HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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Swissleaks:
"O Governo esteve a dormir
durante quatro anos?"
Porque demorou o actual governo quatro anos para pedir a lista com os
portugueses com contas no HSBC, promovendo uma amnistia fiscal pelo
meio? Silêncios do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais motivam
protestos formais dos deputados da oposição.
"Gostava que me explicasse isto bem: porque é que só agora recebemos a lista?" (Pedro Filipe Soares, Bloco de Esquerda)
"Explique-se porque esteve quatro anos e meio para pedir informação"? (Paulo Sá, PCP)
"Responda: este governo que é tão afoito a ir atras dos pequenos
contribuintes, quando se trata dos tubarões, foge"? (Paulo Sá, PCP)
"Se era assim tão simples, porque é que não pedimos a lista há mais
tempo, e esperaram para lançar amnistias fiscais"? (Pedro Filipe Soares,
Bloco de Esquerda)
.
"Fala de tudo e mais alguma coisa, disserta sobre tudo, mas não
responde ás questões: queremos saber como é que este governo não
recolheu esta informação antes". (Paulo Sá, PCP).
As perguntas foram formuladas insistentemente, de varias maneiras e
feitios, e o objectivo era invariavelmente o mesmo: tentar que Paulo
Núncio, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, explicasse porque é
que só em meados de Fevereiro de 2015 resolveu pedir a lista Lagarde às
autoridades francesas, esperando que decorressem quatros anos do seu
mandato para o fazer, com uma renegociação do acordo de troca de
informação com os helvéticos e uma amnistia fiscal pelo meio. Mas as
insistências foram em vão.
No dia em que estava agendada a discussão sobre as repercussões do
Swissleaks em Portugal, Paulo Núncio chegou à Assembleia da República
com uma novidade fresquinha: "Gostaria de anunciar em primeira mão que,
depois de ter sido efectuado o pedido às autoridades fiscais francesas, e
depois de intensas diligencias, a Autoridade Tributária recebeu hoje a
lista dos contribuintes alegadamente com contas no HSBC".
O anúncio foi feito logo no discurso de abertura preparado pelo
secretário de Estado, e, sobre o assunto, pouco mais acrescentou em
concreto.
Paulo Núncio confirmou que, quando chegou ao Governo, em 2011, não recebeu do anterior Executivo qualquer indicação sobre este assunto. Diz que as listas com nomes de contribuintes não
são principal instrumento de combate à fraude fiscal internacional de
que a Autoridade Tributária dispõe. E garante que, gora que o fisco tem
na sua posse informações sobre os portugueses que em 2006/2007 teriam
conta no HSBC (não se sabe se declaradas ou clandestinas), vai apurar
factos.
Mas deixa por responder insistentes questões sobre o facto de só
agora ter despertado para o assunto e sobre a probabilidade de, ao não o
ter feito antes, ter deixado escapar os faltosos através da amnistia
fiscal entretanto promovida em 2013.
Amnistias fiscais foram coincidência?
Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, que, a par com o PCP,
requereu o agendamento desta sessão, foi um dos deputados que se referiu
à coincidência de datas. "Porque é que, sabendo que havia pessoas que
usavam a Suíça para branqueamento de capitais, fuga ao fisco, não
pediram a lista antes de fazerem o perdão fiscal?", questionou o
deputado.
Desde 2010 que a lista do HSBC tem feito verter muita tinta Europa
fora, com sucessões de escândalos á escala nacional., pelo que o assunto
nunca esteve adormecido. Para o deputado do Bloco de Esquerda, é, por
isso, "difícil não acreditar que o perdão fiscal não serviu para
regularizar estes dinheiros". Mais, "negociaram o acordo de troca de
informações e depois, para não haver problemas, avançam com um perdão
fiscal para não haver problemas", apontou.
O deputado quis saber se Paulo Núncio garante que, da lista que
recebeu, "não há ninguém a quem o governo tenha perdoado a fuga fiscal"
no âmbito da amnistia? E se encontrar um desses que tenha sido
indevidamente perdoado pelo governo demite-se? Assume aqui esse
compromisso?", questionou.
Paulo Núncio responderia que os processos de regularização tributária
permitiram ao Estado português encaixar milhões de euros de impostos, e
voltaria a repetir que "a acção da Administração Fiscal portuguesa
relativamente ao combate à fraude e evasão fiscal internacional não
depende nem nunca dependeu de lista". O secretário de Estado lembrou os
acordos de trocas de informação assinados com territórios como Hong
Kong, a Suíça, Singapura e Luxemburgo entre outros.
E revelou que, na sequência do novo acordo de troca de informações
com os helvéticos a Autoridade Tributária já pediu informações sobre 700
contribuintes que detêm mais de mil contas na Suíça.
Contudo, quando questionado pelo deputado Paulo Sá sobre quantas
desses pedidos de informação foram já atendidos pelas autoridades
suíças, o secretário de Estado não respondeu.
A ausência de resposta a esta como a várias outras questões levaram
os deputados apresentar um protesto formal no final do encontro. "A
recusa sistemática do SEAF em responder às perguntas que lhe são
colocadas, são um desrespeito a esta comissão e à Assembleia da
República. Não pode ser!", apontou Paulo Sá.
Contradições no tempo do PS
Antes de Paulo Núncio tinha sido a vez de Sérgio Vasques, o seu
antecessor na pasta, a dar explicações sobre a forma como geriu este
dossiê.
O último secretário de Estado socialista garantiu que, em 2010,
quando o noticiário internacional começou a falar da Lista Lagarde, deu
instruções para que Portugal também a obtivesse.
Essas instruções foram dadas verbalmente ao Director-Geral dos
Impostos, José Azevedo Pereira: "Solicitei ao Director-Geral dos
Impostos que tentasse fazer 'demarches' para a obter. Lembro-me de ter
falado com ele mais do que uma vez" sobre o assunto, disse Sérgio
Vasques, que também confessou que, depois destas ordens não voltou a
acompanhar a situação, uma vez que confiou que o pedido tivesse tido
sequência. Quando alguns meses depois saiu do Governo, em 2011, a lista
não tinha chegado, acrescentou.
Esta garantia não bate certo com as declarações feitas recentemente
pelo antigo director-geral dos Impostos ao Diário Económico, quando
afirmou que a lista "não foi pedida pela Autoridade Tributária nem faria
sentido face à forma como chegou ao conhecimento público a sua
existência", segundo Azevedo Pereira.
* O silêncio do sr. Secretário de Estado é elucidativo, não convinha ao governo ter a lista Lagarde na sua posse.
.
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