reis há mais de 250
anos e o gestor tem dedicado a sua profissional ao negócio familiar.
Pedro Silva Reis foi um dos fundadores da Associação Nacional dos Jovens
Empresários, integrou a direcção da Associação Industrial Portuense e
liderou diversas missões à Europa de Leste. O presidente da Real
Companhia Velha coordenou também projectos da AIP na Ásia.
Ouro e câmbios na baixa lisboeta
Segundo o site Maka Angola, dois irmãos, sócios de uma ourivesaria na
baixa lisboeta, seriam alegadamente titulares de 362 milhões de euros no
HSBC. Não é a primeira vez que a Suíça e a Baixa de Lisboa se cruzam em
suspeitas de evasão fiscal. O principal arguido do processo Monte
Branco é Francisco Canas, conhecido como 'Zé das Medalhas', dono de uma
loja de câmbios na Rua do Ouro. A rede tinha ligações à Akoya, uma
sociedade suíça de gestão de fortunas.
* Se o fisco é conhecedor tem o dever de esclarecer o povo português.
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